quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Em meio a contestação, Maduro assume mandato de mais 6 anos na Venezuela. Após vencer eleições com mais de 50% de abstenção, presidente tem apoio do Exército e Supremo, mas forte oposição da Assembleia e comunidade internacional

O POVO GOSTA DE SOFRER
 
 Maduro mostra seu atestado de “vitória” respondendo a acusações de fraudes nas eleições (Federico Parra/AFP)

Sob críticas e suspeitas internacionais, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, toma posse nesta quinta-feira 10, iniciando novo mandato, com término previsto para 2025. Apesar de contar com o respaldo das Forças Armadas e da Suprema Corte, o líder enfrenta resistência interna da Assembleia Nacional, comandada pela oposição. Ele está no poder desde 2013, como sucessor de Hugo Chávez, que assumiu o governo em 1999 e permaneceu até a morte, em 5 de março de 2013.

A cerimônia de posse ocorre a partir das 12h (horário de Brasília), com a presença prevista de Gleisi Hoffmann, deputada eleita pelo PT, mas sem participação de nenhum membro do governo Bolsonaro. O Brasil, que integra o Grupo de Lima (formado por Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Guiana, Honduras, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lucia e México), considera a reeleição de Maduro ilegítima.

Para o grupo, com exceção do México, o poder deveria ser transmitido para o Parlamento da Venezuela, que, por sua vez, promoveria novas eleições. Nesta semana, o Peru informou que proibirá a entrada de Maduro e integrantes do governo, assim como suas famílias, no território peruano.

Maduro foi reeleito em processo que transcorreu em maio de 2018. Segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), ele obteve 5.823.728 votos, com uma participação de 8.6 milhões dos mais de 20 milhões de eleitores (43% do total) que foram chamados às urnas, o que se traduz em um das porcentagens de participação mais baixa da história venezuelana.

O segundo colocado foi o ex-governador Henri Falcón, que ficou com 1.820.552 votos, seguido pelo ex-pastor evangélico Javier Bertucci (925.042) e Reinaldo Quijada (34.614). Outro tanto ficou com as alianças opositoras Mesa da Unidade Democrática e Frente Ampla, que pediram a abstenção por considerar que o pleito era fraudulento – para eles, a participação na “farsa eleitoral” não chegou a 30%.

Antes mesmo do término da votação, os Estados Unidos denunciaram o que consideraram ausência total de legitimidade na eleição e indicaram que não reconheceriam o resultado do processo eleitoral – o que foi seguido por diversos países.


Queda de 50% do PIB e miséria

A pressão internacional, liderada pelos Estados Unidos e caracterizada por sanções econômicas que agravam ainda mais a delicada situação do país, deve se intensificar ainda mais com o novo mandato. Especialistas acreditam que o cenário apenas se deteriorá mais com a permanência de Maduro.

“Aparentemente Maduro conseguiu controlar as instituições-chave, incluindo o Exército, que é seu principal trunfo. Assim, no curto prazo é difícil imaginar que algo aconteça [para tirá-lo do poder]. Agora que assumiu os preços devem subir de novo e ele deve responder aumentar o salário mínimo, o que fará os preços subirem mais. Vai ficar preso nessa situação”, avaliou Richard Francis, diretor de ratings da agência Fitch à rede americana CNN.

“É uma situação econômica muito difícil, o PIB caiu cerca de 50% desde 2013. Nunca vimos uma queda tão grande fora de uma guerra ou casos como o fim da União Soviética. É um problema enorme”, completa Francis.

A crise na Venezuela se agravou nos últimos anos, provocando uma forte imigração, fome e desemprego na região. Para o público interno, Maduro afirmou que apresentará um conjunto de ações para frear a hiperinflação que atinge o país.

“Vou apresentar o Plano da Pátria diante da Assembleia Nacional Constituinte para o próximo período de seis anos. Vou fazer uma avaliação e apresentar um conjunto de medidas”, afirmou Maduro, acrescentando que sua meta é a estabilidade econômica para o período de 2019-2025.

A Pesquisa sobre Condições de Vida na Venezuela (Encovi), realizada pelas principais universidades do país e divulgada no fim de 2018, revelou que 48% da população vive em situação de pobreza multidimensional, um resultado dois pontos percentuais maior do que o registrado em 2017.

Os número indicaram, ainda, que apenas 29% dos entrevistados afirmaram possuir água regularmente em suas casas. Em 2017, o índice era de 45%.

Quanto à eletricidade, apenas 18% disseram que o serviço nunca é interrompido em suas residências, contra 25% de 2017. Além disso, outros 25% responderam que ficam sem luz diariamente por várias horas.

Cinco chefes de Estado confirmam presença na posse

Os chefes de Estado de cinco países decidiram comparecer à posse de Nicolás Maduro. Os líderes da Bolívia, Evo Morales; Nicarágua, Daniel Ortega; Cuba, Miguel Díaz-Canel; El Salvador, Salvador Sánchez Cerén; e Ossétia do Sul (país não reconhecido pelas Nações Unidas), Anatoly Bibilov; encabeçam a lista de presidentes que acompanham Maduro, ao lado de outros 20 representantes internacionais.

Uma fonte do governo, que pediu anonimato, disse à Agência Efe que são mais de 100 delegações estrangeiras foram convidadas para a cerimônia, mas se negou a dar outros detalhes sobre o assunto.

Até agora, o Ministério das Relações Exteriores venezuelano confirmou a presença do vice-presidente da Turquia, Fuat Oktay; o vice-presidente do Conselho da Federação da Assembleia Federal da Rússia, Ilyas Umakhanov; o ministro da Agricultura e Assuntos Rurais da China, Han Changfu, entre outros.

A deputada federal eleita e presidente do PT, Gleisi Hoffmann, confirmou sua presença na posse, enquanto países como o Uruguai e México designaram seus encarregados de negócios em Caracas como representantes oficiais para este evento. O Brasil não enviará representantes oficiais do governo eleito.



(Com Agência Brasil, AVN, Efe e CNN)

Nenhum comentário:

Postar um comentário