BRASIL, POLÍTICA
Dias: 'Nunca tive jantar com Moro em Curitiba' TV Globo/Reprodução
Incensado pelos filhos e pelos aliados mais radicais, Jair Bolsonaro sempre desconfiou da lealdade de Sergio Moro.
A relação entre os dois azedou de vez quando, em meados do ano passado,
o presidente ouviu uma história intrigante de um de seus auxiliares
mais próximos. Segundo esse relato, Moro teria participado de um jantar
“secreto” em Curitiba com o senador Alvaro Dias, do Podemos, em que foi
discutida a possibilidade de o ministro disputar a presidência da
República em 2022. Era a prova que Bolsonaro precisava para ter a
certeza de que o inimigo estava bem ao lado, exatamente como pregavam
seus conselheiros.
Na época, a primeira reação do presidente foi a de demitir
Moro. Porém, ele foi convencido de que a decisão traria um desgaste
muito grande naquele momento, diante da imensa popularidade do ministro
da Justiça. Os conselheiros sugeriram que o presidente espalhasse a
versão de que pensava numa chapa Bolsonaro-Moro para 2022. Isso, além de
trazer um apelo popular, amarraria os planos do ministro. Moro, de
fato, tomou gosto pela política desde então. Mas, ao que parece, o tal
jantar, que serviu como mote para a desavença, nunca existiu.
“Não tive nenhum jantar com o Moro em Curitiba”, diz o senador Alvaro
Dias, acrescentando que, agora, essa pode ser uma opção. “O Moro sabe
que as nossas portas estarão sempre abertas. Não há dúvidas de que ele
tem as credenciais. Obviamente, se ele desejar, o partido está aberto. E
sempre esteve”, disse o senador a VEJA.
Conterrâneo do ex-ministro, Dias afirma que ainda não conversou com o
juiz depois da saída dele do governo e que não pretende “incomodá-lo”
neste momento. “Esse é um momento de reflexão que ele vai fazer sobre
sua opção de vida. Não sei se será política ou não. As decepções, às
vezes, orientam decisões. E o Moro, hoje, certamente deve estar
alcançado por uma profunda depressão”, afirmou.
Enquanto ministro da Justiça, Sergio Moro manteve popularidade mais
alta que o próprio presidente da República, o que causava incômodo entre
auxiliares de Bolsonaro. No Palácio, não são poucos os que vislumbraram
em Moro uma intenção de alçar voos mais altos e ser candidato à
Presidência, o que significaria entrar em confronto direto com Bolsonaro
em um futuro próximo. Mas é uma hipótese que não pode ser
desconsiderada.
Ao anunciar o pedido de demissão nesta sexta-feira, Moro afirmou que
vai descansar e, mais adiante, procurar um emprego. “Sempre vou estar à
disposição do país”, reforçou. A declaração vem sendo tratada como uma
sinalização de que Moro pode, de fato, entrar na política. “Para prestar
serviços ao país você não precisa, necessariamente, ficar na política.
Mas fica o indicativo”, incentiva Alvaro Dias.
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