Jair Bolsonaro: crises ainda maiores no horizonte Adriano Machado/Reuters
Reservadamente, um grupo de deputados,
senadores, juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) e ministros do
Tribunal de Contas da União (TCU) tem discutido o destino do presidente Jair Bolsonaro e
cenários sobre como socorrer setores econômicos após a pandemia do novo
coronavírus. Com o pedido de demissão do ministro da Justiça e da
Segurança Pública, Sergio Moro,
e as duras acusações contra o presidente feitas pelo ex-juiz da
Lava-Jato, o grupo apelidado de “resistência democrática” acredita que
pode ganhar relevância nos debates sobre o futuro do país, discutir mais
concretamente a viabilidade ou não de um processo de impeachment e influenciar tomadas de decisões para manter um mínimo de governabilidade.
A estratégia do grupo para manter influência política passa pela manutenção do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ)
como presidente da Câmara dos Deputados. Antagonista de Bolsonaro na
condução de políticas públicas relacionadas à pandemia, Maia tem feito
consultas a ministros do Supremo sobre a viabilidade de se candidatar,
mais uma vez, à chefia da Câmara, ainda que as regras internas da Casa
não lhe permitam. O mandato do democrata como presidente termina em
fevereiro do ano que vem, mas ele já começou costuras para levar à
votação uma mudança interna no regimento que permita afastar a restrição
atual. A medida inevitavelmente desaguaria em questionamentos no STF –
daí a razão das sondagens prévias à Corte.
Nas metáforas presidenciais, Rodrigo Maia
é um general sem tropa, mas que tem hoje em seu entorno um consórcio de
partidos que circunstancialmente compartilham dos mesmos interesses,
opostos aos de Bolsonaro. A “resistência democrática” acredita que,
mesmo se Maia não conseguir se segurar na Presidência da Câmara em 2021,
Jair Bolsonaro erra ao apostar suas fichas em políticos do chamado
Centrão, que tem representantes como Arthur Lira, denunciado na
Lava-Jato, Valdemar Costa Neto, pilhado no mensalão, e Roberto Jeferson,
pivô do maior escândalo político do país pré-petrolão. “Qualquer
deputado do Centrão aperta o botão do impeachment. Não precisa ser o
Rodrigo”, disse a VEJA um dos integrantes do grupo.
Além da virtual permanência de Rodrigo
Maia como presidente da Câmara, o grupo tem feito projeções de caos
político para o presidente quando se avolumarem ainda mais as vítimas
fatais do novo coronavírus
e de desalento econômico quando estados e municípios, com caixas
sobrecarregados para socorrer a área da saúde, não conseguirem honrar as
despesas mais comezinhas, como salários de servidores e custos de
funcionamento de hospitais. A avaliação corrente é a de que Bolsonaro
antecipa para agora o embate com governadores e prefeitos em questões
relacionadas ao coronavírus porque ainda detém cerca um terço de suporte
do eleitorado.
O patamar, ainda que inviável para se
levar adiante um processo de impeachment, garante a ele certo
combustível para queimar no embate político-partidário antes de a crise
provocada pela pandemia se tornar ainda mais aguda. A partir do próximo
ano, com a economia em frangalhos e o país afundado em uma recessão de
5%, segundo cálculos do Fundo Monetário Internacional (FMI), a
“resistência democrática” acredita que não seria mais possível para o
presidente transferir responsabilidades para governadores como Witzel e
Dória, favoráveis ao isolamento social e adversários de Bolsonaro na
condução da crise provocada pelo coronavírus. “Como se diz na
minha terra, tem uma hora que o problema é federal”, afirmou a VEJA um
ministro que faz parte da tal “resistência democrática”.
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