BRASIL, POLÍTICA
O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
Apesar da tentativa de demonstração de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, com a presença dos ministros no pronunciamento feito após a demissão de Sergio Moro,
os generais que são ministros e que despacham dentro do Palácio do
Planalto manifestaram a colegas de farda um sentimento de "perda" e de
"forte preocupação" com o futuro do governo de agora em diante. A
mensagem foi vocalizada especialmente pelo ministro do Gabinete de
Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno.
Antes
da demissão de Moro nesta sexta-feira, Heleno já havia feito movimentos
para que o ex-juiz da Lava-Jato não deixasse o governo, com a
interpretação de que a gestão Bolsonaro acabaria se isso ocorresse. Teve
êxito uma vez, mas não duas.
Os ministros que também são generais
— Heleno, do GSI; Braga Netto, da Casa Civil; e Luiz Eduardo Ramos, da
Secretaria de Governo — ouviram de generais que estão no governo ou na
ativa que a continuidade de apoio ao governo Bolsonaro dependerá da
permanência do trio dentro do Palácio do Planalto. Este recado explica a
tentativa de demonstração de apoio dos ministros ao presidente.
Os
ocupantes dos cargos na Esplanada dos Ministérios compareceram em peso
ao pronunciamento no fim da tarde, numa tentativa de demonstrar unidade.
Chamou a atenção a presença do ministro da Defesa, general Fernando
Azevendo e Silva, logo ao lado de Bolsonaro. O ministro da Defesa tem
ascendência hierárquica sobre os comandantes das três Forças Armadas.
Sua função no governo excede a burocracia do cargo. Ele é, hoje, um dos
principais conselheiros do presidente.
Um entendimento entre
militares de alta patente — tanto integrantes do governo quanto
integrantes das cúpulas das Forças — é que a demissão de Moro não se
compara a uma outra rumorosa demissão, a do ministro da Saúde, Luiz
Henrique Mandetta. No caso de Mandetta, demitido em meio à pandemia do
novo coronavírus, que já matou 3.670 brasileiros até agora, generais
enxergaram uma indisciplina, uma quebra de hierarquia, à medida que o
então ministro confrontava o presidente. Com Moro, que pediu demissão do
Ministério da Justiça e Segurança Pública nesta sexta-feira, alegando
interferência de Bolsonaro na Polícia Federal (PF), não existe essa
impressão.
— Moro é uma figura muito emblemática. Tem projeção no
país. Sempre vou aplaudi-lo pelo que ele fez. Então, até quem torce
contra não deve estar gostando do que se viu hoje — resume um general
com assento no governo, sob a condição de anonimato.
Os militares
que despacham no Planalto, apesar do esforço pela imagem de unidade, não
disfarçavam o sentimento de "perda", "tristeza" e "preocupação" nas
mensagens disparadas a colegas da caserna. O entendimento é que a saída
de Moro ocorre num momento que já é de grave crise sanitária e
econômica. Eles entendem que o que ocorreu nesta sexta, inclusive, terá
impactos decisivos para a própria crise do novo coronavírus.
— Não deveríamos perder nem A nem B — diz um general, em referência a Bolsonaro e Moro.
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