A
presidente Dilma Rousseff planeja enviar ao Congresso, nos próximos
dias, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para antecipar as
eleições ao Palácio do Planalto. Antes de bater o martelo, porém, ela
precisa convencer os movimentos sociais que foram às ruas defender o seu
mandato e são contrários à proposta.
Dilma
escalou os ministros Jaques Wagner (Gabinete Pessoal) e Ricardo
Berzoini (Governo) para sondar os movimentos. O governo avalia que, sem
uma grande pressão popular capaz de influenciar os parlamentares, a
medida não teria chance alguma de ser aprovada pelo Congresso.
Sem
os votos necessários para virar o jogo, o governo já está convencido de
que será derrotado na votação da Comissão Especial do impeachment, na
sexta-feira, e também no primeiro julgamento no plenário do Senado,
previsto para o dia 11. Com a confirmação deste cenário, Dilma será
afastada por até 180 dias e o vice Michel Temer vai assumir a
Presidência.
Antes
disso, no entanto, a presidente pode encaminhar ao Congresso a proposta
que prevê o encurtamento de seu mandato e novas eleições em outubro,
juntamente com as disputas para as prefeituras, para "emparedar" Temer.
Na última sexta-feira, 29, ela despachou Wagner e Berzoini para São
Paulo com o objetivo de ouvir as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo
sobre a ideia.
Na semana passada a Frente Brasil Popular fechou posição contra a antecipação das
eleições.
A Frente Povo Sem Medo não tem posição fechada sobre assunto, e alguns
grupos, como a Intersindical, são contra, mas Guilherme Boulos, do
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), é a favor.
Depois
da conversa com os ministros, os movimentos contrários à antecipação
das eleições passaram a admitir que podem mudar de posição. "Depois da
decisão do Senado pode até haver novas eleições", disse João Paulo
Rodrigues, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).
A
reunião de sexta-feira contou com a participação do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, cotado para ser candidato do PT. "Não acredito que
Lula seja candidato a um mandato-tampão", disse o presidente da Central
Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas.
Lula
tem dado sinais contraditórios sobre o apoio à proposta de abreviar o
mandato de Dilma, mas a CUT classifica a ideia como uma "capitulação".
"Eu conversei com a presidenta ontem (domingo) e disse claramente a ela
que isso seria homologar o golpe. Não está dado que, no julgamento
final, daqui a seis meses, haverá impeachment. Quando perceberem quem é
Temer na Presidência será outra coisa", disse Freitas.
Mesmo
que a proposta seja enviada ao Congresso, no entanto, sua aprovação é
considerada dificílima. Uma PEC precisa ser votada em dois turnos tanto
na Câmara como no Senado e só é aprovada se obtiver apoio de três
quintos dos deputados (308) e dos senadores (49).
O
governo, os movimentos e o PT estão cientes dos percalços, mas avaliam
que, mesmo que sejam derrotados no Congresso, podem usar o tema para
desgastar Temer e manter acesas as mobilizações contra o impeachment que
marcaram a reaproximação entre partido e sua base. Em outra frente,
senadores petistas vão buscar o diálogo com a ex-ministra Marina Silva
(Rede), defensora da realização de novas eleições.
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