O ano começa com uma previsão pouco animadora para quem já vem
sofrendo com o calor dos últimos meses em Natal. As temperaturas
registradas em 2015 não devem parar de subir e teremos, muito
provavelmente, um verão ainda mais quente que nos anos anteriores –
sobretudo entre janeiro e fevereiro. O clima, no entanto, deve ficar
mais ameno que no interior do estado, onde os termômetros também devem
bater recorde de marcação durante o mesmo período.
De
acordo com um prognóstico divulgado pela Empresa de Pesquisa
Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn) no início dessa estação,
que começou oficialmente às 1h48 do último dia 22 de dezembro, as
temperaturas máximas na Grande Natal irão ficar 1º Celsius acima do
habitual, que normalmente gira em torno dos 31ºC nessa época do ano.
Entretanto, essa elevação pode ser ainda
mais alarmante, chegando a registrar um aumento de até 2ºC, com
temperaturas oscilando entre 32ºC e 33ºC no verão natalense. A
informação é do meteorologista da Emparn, Gilmar Bistrot, que alerta
também para a umidade acima do normal, o que contribuí para ampliar
ainda mais a sensação de calor, podendo ser aliviada ocasionalmente com
pancadas de chuva.
Segundo ele, a anomalia térmica
também está afetando o Oceano Atlântico Sul, elevando a temperatura das
águas e causando um efeito estufa natural sobre o litoral potiguar.
“Isso está fazendo os dias ficarem mais abafados e, obviamente, mais
quentes com sensação de mais calor ainda”, esclarece.
O
meteorologista também explica que a anormalidade no clima é ocasionada
pelo fenômeno El Niño presente no Oceano Pacífico Equatorial. O evento
causa um aquecimento desproporcional das águas superficiais e
sub-superficiais, diminuindo a ocorrência de chuvas no continente e
aumentando as temperaturas.
“Outro fator que colabora para a sensação
térmica elevada é que as temperaturas mínimas também estão acima do
normal. E não é pouca coisa, mas até 2ºC”, acrescenta Gilmar Bistrot,
dizendo que, se antes eram registradas mínimas de 23ºC na capital, hoje
os termômetros marcam 25ºC no horário mais ameno do dia. “Os dias estão
esfriando menos e isso dificulta a formação de chuvas e brisas. A manhã
já começa quente”, afirma.
Apesar do profissional
da Emparn dizer que a tendência é que a temperatura comece a cair após o
mês de fevereiro, o comerciante Genesis Ferreira de Arruda, 52, que
trabalha há quase duas décadas na praia de Ponta Negra, vendendo cerveja
e petiscos para os banhistas, declara estar sentindo essa diferença no
clima já há alguns anos.
“Antes, quando a gente
armava a barraca na areia, por volta das 7h da manhã, não estava tão
quente. Hoje, a gente levanta às 6h com o sol que deveria estar fazendo
às 9h”, compara.
Genesis, que é proprietário de um
quiosque na orla da praia, uma das mais visitadas por turistas em
Natal, também explica a forma curiosa que desenvolveu para poder
comprovar a mudança no clima: o aumento na temperatura das pedras
instaladas na areia para conter o avanço do mar no calçadão.
“A
gente tem que passar por elas direto, pra buscar alguma coisa no
quiosque, e tem hora que não dá, tem que passar pulando ou então queima
os pés. O nosso termômetro aqui são essas pedras”, diz.
Sol forte
Também
atuando na praia de Ponta Negra, o autônomo Jacinto de Souza, de 59
anos e que trabalha há 30 como vendedor ambulante na região, declara ter
notado a diferença com o passar do tempo. “Mas este ano está ainda mais
quente”, atesta.
Ele lembra a importância de se
proteger dos efeitos dos raios solares, assegurando que nunca esquece o
protetor solar e a camisa de manga comprida para evitar queimaduras na
pele. Jacinto atualmente vende óculos de sol para os banhistas e avisa
que, no verão, o item é essencial para quem vai visitar a praia. “Sem
eles eu fico logo com a vista ardendo. É bom até mesmo para descansar os
olhos, que não se esforçam tanto para enxergar algo contra o sol”,
coloca.
Temperaturas tão altas quanto as que estão
previstas para o verão desse ano não eram sentidas desde 1998, quando
chegou a ser registrado até 35ºC em Natal. No interior, as máximas devem
ultrapassar essa marca, elevando-se cerca de 1ºC acima da média e
variando entre 36ºC e 37ºC nas cidades e regiões mais quentes do
estado.
Dermatologista recomenda cuidados para se proteger do sol
Com
o verão mais quente, muitas pessoas tendem a procurar mais as praias e
piscinas para se refrescarem. É nesse momento que surge o risco do
surgimento de alguma doença de pele ocasionada pela exposição do corpo
aos raios ultravioletas, emitidos pelo sol.
Apesar
de não ter relação direta com a temperatura, é no período de veraneio
em que mais são registrados problemas como câncer ou envelhecimento
precoce de pele. De acordo com o demartologista e professor da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Arnóbio Pacheco, é preciso
tomar certas precauções durante esse período.
“A primeira recomendação é para as pessoas
não irem com tanta sede ao pote e reduzam o tempo de exposição ao sol,
pelo menos inicialmente”, determina, acrescentando que o corpo tem uma
proteção natural contra os raios UV, mas que ela precisa de tempo para
se desenvolver e uma exposição muito demorada pode gerar queimaduras.
“Outra
forma de prevenção é o uso de filtro solares, de preferência meia hora
antes da exposição aos raios, o uso de roupas com proteção UV e chapéus,
bonés e viseiras para evitar acidentes em áreas sensíveis”, explica.
Com o aumento do calor, também é recomendável a ingestão de muita água,
para evitar que ocorram problemas de desidratação.
Temperatura global registra elevação em quatro anos
O
aumento na temperatura não é um fenômeno recente. Nos últimos quatro
anos, os institutos de pesquisas meteorológicas registraram uma elevação
progressiva nas condições climáticas de todo o planeta. De acordo com
dados da agência americana National Oceanic and Atmosphere
Administration (NOAA), que estuda as alterações na atmosfera e nos
oceanos, desde 2012 a temperatura global já subiu 0,27ºC.
O
ano menos quente da década foi registrado em 2011, quando houve a
redução de 0,15ºC no período de apenas um ano. Antes de 2014, o ano que
detinha a maior média histórica era 2010. Ambos apresentaram as maiores
máximas já alcançadas desde que a temperatura mundial começou a ser
medida no ano de 1880.
Em relação ao período
posterior à Revolução Industrial, o planeta ficou 0,85ºC mais quente.
Essa elevação foi atingida no ano passado, mas com a previsão de que as
temperaturas continuem subindo em 2016, são baixas as esperanças de uma
melhora no clima para breve.
Há cerca de duas semanas, no último dia 12
de dezembro, foi acordado no relatório final da Conferência do Clima da
ONU, em Paris, que as 195 nações que assinaram o documento se
comprometeriam a frear o aquecimento global, principal responsável pelas
constantes elevações na temperatura. A intenção dos países é que esse
aumento fique abaixo dos dois graus, mas com esforços para a elevação
não supere os 1,5ºC.
Os estados mais
desenvolvidos, inclusive, aceitaram financiar o combate ao aquecimento
global dos países com menos recursos. O investimento total para isso
deve ser de US$ 100 bilhões ao ano.
No entanto,
com a projeção de que 2016 atinja a elevação de 1,14ºC na temperatura
média global, em relação ao período pré-industrial, os arranjos
acertados na Conferência do Clima (considerado um “dia histórico” pelo
presidente francês François Hollande) se tornam bem mais complicados de
serem obtidos.
Para se calcular a temperatura do
planeta, são utilizados os dados de aproximadamente 6.300 estações
meteorológicas espalhados pelo mundo, incluindo unidades localizadas em
navios e na Antártida. Combinam-se os registros de temperaturas nos
oceanos, que englobam quase dois terços da Terra, com as temperaturas
encontradas nos continentes.
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