quarta-feira, 20 de novembro de 2019

“Aquele cidadão não queria mais se matar. Vi nos seus olhos”, diz policial que se arriscou na ponte para evitar suicídio. Policial conta detalhes do que viveu ao tentar socorrer um suicida

RESGATE
 
 Foto: Reprodução

Na última quinta-feira (14), véspera do feriado da Proclamação da República, um novo caso de suicídio na ponte Newton Navarro, em Natal, chamou a atenção da população pela coragem de um policial militar que arriscou-se atravessando a rede de proteção para tentar segurar um homem que estava pendurado na ponte. Sem equipamentos de segurança, sendo auxiliado apenas por pessoas que estavam presentes, Reinaldo, policial lotado no 11º Batalhão, foi o último a olhar nos olhos da vítima. “Aquele cidadão não queria mais se matar. Vi nos olhos dele a vontade de viver, mas infelizmente não pudemos resgatá-lo”, contou ao Portal No Ar.

Apesar de não conseguir manter o homem a salvo até que o reforço chegasse, sua atuação foi reconhecida e repercutiu positivamente pela coragem que demonstrou. Segundo conta, inicialmente ele e os colegas que passavam pela ponte no momento não identificaram de imediato do que se tratava a movimentação próxima à rede de proteção do local.

“De início achei que estavam tentando apenas conter alguém e pensei que pudesse ajudar na imobilização com algemas ou coisa do tipo até chegar o SAMU. Mas quando nos aproximamos, vimos algumas pessoas com os braços entre as barras de ferro segurando alguém que não conseguíamos ver. Havia uma pessoa completamente pendurada embaixo, prestes a cair, sendo suspensa apenas pelas mãos dos homens que estavam lá”, relembra.

Não havia muito o que pensar naquele momento e a única forma que o policial encontrou foi passar para o lado de fora da ponte. “Eu e o cabo quebramos a rede de proteção e passei de imediato. O cabo foi pegar uma corda enquanto o tenente ligava pro bombeiro e SAMU. Foi muito rápido quando passei como não tinha equipamento de proteção”, relata.

Foi preciso prender o braço entre as grades da ponte e pedir às pessoas que o segurassem para que ele não caísse no rio-mar que passa oitenta metros abaixo da ponte. “Fiquei pendurado até alcançar o braço do cidadão quando consegui puxá-lo um pouco. De repente, a roupa dele começou a rasgar e nisso ele se desprendeu das nossas mãos e caiu”, conta o policial.

Foi ele, no entanto, a última pessoa a ficar cara a cara com a vítima e diz que não conseguiu dialogar porque a pessoa aparentava muito cansaço, provavelmente pelo tempo em que estava pendurado sendo socorrido pelas outras pessoas. “Quando ele caiu, eu tive que avisar aos outros porque só eu tinha visão de onde ele estava”. O risco de despencar também da ponte, o policial só percebeu quando viu fotos circulando nas redes sociais. “Foi muito triste. As pessoas achavam que eu iria cair junto. Só percebi o risco quando vi a fotografia, mas nessas horas não pensamos em nada, a não ser em cumprir nossa missão”, reforça.

Reinaldo está há quase dez anos na Polícia Militar do Rio Grande do Norte, sempre com atuação na rua, onde situações semelhantes, em que precisa salvar a vida das pessoas se tornaram recorrentes. No curso de formação, os policiais têm capacitação em primeiros socorros, mas é algo básico, que não se compara ao que vivenciou na véspera do último feriado. Ele diz que não se sente envaidecido pelos elogios. Agradece e pede que as pessoas rezem para que ele continue executando suas funções, mas prefere se manter afastado dos holofotes.

“Já passei por muitas situações salvando muitas vidas porque sou policial combatente, mas o estranho de tudo é que no dia que eu não consegui salvar uma pessoa, a sociedade reconheceu meu serviço. Foi muito difícil trabalhar o resto daquele dia, mas somos guerreiros e escolhemos essa missão. No mesmo dia tivemos que continuar na rua enfrentando outros riscos para diminuir os riscos e a insegurança da sociedade”, reflete.


(Por Cláudio Oliveira/Portal no Ar)

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