quarta-feira, 6 de julho de 2016

Moradores de favelas pacificadas temem pelo fim do projeto das UPPs. Depois de o prefeito Eduardo Paes pôr a segurança do Rio em xeque, pesquisa revela que maioria dos moradores de áreas pacificadas teme que o programa acabe após a Olimpíada

RIO DE JANEIRO/RJ
 Onda de ataques as UPPs. Reforço de policiamento na Rocinha. Na foto, policiais militares fazem patrulhamento na Via Ápia (Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo)
O temor do prefeito Eduardo Paes, que numa entrevista à rede de TV americana CNN disse estar preocupado com a segurança não só na Olimpíada, bem como depois da competição, vem ao encontro do que pensam moradores das áreas ditas pacificadas do Rio de Janeiro. Feita em parceria pela FGV e UFMG, a pesquisa Dimensionamento dos impactos sociais das UPPs em favelas cariocas revela que a maioria dos entrevistados receia que o programa, tido como o mais bem-sucedido nessa esfera, acabe após os Jogos Olímpicos. “Essa dúvida começou antes mesmo da Copa do Mundo. Existe a desconfiança de que o projeto da UPP não é feito para os moradores locais, mas, sim, para os grandes eventos”, diz Mário Grijó, coordenador da FGV Opinião.

O universo da pesquisa se dividiu em dois grupos de favelas. O primeiro deles reuniu as comunidades pioneiras onde o programa foi implantado, como Santa Marta, Cidade de Deus, Providência, Borel e Vidigal, com as entrevistas sendo feitas dois anos atrás. O outro segmento alinhou regiões em que a pacificação ocorreu um período depois, entre 2012 e 2014. Entre elas destacam-se algumas dos territórios mais desafiadores para a consolidação do programa, como é o caso de Alemão, Vila Cruzeiro, Rocinha e Jacarezinho. Nesse segundo grupo, a pesquisa foi realizada entre o fim de 2015 e o começo deste ano. No total, a enquete ouviu 2 mil pessoas.

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De acordo com Grijó, a falta de serviços públicos foi decisiva para que o programa não recebesse uma avaliação melhor. O grupo das UPPs mais antigas recebeu nota 6 dos entrevistados, enquanto o outro conjunto ficou apenas com 4,5 numa escala que vai até 10. “Muitos moradores reclamam que só entrou a polícia, sem o devido acompanhamento dos serviços providos pelo Estado. Ao retomar essas regiões, o governo havia prometido que levaria as duas coisas”, afirma Grijó. “Eles dizem que a UPP é maquiagem, uma política de fachada.” O fato de contêineres abrigarem as unidades de polícia pacificadora reforça a percepção de que o programa é temporário e já tem data para acabar. O pesquisador também se diz surpreso com o apoio majoritário dos entrevistados para que as UPPs permaneçam.

Uma crise de confiança nas UPPs
A divulgação da pesquisa, na terça-feira (5), coincidiu com a chegada da Força Nacional para cuidar das instalações olímpicas. Segundo o Ministério da Justiça, 85 mil agentes farão a segurança da cidade durante a Olimpíada. Mais da metade são servidores federais: 38 mil militares das Forças Armadas e 9.600 da Força Nacional de Segurança, além de policiais federais e rodoviários. Para ter uma ideia desse contingente, a Polícia Militar não passava de 47 mil pessoas em todo o Estado.

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Na semana passada, o Palácio do Planalto liberou R$ 2,9 bilhões para que o governo fluminense pudesse pagar gratificações e salários atrasados dos policiais e investir na segurança para os Jogos. A medida foi tomada após o governador interino Francisco Dornelles decretar situação de calamidade pública. O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, afirmou nesta terça-feira (5), ao lado de Eduardo Paes, que “a população pode ficar tranquila quanto à segurança”. O prefeito, por sua vez, amenizou o tom da entrevista dada no fim de semana à TV americana e apontou avanços nos últimos tempos. “Vivemos um momento muito ruim, até pelas dificuldades dos policiais”, diz ele, referindo-se aos atrasos salariais, mas otimista em relação a que o aporte financeiro feito pelo governo federal resolva o problema.

por: HUDSON CORRÊA E SÉRGIO GARCIA/Época

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