sábado, 21 de março de 2015

Comunidade na zona Norte sofre com a falta d’água há décadas. Cerca de 3 mil moradores da comunidade do Cavaco Chinês ainda fazem uso de poços artesanais

ABSURDO

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Roberto Campello
Roberto_campello1@yahoo.com.br

“Há quarenta anos eu moro aqui e não sei o que é água saindo da torneira que não seja vinda de poço ou cacimba”. Este depoimento talvez se encaixasse perfeitamente bem se fosse de um personagem que morasse na zona rural de um município localizado no semiárido nordestino. No entanto, trata-se de Eliete Eugênio Martins, de 42 anos, que mora na Comunidade do Cavaco Chinês, a poucos metros da Avenida Moema Tinoco, no bairro do Pajuçara, zona Norte de Natal. Ela é apenas uma das mais de três mil pessoas que moram na comunidade e que não são assistidos pelo sistema de abastecimento de água feita pela Companhia de Águas e Esgotos do RN (Caern) e são obrigados a recorrer de água de poços e cacimbas que foram perfurados artesanalmente pelos próprios moradores.

Recentemente, a qualidade de água desses poços foram analisadas pelo Vigiagua Natal, programa de vigilância da qualidade da água para o consumo humano, e verificou-se a presença de coliformes fecais em todas as amostras, quando o recomendado pela portaria do Ministério da Saúde que estabelece os níveis de potabilidade da água é a ausência de coliformes fecais.

Para agravar ainda mais a situação, o poço que foi instalado na residência de dona Eliete – com cerca de 20 metros de profundidade – fica localizado em meio a locais de criação de animais, como vaca, cavalo e galinhas. Para deixar a situação ainda mais crítica, as fezes dos animais ficam, comumente, depositadas nas proximidades de onde o poço foi perfurado, ocasionando um grave risco de contaminação da água do poço e do lençol freático.

A dona de casa Eliete Eugênio Martins conta que nos últimos meses, depois de um trabalho de educação e conscientização do Departamento de Vigilância em Saúde que foi realizado no local, deixou de consumir a água do poço, optando apenas pela água mineral, porém a água do poço ainda é utilizada para cozinhar alimentos, como também para as demais necessidades. “Eu não bebo mais essa água, mas ainda tem pessoas que bebem. Ainda não tive problemas por isso, mas não sei se no futuro isso pode prejudicar minha saúde. Meu sonho é que um dia eu possa beber água da torneira, com segurança, com a certeza de que isso não vai fazer mal a minha saúde”, afirma Eliete Eugênio.

O pedreiro Israel Pereira Barros mora na comunidade há 21 anos e também espera pela água servida pela Caern. Enquanto isso não acontece, ele recorre a garrafões de água mineral para evitar prejuízos à saúde. “Hoje não consumimos mais essa água, porque sempre que bebíamos tínhamos dores de barriga. Hoje, essa água só é utilizada para cozinhar, mas ainda temos medo de que isso possa nos prejudicar”, afirma. Há alguns meses, o pedreiro começou a comercializar água mineral. Por dia, ele chega a vender 20 garrafões.
Na manhã desta sexta-feira (20), em alusão ao Dia Mundial da Água, comemorado no próximo domingo (22), técnicos do Departamento de Vigilância em Saúde, por meio da Vigilância em Saúde Ambiental e do Trabalhador (VISAMT), estiveram na comunidade para chamar a atenção da sociedade e das autoridades em relação ao problema da falta de água potável de Natal. Na ação, o representante da Caern deu explicações à comunidade sobre a dificuldade de se instalar um sistema de abastecimento de água no local. Além disso, foi distribuído hipoclorito de sódio para os moradores acrescentarem a água.

O chefe em Vigilância em Saúde Ambiental e do Trabalhador, Marcílio Xavier, explica que o programa Vigiagua Natal analisa, periodicamente, cerca de 200 locais em Natal. Além da Comunidade do Cavaco Chinês, uma comunidade no Bairro Nordeste também apresentou pessoas consumindo água oriundas de poços e contaminada por coliformes fecais. Além disso, os hotéis da Via Costeira também não são assistidos pela Caern e em três deles foi encontrado altos índices de nitrato.

“Esse é o nosso grito de intervenção pedindo que a Caern traga água potável de qualidade para esta comunidade. Alguns consomem água mineral, mas a maioria não tem condições e termina utilizando a água do poço para consumo humano. Hoje estamos fazendo um alerta, pois os moradores dessa comunidade são vítimas”, afirma Marcílio Xavier.

O chefe da Unidade de Operação e Manutenção de Águas da zona Norte de Natal da Caern, Man Cheng NG, conta que mais de quatro anos esteve na região para verificar a região e à época eram poucas casas no local, sem perspectiva de expansão e por aquele motivo não havia possibilidade de a Caern agir. A proposta, apresentada pela Companhia, é que a Prefeitura construir um poço tubular em uma área verde na região, uma vez que a Caern não pode realizar a perfuração de poços sem que haja titularidade do terreno. Quatro anos depois, a proposta segue a mesma. Cabe a Prefeitura perfurar o poço e a Companhia arcará com o projeto técnico, execução da rede de abastecimento para todos os domicílios.

“Essa é a única opção que temos e se conseguirmos fazer isso resolveremos o problema. As águas desses poços estão com problemas devido a contaminação cruzada da fossa para esses poços. No momento que a Prefeitura ou a Caern perfura um poço tubular, os poços tem mais de 50 metros de profundidade, com revestimento especial e evita todo esse problema de contaminação”, afirma o representante da Caern, Man Cheng NG.

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