FORUM DE DAVOS
O presidente Jair Bolsonaro no palco principal do Fórum Econômico
Mundial: 'alguma coisa deve ser aperfeiçoada' no Mercosul -
22/01/2019 (Arnd Wiegmann/Reuters)
Ao se defrontar com as preocupações com a agenda de sustentabilidade de seu governo vindas da plateia do Fórum Econômico Mundial, o presidente Jair Bolsonaro defendeu nesta terça-feira, 22, em Davos, o casamento do meio ambiente
com o desenvolvimento econômico e alegou que, como 30% do território
brasileiro é composto de florestas, o país “dá o exemplo para o mundo”
nesse tema.
“O meio ambiente tem que estar casado com o
desenvolvimento, nem para um lado, nem para o outro”, afirmou Bolsonaro,
para em seguida repetir que o “agronegócio” ocupa 9% do território
nacional, e a “pecuária”, menos de 20%. “No que pudermos nos aperfeiçoar, nós faremos, e nós pretendemos estar sintonizados na busca da diminuição da emissão de CO2 (gás carbônico) e na preservação do meio ambiente”.
Sua menção à redução das emissões de gases do efeito estufa chegam a
emitir um sinal positivo para seu governo. Em especial, depois da
promessa de campanha de Bolsonaro de retirar o Brasil do Acordo de Paris sobre Mudança Climática e de sua iniciativa de cancelar o compromisso do Brasil de sediar a Conferência de 2019 sobre o tema.
Mas não chegou a convencer totalmente os ambientalistas,
que contestaram as declarações de Bolsonaro sobre o casório entre o
desenvolvimento econômico e a proteção ambiental, segundo o jornal The Guardian.
Jennifer Morgan, diretora executiva do Greenpeace International,
afirmou que a atitude do novo presidente em relação à Amazônia
representa uma grande ameaça ao meio ambiente.
Para ela, dar mais controle ao Ministério da Agricultura em relação à
política de preservação das florestas tropicais é “incrivelmente
preocupante” e pode prejudicar também a população indígena que vive na
Amazônia. Morgan desafiou empresários a levantar essas questões contra
Bolsonaro e a pressioná-lo a “priorizar o bem-estar da floresta acima de
ganhos a curto prazo”.
Nicholas Stern, presidente do Instituto de Pesquisa Grantham
sobre Mudança Climática e Meio Ambiente, também foi enfaticamente
contrário às declarações do presidente: “Bolsonaro foi eleito com base
em um programa para lidar com a violência e a criminalidade, que matam
entre 40 e 50 mil pessoas ao ano. Minha aposta é de que 100 mil morrerão
pela poluição do ar”.
Stern disse ter reforçado a necessidade de proteção das matas brasileiras para o ministro da Economia Paulo Guedes,
em Davos. Apesar do destaque à questão ambiental sempre presente na
agenda do Fórum, o ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Ricardo
Salles, não foi convidado para a comitiva do líder brasileiro em sua
primeira viagem internacional.
Também questionado sobre sua “relação dinâmica” com os parceiros latinos, Bolsonaro voltou a atacar o regime do venezuelano Nicolás Maduro e defendeu a “soberania” dos países da região, como se estivesse ameaçada pelo projeto bolivariano.
Relatou ter conversado com os presidentes da Argentina, Maurício Macri, e do Chile, Sebastián Piñera, sobre sua preocupação de “fazer uma grande América do Sul”. “Não queremos uma América bolivariana, como há pouco no Brasil.”
Também mencionou, de forma decepcionante, o Mercosul.
“Alguma coisa deve ser aperfeiçoada (no bloco). Já conversei com o
presidente da Argentina, Macri. Foi uma boa conversa”, afirmou, sem
apresentar que tipo de aperfeiçoamento pretende fazer no livre-comércio
entre os sócios do Mercosul e na sua união aduaneira.
Bolsonaro usou apenas seis dos dez minutos de que dispunha para seu pronunciamento, esperado especialmente por potenciais
investidores estrangeiros e formadores de opinião do mundo inteiro.
Preferiu destacar sua iniciativa de “resgate de valores” e sobre seu
objetivo de aprofundar laços de amizade e relações comerciais. Mas não
chegou a se aprofundar em nenhuma de suas respostas à plateia.
Seu discurso era cercado de muita expectativa em um Fórum
Econômico Mundial esvaziado, com a presença de apenas três líderes do
G7, grupo que reúne as maiores economias do mundo: o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o premiê italiano, Giuseppe Conte.
Protagonistas do cenário mundial, como o presidente americano Donald Trump, a primeira-ministra britânica, Theresa May, e o presidente francês, Emmanuel Macron, cancelaram suas participações para
lidar com crises econômicas e sociais domésticas. Líderes de potências
emergentes, como o presidente da China, Xi Jinping, e o russo Vladimir
Putin também não compareceram ao encontro de Davos.
(Veja.com.br)
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