NOVOS CONTORNOS
Rodrigo Maia na Câmara dos Deputados - Michel Jesus/Câmara dos Deputados
Brasília - A maioria dos deputados já apoia a destinação dos R$ 2
bilhões reservados ao custeio das eleições municipais deste ano para
ações de combate à pandemia do novo coronavírus, destaca o jornal O
Estado de S. Paulo. Pelo menos 264 parlamentares afirmam que votariam a
favor de projeto que alterasse a finalidade do fundo eleitoral diante da
situação de emergência do País. Enquete feita pelo Estado nos últimos
20 dias mostra, ainda, que esse número pode ser maior, já que 94
deputados não foram encontrados para opinar.
A menos de seis
meses para o primeiro turno das eleições, marcado para 4 de outubro, o
adiamento do pleito não está definido. No Congresso, não há um debate
oficial sobre a questão Já a proposta de transferir recursos do Fundo
Especial de Financiamento de Campanha para a Saúde, que depende de
maioria simples para ser aprovada, é objeto de 11 projetos de lei,
apresentados desde março.
As propostas foram elaboradas por
parlamentares de oito partidos - PL, PSL, PSDB, Novo, PDT, PROS, PSB e
Avante - com base no caráter emergencial da medida, mas nenhuma foi
pautada pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ele argumenta
que a utilização do recurso bilionário está prevista na "PEC da guerra",
aprovada por deputados e senadores neste mês.
A proposta de
emenda à Constituição trata do uso de fundos, mas não cita o que paga
campanhas eleitorais. Tanto que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre
(DEM-AP), negou a inclusão dessa possibilidade no texto votado pelos
senadores. Segundo ele, diante das medidas anunciadas pelo governo,
avaliadas em R$ 568 bilhões, o uso do fundão não se faz necessário. Para
Alcolumbre, que tem o apoio das cúpulas do Senado e da Câmara, o pedido
é "demagogia".
Na divisão por partidos, o placar do Estado
mostra que apenas as bancadas do Novo, do PV e do Patriota fecharam
questão sobre transferir os recursos do fundo eleitoral para a crise do
coronavírus. Mas em outras cinco bancadas esse apoio passa dos 60% -
como Cidadania, PDT e PSDB.
Para a deputada Carla Zambelli
(PSL-SP), autora de projeto assinado por outros 15 parlamentares, a
destinação do fundo eleitoral para o combate à pandemia ainda forçaria
as campanhas a serem mais baratas. "Tanto a minha eleição como a do
presidente Jair Bolsonaro foram possíveis sem dinheiro do fundo
eleitoral. Está provado que uma pessoa consegue se eleger sem esse
fundo. É um momento muito excepcional para a população e para o País e
esse dinheiro pode fazer falta no combate ao coronavírus."
Em
outros partidos, no entanto, há deputados que consideram que ainda não
se chegou ao momento de definir uma mudança no uso do fundo.
"Sinceramente, não sei como, no meio de uma confusão como essa, ainda
tem deputado que consegue pensar em eleição. Nós, da bancada do PCdoB,
não discutiremos esse tema enquanto houver estado de emergência. O foco,
agora, é tentar encontrar saídas para o País", disse a líder do
partido, Perpétua Almeida.
No PT, 6 disseram ser a favor, 8 são
contra, 31 deputados não quiseram responder e 8 não foram encontrados.
"Temos outras maneiras de financiar o combate ao coronavírus. Isso é
desculpa para a volta do financiamento de campanha com dinheiro
privado", afirmou o deputado Zé Carlos (PT-MA).
Inconstitucionalidade
O
advogado e professor de Direito Eleitoral do Mackenzie Alberto Rollo
afirmou que qualquer mudança nas regras eleitorais feita a menos de um
ano de antecedência do pleito pode ser considerada inconstitucional. "E
não apenas por isso, mas também porque viola o princípio da democracia,
na medida em que sem dinheiro não tem eleição."
Desde 2016, na
esteira da Lava Jato, o Supremo Tribunal Federal firmou entendimento de
que doações de empresas de campanha estão vetadas.
A volta desse
tipo de financiamento, com consequências expostas pela Lava Jato, é
criticada por alguns parlamentares, mas defendida por outros. O deputado
Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) afirmou que abriria mão do fundão caso a
doação de empresas seja tornada válida novamente. Já o Subtenente
Gonzaga (PDT-MG) se posicionou contra, mesmo com redução do
financiamento público de campanha.
Para o cientista político
Marco Antonio Teixeira, da FGV-SP, se os recursos do fundo eleitoral
forem transferidos para a área da Saúde, com objetivo de serem usados em
ações de combate à pandemia causada pelo novo coronavírus, não haverá
tempo para se construir uma alternativa de financiamento.
"O
debate é complexo, pois enfrentar a covid-19 exige mobilizar todos os
recursos possíveis", avaliou o cientista político. Ele ressaltou, no
entanto, que não se faz eleição sem dinheiro. "O melhor seria encontrar
um meio-termo. Gastar menos com a eleição e usar os recursos
economizados no combate ao vírus", disse.
(Por:Estadão Conteúdo)
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