ATÉ 7 CRIMES EM FALA
Sergio Moro, ex-ministro de Bolsonaro - Marcos Correa/PR
Brasília - Juristas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo detectaram
no relato feito pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro a prática de
sete delitos, razão suficiente para investigar o presidente Jair
Bolsonaro. Um deles, o constitucionalista Miguel Reale Jr, um dos
autores do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e
ex-ministro da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso, disse que
chegou o momento de pedir o impedimento do presidente.
"Sem a
menor dúvida é o caso de pedir o impeachment dele. Essa revelação do
Moro mostra que o presidente não conhece a esfera da Polícia Federal. Eu
fui ministro da Justiça e nunca interferi em um inquérito. Ele querer
ter acesso e acompanhar os inquéritos é uma afronta ao Poder
Judiciário", afirmou Reale Jr , ressaltando, porém, que, dessa vez, não
pretende apresentar um pedido de impedimento.
Para a
desembargadora Ivana David, do Tribunal de Justiça de São Paulo, o
relato de que o presidente tentou influenciar investigações sobre
organização criminosa é suficiente para que seja enquadrado por
obstrução de Justiça.
Além disso, ela enxerga ainda nos fatos
descritos por Moro os crimes de falsidade ideológica, advocacia
administrativa, prevaricação, corrupção e incorreu ainda em crime de
responsabilidade, todos suficientes para configurar quebra de decoro no
exercício do cargo.
Segundo ela, tanto no caso da obstrução
quanto no da falsidade ideológica será necessário provar o dolo, a
intenção de se cometer os crimes. Subprocuradores da República ouvidos
pelo jornal O Estado de S. Paulo enxergam ainda mais um possível crime
de Bolsonaro: coação.
Supremo
Ex-ministro
do Supremo Tribunal Federal (STF), Eros Grau, disse que o relato de
Moro é grave. "Se forem verdadeiros, os fatos relatados pelo juiz Sérgio
Moro ensejarão o fortalecimento de medidas judiciais já em curso no
Supremo."
Já Carlos Ayres Britto, ex-presidente do STF, aponta
para a necessidade de se investigar possíveis "ilicitudes
multitudinárias" por parte do presidente. "Moro relatou conversas com o
presidente que sinalizam desrespeito à Constituição por muitos ângulos.
Sinalizam o cometimento de ilicitudes. É preciso ver se são
administrativas, penais, se constituem crime de responsabilidade ou tudo
ao mesmo tempo."
Segundo Ayres Britto, o fato de Moro ter feito
as acusações ainda como ministro dá mais peso às revelações. "Moro falou
como agente público, não como indivíduo. E o agente público, quando age
e fala, empresta à sua fala a presunção de veracidade."
O
ministro Luís Roberto Barroso, do STF, afirmou que a saída de Moro
revela um "arrefecimento do esforço de transformação do Brasil".
Já
o ministro Marco Aurélio Mello disse: "A PF não é polícia do governo, é
uma polícia de Estado, tem que atuar com absoluta independência."
O
presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz,
disse que a instituição analisará os indícios de crimes apontados por
Moro.
(Por:Estadão Conteúdo)
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