quinta-feira, 30 de abril de 2020

Tropa de choque de Bolsonaro promete confrontar Moro no Congresso. Parlamentares fiéis ao bolsonarismo, quase todos de primeiro mandato, se reúnem com o presidente e prometem questionar as acusações feitas pelo ex-ministro

CONGRESSO
 
 A tropa de choque bolsonarista: aliados ideológicos, quase todos no primeiro mandato Redes Sociais/Reprodução

Ao mesmo tempo em que faz acenos ao partidos do chamado Centrão, inclusive com a oferta de cargos, para tentar fortalecer a sua base política no Congresso, o presidente Jair Bolsonaro tem intensificado o diálogo com os poucos deputados fiéis que lhe restam no Parlamento, aliados ideológicos de primeira hora e que compõe hoje uma espéce de tropa de choque bolsonarista no Legislativo.

Na esteira da crise detonada com a saída do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, que rachou o bolsonarismo e o lavajatismo, os deputados fiéis tomaram um café da manhã com o presidente da República, no Palácio da Alvorada, nesta quarta-feira, 29. No encontro, reafirmaram o compromisso com o governo e prometeram confrontar o ex-juiz federal caso ele seja convocado a prestar esclarecimentos sobre as acusações que ele fez na saída do cargo e que renderam a abertura de um inquérito no Supremo Tribunal Federal e assanhou a oposição, principalmente na Câmara.

O perfil da tropa de choque bolsonarista ajuda a explicar por que o presidente busca o apoio de parlamentares mais experiente: ela é composta basicamente por deputados de primeiro mandato. Estiveram com o presidente Aline Sleutjes (PSL-PR); Alê Silva (PSL-MG); Bia Kicis (PSL-DF); Bibo Nunes (PSL-RS); Carla Zambelli (PSL-SP); Carlos Jordy (PSL-RJ); Caroline de Toni (PSL-SC); Chris Tonietto (PSL-RJ); Coronel Armando (PSL-SC); Coronel Chrisóstomo (PSL-RO); Daniel Freitas (PSL-SC); Daniel Silveira (PSL-RJ); Luiz Ovando (PSL-MS); Eduardo Bolsonaro (PSL-SP); Filipe Barros (PSL-PR); General Girão (PSL-RN); Guiga Peixoto (PSL-SP); Helio Lopes (PSL-RJ); Junio Amaral (PSL-MG); Luiz Lima (PSL-RJ); Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP); Major Fabiana (PSL-RJ); Major Vitor Hugo (PSL-GO), líder do partido na Câmara; Márcio Labre (PSL-RJ) e Sanderson (PSL-RS). Destes apenas o filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, já havia sido deputado federal.

Segundo o deputado Carlos Jordy, além de reafirmar o compromisso com o governo Bolsonaro, os parlamentares cobraram do presidente “a criação de um canal de comunicação mais próximo para que as informações sejam passadas de forma mais célere, para melhor defesa do governo”. “Foi uma reunião muito tranquila. Ressaltamos ao presidente e aos ministros que somos a base aliada no Congresso e que estamos na linha de frente para blindá-lo de desgastes”, afirmou a VEJA. A reivindicação por uma interlocução mais próxima com o Palácio do Planalto ocorre após a demissão de Moro, episódio no qual os parlamentares bolsonaristas rebateram, equivocadamente, a informação divulgada pela imprensa de que o então ministro havia pedido demissão. Chamaram as notícias de fake news, disseram que ele estava firme no cargo e depois viram a queda de fato do ex-juiza.

O deputado reconhece que a saída de Moro do governou “criou uma fagulha inicial” e uma “fratura momentânea” na popularidade de Bolsonaro, mas que, em sua avaliação, o apoio de seus seguidores foi retomado após o pronunciamento do presidente ao lado dos ministros para tentar rebater as afirmações de Moro. “[A demissão de Moro] Criou uma fagulha inicial, sim, porque é uma figura que carrega consigo esse símbolo de combate às práticas espúrias que o eleitorado de Bolsonaro rejeita. Mas o presidente também carrega isso. Como o ministro saiu atirando, há um baque inicial, uma certa fratura momentânea em sua imagem. Mas sua imagem e popularidade foram resgatadas após seu discurso”, diz.

Nos bastidores, deputados e senadores articulam a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as acusações feitas por Moro de que Bolsonaro tinha a intenção de interferir politicamente na Polícia Federal (PF), a fim de obter informações sobre investigações. Jordy admite que a ida do ex-ministro ao Congresso deverá ser “um momento muito intenso”, mas afirma que a tropa de choque irá confrontá-lo para blindar o governo federal.

“Não tememos a convocação de Moro. Será, sem dúvida, um momento muito intenso, de muita pirotecnia da oposição, que irá promover um espetáculo para atingir o governo. Mas, ao mesmo tempo, será uma oportunidade para nós, aliados do governo, podermos confrontá-lo. Como juiz, Moro sabe bem que não pode mentir. Se não apresentar provas das acusações que fez, digo, inclusive, que a sua convocação terá sido favorável a nós, porque poderemos tomar medidas judiciais”, afirmou a VEJA.


 (Por André Siqueira/Veja.com.br)

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