DENÚNCIA -- O ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, fala durante coletiva de imprensa anunciando a sua saída do governo Evaristo Sa/AFP
O ex-ministro da Justiça Sergio Moro é afeito a formalismos e contrário a lavar roupa suja em público. O discurso em que oficializou sua saída do governo de Jair Bolsonaro
é, portanto, um ponto fora da curva no estilo do ex-juiz da Lava-Jato
de lidar com a classe política. A decisão por escancarar todos pedidos
impróprios recebidos do presidente – incluindo, como revelou VEJA, a
interferência para que contivesse um inquérito sobre fake news que mira o
vereador Carlos Bolsonaro – foi explicada por ele a assessores de
confiança. “Eu tinha de deixar claro o motivo de sair”, disse Moro
segundo relatos obtidos por VEJA. O ex-ministro começou então a
rascunhar em tópicos todos os pontos que queria abordar em sua
despedida, incluindo a grave acusação de interferência política de
Bolsonaro na Polícia Federal.
O agora ex-ministro da Justiça perdeu a
paciência com o presidente ao receber, por mensagem de Whatsapp, do
próprio Bolsonaro a informação de que o então diretor-geral da PF
Maurício Valeixo seria demitido ainda esta semana. Sergio Moro havia
detectado desde o ano passado movimentos do Palácio do Planalto para
defenestrar a cúpula da PF, mas desta vez sequer foi consultado sobre
eventuais substitutos nem a ele foram explicados de forma transparente
por Bolsonaro os motivos de trocar o comando da Polícia Federal. Quando
recebeu a mensagem do presidente, na quarta-feira, 22, Moro considerou
que a situação tinha chegado a um nível insustentável e não faria
sentido ele permanecer no governo nem mais um dia. Na quinta, 23, ao
ouvir da boca do presidente a confirmação de que Maurício Valeixo
deixaria a chefia da corporação policial, decidiu encerrar sua
participação no governo.
Na manhã desta sexta-feira, 24, instantes antes de fazer um
pronunciamento em que acusou Bolsonaro de interferência política na
Polícia Federal e de mentir sobre os motivos da saída do diretor-geral
da PF, Sergio Moro cogitou anunciar sua demissão ao lado do próprio
Maurício Valeixo. O simbolismo, dizem aliados, traria o recado de que
personagens que atuam no combate à corrupção estavam unidos – e em lado
oposto ao do presidente. Ao final, Moro se pronunciou rodeado de
secretários que atuam diretamente no Ministério da Justiça, como os
chefes do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), da Secretaria
Nacional de Políticas sobre Drogas e de seu secretário-executivo.
Maurício Valeixo, no entanto, não ficou longe do chefe.
Permaneceu na
antessala do auditório, ouvindo cada palavra do agora ex-ministro da
Justiça.
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