quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Prefeitos do RN vão marchar por mais recursos

RECURSOS
 Prefeito Francisco Silveira Junior, de Mossoró
A Federação dos Municípios do Rio Grande do Norte (Fermurn) vai entrar com uma ação contra o governo federal para evitar a devolução de R$ 192 milhões do Fundo Nacional da Educação Básica (Fundeb) ao Tesouro Nacional que, por erro de cálculo da União na conta do estado que fez os repasses aos municípios.  A primeira cota do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) em janeiro teve queda de 40%.
 
No encontro que reuniu mais de 70 prefeitos, ontem (13), na sede da Femurn, eles decidiram que no próximo dia 27 de janeiro farão a Marcha de Protesto dos Municípios do RN, sem roteiro ainda definido. 
 
Os prefeitos vão às ruas protestar contra “perdas” e “injustiças”. Em uníssono, eles reclamam da redução seqüencial do FPM (Fundo de Participação dos Municípios), nos repasses do Fundeb, reajuste do Piso Nacional dos Professores em 11%, suspensão do parcelamento do INSS, precatórios, necessidade de flexibilização da Lei de Responsabilidade Fiscal, atrasos nos repasses da farmácia básica e ICMS. 
 
Para os chefes executivos, um passo importante na contemplação das prefeituras  com mais recursos será o novo pacto federativo entre o governo federal, estados e municípios.Na reunião de ontem eles decidiram assinar um documento que será enviado para Brasília ameaçando a desfiliação da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) caso não haja uma reação imediata e emergencial da entidade à crise enfrentanda pelos municípios.
 
No final do ano passado, o Tesouro Nacional detectou o erro e quer o estado e prefeituras do RN devolvam o dinheiro que já foi usado. Segundo o presidente da Fermurn, Francisco Silveira Júnior, antes de entrar com recursos contra a União, a entidade vai consultar a Confederação Nacional dos Municípios (CMN).
 
A decisão foi anunciada ontem na sede da Fermurn em um encontro que reuniu mais de 60 prefeitos. Francisco Silveira Junior, que é prefeito de Mossoró, disse que 50 prefeituras ainda não conseguiram pagar dezembro. 
 
Ao longo dos anos, disse o presidente da Femurn todos os programas do governo federal tem que ter complemento das prefeituras. Uma equipe do Programa Saúde da Família (PSF), por exemplo. 
 
O município recebe R$ 14 mil e a prefeitra tem que pagar R$ 30 mil; a  merenda escolar, recebe R$ 0,30 por aluno e gasta R$ 2. Esse acúmulo de despesas vem afetando para os municípios sem contar os planos de cargos e salários, e as receitas são as mesmas do ano anterior com o acréscimo da inflação, criticou ele. “Essa agora houve uma diminuição muito grande, principalmente, nos municípios que recebiam royalties”, complementou.
 
Francisco Silveira Júnior disse que a crise se agrava e está cada vez pior e mais da metade dos municípios do RN não conseguiram fechar a folha em dezembro por causa do acúmulo de despesas, atrasos do ICMS e também pelo falto de o  Rio Grande do Norte ter perdido a complementação do Fundeb. “Isso é preocupante porque  temos que pagar o piso do magistério orçado em 11%, onde o anúncio do aumento do Fundeb será de 6%”, disse. O município vai ter que dar a contrapartida de 5%. 
 
De tudo que é arrecadado no país, apenas 15% vão para mais de 5 mil municípios; 25% para 27 estados; e 60% para a União. Nos países de primeiro mundo, 50% do arrecada vão para os municípios, comparou o presidente da Fermurn. 
 
Insolvência geral
 
Os municípios e o estado do Rio Grande do Norte estão insolventes, disse ontem o prefeito de Campo Redondo, Alessandru Emmanuel (PMN). Isso porque, disse ele, o Tesouro Nacional exige a devolução de R$ 192 milhões de complementação do Fundeb. 
 
Alessandru Emmanuel destacou que todos se todos 167 municípios do RN devolverem  os recursos ao Tesouro Nacional somente quatro vão receber mais recursos em  2016 que tiveram em 2015. 
 
Em 2015, contabilizou o prefeito, cada município recebeu do governo federal  R$ 6.910.946,30 e para 2016 estão previstos R$ 7.328.827. Um aumento de apenas R$ 437 mil mas, em abril, vão ser obrigados  a devolver R$ 622.733,44.Ou seja, cada um vai perder  mais de R$ 2 milhões por causa de um erro do próprio Tesouro. 
 
“A situação de todos os municípios do Rio Grande do Norte hoje com relação a FPM e Fundeb é de insolvência. Nós só poderemos enfrentar essa situação se houver um pacto federativo, tanto da parte dos municípios como da União e dos estados. Os municípios, sozinhos,  não poderão jamais enfrentar essa situação que hoje é de calamidade”, frisou.
 
Emmanuel disse que a  situação do Fundeb é insustentável, principalmente, com o Piso dos Professores. “Eu digo que é justo, porque todos os professores precisam ganhar bem, mas a União precisa socorrer os municípios”, complementou. 
 
Os municípios, disse, perderam neste 1º decênio mais de 40% no repasse da primeira  cota do FPM de janeiro. “Não temos condições, em absoluto, de administrar o município”, assinalou.
 
Gangorra de recursos
 
“Os repasses do FPM são explicitamente manipulados”, acusou o prefeito  José Júlio (PSD), de Antônio Martins. Os municípios brasileiros, argumentou, só recebem o que interessa ao governo federal, e nunca ao que interessa às necessidades das prefeituras que ficam com o menor bolo das receitas arrecadadas. 
 
“A gente entende que precisa de mais transparência por parte do Tesouro Nacional para repassar esse bolo arrecadado que é o Fundo de Participação (dos Municípios – FPM)”, queixou-se José Júlio. A queda nos repasses afetou diretamente a receita dos municípios. “Paguei 13º; dezembro está por pagar; novembro tem secretarias que estão por pagar porque os recursos caíram radicalmente a uma dimensão que não dá para pagar”, lamentou José Júlio. 
 
Segundo ele, Antônio Martins do ponto de vista da saúde pública é diferenciado porque tem um hospital de porte e, para mantê-lo, o prefeito é obrigado a desembolsar custeio de R$ 150 mil por mês. “Ou eu pago o hospital ou pago os funcionários. Então, eu fico numa gangorra: o hospital está funcionando mas os funcionários não estão recebendo”. Ele disse que só vai pagar quando entrar os repasses. “Estamos cortando gastos e fazendo contenção de despesas”, disse ele que também defende uma reformulação no fatiamento do ICMS.
 
O prefeito de Baía Formosa,José Nivaldo Araújo de Melo (PSB), disse que este ano não vai ter mais de onde cortar gastos para manter o equilíbrio financeiro do município.  Ele ressaltou que  este ano, todos os prefeitos vão ter quer arcar com mais gastos, como por exemplo, com o Piso Nacional dos Professores. 
 
“Eu reduzi minhas despesas no geral mas o governo federal e o governo do estado não fizeram o mesmo”, comparou José Nivaldo de Araújo Melo. Segundo ele, desde que assumiu a prefeitura em 2012 vem cortando despesas com pessoal, combustível, custeio e energia. Foi o que lhe garantiu pagar o 13º e a folha de dezembro em dia mas a queda contínua do FPM não deixa dúvidas de que este ano, a situação financeira dos municípios vai piorar e ele não vai ter mais onde cortar gastos.
 
“Estou tirando de investimento para o custeio”, frisou o prefeito que com menos recursos, explicou que enfrenta dificuldades para pagar os fornecedores.
 
Não bastasse a queda nas transferências federais, a prefeita de Equador, Noeide Sabino (DEM), ainda tem que lidar com problemas com a estiagem prolongada que deixou o município sem abastecimento da Caern. 
 
As últimas chuvas fizeram o açude Mamão tomar água e a prefeita está solicitando à Caern a volta do abastecimento em sistema de rodízio, um vez por semana. Equador é um dos municípios em colapso no abastecimento. “Agora, estamos com colapso na folha de pagamento”, disse a prefeita que está com a folha de pessoal em dia mas não sabe por quanto tempo.
 
Noeide Sabino disse que já cortou 20% de seu própria salário (R$ 12 mil) e do vice-prefeito (R$ 6 mil), 30% nas gratificações dos servidores, demitiu cargos comissionados e prestadores de serviços. Mas, com a queda de 33% no FPM e 10% de inflação de 2015, são 43% de redução na receita para pagar os 280 servidores que consomem uma folha de R$ 400 mil. “A receita hoje não é precias”, explicou ela, diante das indefinições dos repasses. “Ontem (terça, 12) não foi feito o repasse do ICMS pelo governo do Estado”, criticou. Equador sobrevive de repasses. Além de tudo, por causa da seca, o município ainda arca com despesas como pagamento da água dos carros-pipa transportada pela Defesa Civil, de Natal para Equador, a quase 300 km distância.  
 
 Em Rio do Fogo, litoral norte, o prefeito Laerte Paiva (DEM) também conseguiu pagar os salários em dia mas está preocupado com os gastos com saúde e limpeza, principalmente, que aumentam nesta época do ano por causa do fluxo grande de turistas no município por causa atraídos pelas praias. Aumentas despesas mas a receita reduz por causa da diminuição dos repasses. Pelo menos 54% da receita é para pagamento de pessoal e o prefeito já está preocupado com o aumento da folha por causa do reajuste no Piso Nacional dos Professores que recebem, hoje, R$ 2.040,00.
 
O prefeito de Assu e vice-presidente da Femurn, José Ivan Junior (PROS) também reclamou da queda nos repasses federais e o aumento das despesas. Em Assu, região Oeste, estão concentrados grandes projetos de irrigação e a água da barragem Armando Ribeiro Gonçalves é distribuída, atualmente, por sistema de rodízio.
 
Ivan Junior disse que conseguiu pagar em dia os salários e o 13º em dezembro porque exonerou 300 cargos comissionados mas disse que 2016 será pior que 2015 porque o governo federal vem sistematicamente reduzindo os valores das transferências. 

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