sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Militares treinam em Natal para missão de paz no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Capital potiguar foi escolhida por ter comunidades parecidas com a carioca

GEOGRAFIA  PARECIDA

Exercito-JA
Diego Hevani
Repórter

Nos últimos dias, os moradores de Mãe Luíza e Rocas presenciaram uma mudança na rotina dos bairros. Desde segunda-feira, até hoje, militares do Exército Brasileiro estiveram nas ruas das comunidades finalizando o treinamento do próximo contingente que será empregado, a partir do mês de fevereiro, na Operação São Francisco, no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro.

Em Natal, os militares estão realizando módulos de tiro de fuzil, pistola e carabina calibre 12; treinamento com armamento e munição não letal; patrulhas a pé e motorizada; progressão em área urbana; estabelecimento de postos de bloqueio e controle de vias urbanas; treinamento de técnicas de abordagem e revista, de operações de controle de distúrbios e de 1º socorros/medidas salva vidas. Além disso, estão sendo submetidos a várias instruções relacionadas aos aspectos legais da missão, como prisão em flagrante, legítima defesa, cumprimento de mandado de busca e apreensão, direitos humanos, normas de conduta e regras de engajamento.

A capital potiguar foi escolhida por ter bairros que possuem estrutura parecida com a do Complexo da Maré. “Desde dezembro, os militares estão fazendo o treinamento descentralizado, ou seja, nos estados de origem de cada Batalhão. Nesta semana, eles se uniram aqui para unificar o treinamento e as ações”, destacou o major M. Júnior.

Nos treinamentos em Natal, além dos militares do 16° Batalhão de Infantaria Motorizado (16° BI Mtz), sediado na capital do Estado, estiveram presentes militares do 15° Batalhão de Infantaria Motorizado (15° BI Mtz), que fica em João Pessoa-PB e do 23° Batalhão de Caçadores (23º BC), sediado em Fortaleza-CE. Eles irão compor o FT Poti, que fará parte do VI Contingente da Força de Pacificação, denominada Guararapes, que a partir do próximo dia 6 de fevereiro começar a ser enviado para o Rio de Janeiro. “No Complexo da Maré, os militares continuaram com o trabalho de pacificação da comunidade. Vamos manter a ordem e a paz no local”, destacou o general Pafiadache, comandante militar do Nordeste.
Em abril de 2014, tropas das forças armadas ocuparam pontos estratégicos do Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Os primeiros veículos blindados, carregando os 2.500 homens do Exército e da Marinha, que participam da operação, entraram no conjunto de quinze favelas. por volta das 5h do dia 5 daquele mês. Inicialmente, as forças armadas deveriam permanecer na região até 31 de julho, segundo previsto no decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) – a partir de uma solicitação do ex-governador Sérgio Cabral. Na época, foram utilizados 2.050 homens da Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército e 450 fuzileiros navais da Marinha. Eles deram apoio à ação 200 policiais militares do Rio, totalizando 2.700 homens na ocupação.

Porém, no final do ano passado, a presidente Dilma Rousseff prorrogou o prazo por mais seis meses. “Atualmente, estamos no processo final da pacificação. As tropas militares irão começar a sair do Complexo e passar o comando para a Polícia Militar”, explicou o general Dos Santos, comandante da Força de Pacificação. Ele destacou que, atualmente, a situação no Complexo da Maré está bem mais tranquila do que no início.

Trabalho voluntário
O efetivo das forças armadas, que participaram do treinamento em Natal, foi de 530, compostos por potiguares, paraibanos e cearenses. Desses, todos se ofereceram, voluntariamente, para participar da missão. Uma das poucas oportunidades que os militares brasileiros têm para por em prática tudo o que aprenderam. “Chegou o momento de acabar o treinamento e colocar tudo em prova em ações reais. No Brasil nós treinamos muito, mas temos poucas oportunidades de participar de uma missão como essa. Então, assim que soube da oportunidade, já me ofereci e pretendo fazer o melhor trabalho possível para levar o nome do Exército Brasileiro”, disse o cabo Cleidson Lima, que é potiguar morador do bairro de Emaús, em Parnamirim, durante a formatura da tropa.

Ainda de acordo com o cabo, as habilidades que ele adquiriu durante os treinamentos e o que ele irá encontrar no Rio de Janeiro são conhecimentos que ele irá levar para o resto da vida. “Sempre quando temos a oportunidade de fazer treinamentos desse tipo, aprendemos muito. Lá, sei que irei encontrar um local que precisa de ajuda. Vamos ter contato com pessoas que estão contando com o Exército Brasileiro, para ter uma vida mais tranquila, já que o Complexo da Maré tem um histórico de violência e agora esta situação está mudando. Então, vai ser uma experiência muito boa”.

O cabo Lima é casado e tem um filho. Mesmo sempre demonstrando vontade de participar da missão, ele conta que não poderia deixar a terra natal sem o apoio da família. “Todos me apoiaram quando eu contei que queria participar da missão. Sei que é uma situação bem desgastante, que eu vou precisar me dedicar muito, e que vai me deixar longe de casa por algum tempo. Se eu não tivesse minha família me apoiando, seria bem complicado”.

“se fosse assim todo o dia”
O treinamento do Exército nos bairros chamou a atenção da população. Todos os dias, a tropacontou com o apoio do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). O motivo é que, caso acontecesse algum imprevisto durante o trajeto, como assalto uma alguma pessoa traficando drogas, os militares não precisassem interromper o treinamento para atender a ocorrência.

“Temos muitos problemas com drogas e assaltos por aqui. Se todo dia fosse assim, cheio de policiais aqui no nosso bairro, seria uma maravilha. Tenho certeza que os bandidos não iriam aparecer tanto por aqui. Tomara que fique assim por muito tempo”, comemorou a aposentada Maria Rita, de 65 anos.

O comerciante Júlio César, que tem um mercadinho nas Rocas, disse que nos dias que o Exército esteve no bairro, raramente se viu um usuário de drogas. “Aqui, muitas pessoas usam drogas livremente, em qualquer horário do dia.  No primeiro dia, ninguém sabia o que estava acontecendo, pensávamos que era alguma operação, como as que aconteceram no Rio de Janeiro.

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