RESGATE
Foto: Reprodução
Na última quinta-feira (14), véspera do feriado da Proclamação da
República, um novo caso de suicídio na ponte Newton Navarro, em Natal,
chamou a atenção da população pela coragem de um policial militar que
arriscou-se atravessando a rede de proteção para tentar segurar um homem
que estava pendurado na ponte. Sem equipamentos de segurança, sendo
auxiliado apenas por pessoas que estavam presentes, Reinaldo, policial
lotado no 11º Batalhão, foi o último a olhar nos olhos da vítima.
“Aquele cidadão não queria mais se matar. Vi nos olhos dele a vontade de
viver, mas infelizmente não pudemos resgatá-lo”, contou ao Portal No
Ar.
Apesar de não conseguir manter o homem a salvo até que o reforço
chegasse, sua atuação foi reconhecida e repercutiu positivamente pela
coragem que demonstrou. Segundo conta, inicialmente ele e os colegas que
passavam pela ponte no momento não identificaram de imediato do que se
tratava a movimentação próxima à rede de proteção do local.
“De início achei que estavam tentando apenas conter alguém e pensei
que pudesse ajudar na imobilização com algemas ou coisa do tipo até
chegar o SAMU. Mas quando nos aproximamos, vimos algumas pessoas com os
braços entre as barras de ferro segurando alguém que não conseguíamos
ver. Havia uma pessoa completamente pendurada embaixo, prestes a cair,
sendo suspensa apenas pelas mãos dos homens que estavam lá”, relembra.
Não havia muito o que pensar naquele momento e a única forma que o
policial encontrou foi passar para o lado de fora da ponte. “Eu e o cabo
quebramos a rede de proteção e passei de imediato. O cabo foi pegar uma
corda enquanto o tenente ligava pro bombeiro e SAMU. Foi muito rápido
quando passei como não tinha equipamento de proteção”, relata.
Foi preciso prender o braço entre as grades da ponte e pedir às
pessoas que o segurassem para que ele não caísse no rio-mar que passa
oitenta metros abaixo da ponte. “Fiquei pendurado até alcançar o braço
do cidadão quando consegui puxá-lo um pouco. De repente, a roupa dele
começou a rasgar e nisso ele se desprendeu das nossas mãos e caiu”,
conta o policial.
Foi ele, no entanto, a última pessoa a ficar cara a cara com a vítima
e diz que não conseguiu dialogar porque a pessoa aparentava muito
cansaço, provavelmente pelo tempo em que estava pendurado sendo
socorrido pelas outras pessoas. “Quando ele caiu, eu tive que avisar aos
outros porque só eu tinha visão de onde ele estava”. O risco de
despencar também da ponte, o policial só percebeu quando viu fotos
circulando nas redes sociais. “Foi muito triste. As pessoas achavam que
eu iria cair junto. Só percebi o risco quando vi a fotografia, mas
nessas horas não pensamos em nada, a não ser em cumprir nossa missão”,
reforça.
Reinaldo está há quase dez anos na Polícia Militar do Rio Grande do
Norte, sempre com atuação na rua, onde situações semelhantes, em que
precisa salvar a vida das pessoas se tornaram recorrentes. No curso de
formação, os policiais têm capacitação em primeiros socorros, mas é algo
básico, que não se compara ao que vivenciou na véspera do último
feriado. Ele diz que não se sente envaidecido pelos elogios. Agradece e
pede que as pessoas rezem para que ele continue executando suas funções,
mas prefere se manter afastado dos holofotes.
“Já passei por muitas situações salvando muitas vidas porque sou
policial combatente, mas o estranho de tudo é que no dia que eu não
consegui salvar uma pessoa, a sociedade reconheceu meu serviço. Foi
muito difícil trabalhar o resto daquele dia, mas somos guerreiros e
escolhemos essa missão. No mesmo dia tivemos que continuar na rua
enfrentando outros riscos para diminuir os riscos e a insegurança da
sociedade”, reflete.
(Por Cláudio Oliveira/Portal no Ar)
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