CAIU
Roberto Campello
Roberto_campello1@yahoo.com.br
Depois de dois anos à frente da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) o professor universitário Cipriano Maia, se despediu da pasta nesta sexta-feira (30) e recebeu a imprensa para fazer um balanço da gestão, revelar frustrações e analisar a saúde pública municipal. Ele conta que cinco razões o motivaram a entregar o cargo, entre elas, a nova configuração política municipal, uma vez que o secretário é filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), que deverá ter candidato próprio nas eleições de 2016. “Do ponto de vista ético achei melhor não ficar nesse contexto para evitar qualquer incômodo ao projeto político do prefeito”.
Além disso, a situação profissional, já que Cipriano está prestes a se aposentar na UFRN e o tempo que passou a frente da gestão o prejudicou do ponto de vista acadêmico; o contexto político-institucional, tanto da Secretaria, como do governo, pelas dificuldades burocráticas, os entraves, a luta cotidiana e a judicialização da saúde pesaram para a saída do secretário. “Diante da dificuldade de darmos resposta, isso tudo nos leva a um desgaste pessoal e físico muito grande, porque queria ver as coisas acontecerem da melhor forma possível, devido o meu comprometimento com a saúde”.
O secretário municipal de Saúde tentou entregar o cargo ao prefeito Carlos Eduardo em abril do ano passado e deu o ultimato ao prefeito no mês outubro, garantindo que ficaria no cargo até o dia de hoje, a fim de fazer uma transição tranquila e responsável, e concluir as ações que estavam em andamento, de modo a garantir a continuidade do processo.
Cipriano faz um balanço positivo a frente da Secretaria Municipal de Saúde, principalmente, em sua opinião, por conseguir recuperar a credibilidade do SUS municipal, através da motivação e mobilização dos servidores na responsabilização para o cuidado com o usuário. “Tivemos um relativo sucesso nesse campo. Conseguimos definir diretrizes e metas para o Sistema Único de Saúde que estão traduzidas no Plano Municipal de Saúde. Além disso, conseguimos criar uma nova dinâmica institucional com maior interação e integração entre as várias unidades”, destaca o secretário.
Entre os avanços, o secretário destaca a cobertura da atenção básica que passou de 23% para mais de 50% da população atendida pela Estratégia Saúde da Família e mais de 70% da atenção básica, a abertura da UPA da Cidade da Esperança, que no primeiro ano atendeu mais de 90 mil pessoas, renovação da frota do SAMU Natal, reestruturação das Policlínicas, recuperação de recursos para construção de oito unidades básicas, a construção de mais duas UPAs em Natal, com dinheiro em caixa, recursos da ordem de R$ 5 milhões para reforma reestruturação de 35 unidades de saúde e a licitação concluída para a construção de um CAPS na zona Norte de Natal. “A colheita de tudo isso não é minha. É da sociedade”.
“Dizer que resolvemos os problemas eu estaria mentindo, mas avançamos bastante. Pegamos uma rede com uma calamidade absoluta e não tivemos o tempo de renovar essa estrutura, mas fizemos reformas emergenciais e deixamos um plano bem estruturado”, ressalta o secretário Cipriano Maia. A reabertura da Maternidade Leide Morais, garante o secretário, será feita de forma parcial no mês de fevereiro, com 24 leitos em funcionamento. “O gargalo do processo burocrático daquela obra foi o nosso maior desafio. Foram três obras em um único local, mas deixaremos uma obra definitiva”.
Apesar da avaliação positiva e com o sentimento de dever cumprido, Cipriano Maia se sente frustrado por sair da Secretaria sem conseguir publicar o edital geral do concurso público para os profissionais de saúde. “Saiu com o sentimento de dever cumprido, me dediquei diuturnamente e saiu insatisfeito por não ter conseguido mais celeridade e ter resolvido mais problemas. Tenho o sentimento de dever cumprido, mas com a certeza de que fizemos o possível dentro do contexto que encontramos, mas não o necessário para ofertar uma qualidade melhor na atenção. Hoje, Luiz Roberto recebe uma secretária bem melhor do que recebi”.
Nesses dois anos, o secretário conseguiu realizar o concurso para agente comunitário de endemias, que está judicializado, com resultado suspenso. Cipriano conta que no primeiro ano da gestão foi feito um redimensionamento que apontou a necessidade de mais de quatro mil servidores. Em seguida, esbarrou no processo burocrático para publicar o edital.
“O Hospital de Natal é uma necessidade, porque hoje faltam leitos de retaguarda para as UPAs e esse é o nosso maior drama na rede de urgência e emergência. Mas não podíamos ousar em pensar um projeto de o município assumir um hospital sem reorganizar o básico. Tentamos estruturar isso e fica como legado para a gestão”, afirma Cipriano Maia.
Luiz Roberto assume e promete Hospital de Natal em dois anos
O ex-secretário estadual de Saúde, o médico Luiz Roberto Fonseca assume a Secretaria Municipal de Saúde, em substituição ao professor Cipriano Maia a partir da próxima segunda-feira (2). Luiz Roberto já havia trabalhado na gestão passada do prefeito Carlos Eduardo, como coordenador do SAMU Natal e agora aceitou o desafio de assumir a Saúde municipal, segundo ele, por dois aspectos: a chancela do então secretário Cipriano Maia, e o convite e estilo do prefeito Carlos Eduardo em fazer gestão pública. “Sei da autonomia, liberdade que o prefeito dá aos secretários e isso me agrada. A junção disso, aliada ao fato de eu ter doze anos fazendo gestão pública, me faz acreditar que é possível mudar o cenário”. Luiz Roberto traz consigo parte da equipe que trabalhava com ele na Sesap, como Marcelo Bessa, Camila Costa, Terezinha Rego, Maria da Saudade e Juliana Araújo.
Entre os desafios, o novo secretário de saúde destaca a conclusão das duas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) – da zona Norte e do Planalto -; a construção do Hospital Municipal de Natal, com leitos de terapia intensiva, para atender a média complexidade; a realização do concurso público ainda no segundo semestre deste ano; e dobrar a cobertura da estratégia da saúde da família em Natal, chegando a 70%. “A nossa meta é que ao final dos dois anos, o hospital já esteja em pleno funcionamento. Vou buscar isso de forma obsessiva. Toda a minha equipe estará voltada integralmente para a viabilização desse hospital”, garante Luiz Roberto Fonseca.
O médico Luiz Roberto Fonseca conta que a complexidade da Secretaria Municipal de Saúde é diferente, mas semelhante a estadual. “São complexidades diferentes, pois Natal sozinha é responsável por um terço da população do estado. A responsabilidade de uma pasta municipal difere do estado, porque é no município que é responsável pela execução das políticas públicas e quando o município não realiza, a responsabilidade recai sobre o estado”, afirma. Vale ressaltar que o município tem gestão plena dos recursos próprios e quase que a totalidade dos serviços de alta complexidade do estado são realizados em Natal, através da pactuação programada integrada (PPI).
Agora, Luiz Roberto passa da condição de cobrador para cobrado. Quando secretário estadual, ele cobrava uma ação mais eficaz do então secretário Cipriano Maia. “A minha posição continua a mesma. Natal precisa assumir o protagonismo e a responsabilidade das ações que ela tem que fazer. Cipriano teve a ousadia de começar um processo de reconstrução, já que Natal era uma cidade totalmente desolada em termos de saúde. Eu recebo a Secretaria numa condição muito melhor do que ele recebeu, com os serviços funcionando e dando respostas. E com isso, a nossa responsabilidade é muito maior”, afirma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário