Nesse momento abandono por um breve
período a neutralidade exigida para atuar como editor da Revista
Sociedade Militar, que publica textos de tantos renomados articulistas,
para escrever algumas linhas como pessoa comum, pai de três filhos,
militar da reserva, assalariado e que, além da formação militar, nas
horas que restaram entre inúmeros plantões, se graduou e pós-graduou
numa universidade pública recheada de militantes, que já naquela época
se achavam donos do recinto.
Falo aqui como o amigo que troca idéias
com todos aqueles que não só nos enviam textos, mas também participam
sugerindo, elogiando ou criticando nos comentários, emails e whatsapp
(21 98106-2723).
Temos
acompanhado o cenário político e a voz das ruas faz algum tempo. Fui a
várias manifestações e conheço muitas lideranças de movimentos
populares, alguns intervencionistas e alguns radicalmente outros
anti-intervenção. Também, obviamente, conheço muito bem a mente militar.
Passei mais tempo de minha vida na caserna do que fora dela.
Ainda que os comandantes militares
insistam em dizer que as ações das Forças Armadas sejam delimitadas por
parâmetros como legalidade e estabilidade, crescem em meio à sociedade e
até na reserva, os apelos pela chamada intervenção militar. E os
comandantes sabem disso. Frequento pessoalmente vários fóruns e grupos
de inteligência, militares, segurança pública e policia militar e
percebo claramente que o clamor por uma medida saneadora mais drástica
cresce na mente de muitos do nosso meio.
São antidemocratas? Não, jamais.
Contudo, quem melhor do que nós, detentores de algumas informações
privilegiadas, para saber o que se passa por trás dos panos? Se
os militares e comunidade de segurança pública estão no seu limite, se
decepcionam com a democracia, pode-se crer que as coisas estão muito
piores do que já pôde perceber o cidadão comum.
Alguns economistas e políticos, assim
como o próprio Comandante do Exército deixam explicito em suas falas que
qualquer sinal de possível instabilidade pode prejudicar a retomada do
país em busca de crescimento e progresso. É uma verdade, estão certos e
isso em parte explica sua sobriedade nas declarações públicas.
O mundo, os investidores em potencial,
aqueles que realmente decidem os destinos da economia, acreditam que uma
“higienização da classe política” pode acontecer pelo menos em médio
prazo no Brasil? Sim, AINDA acreditam, tanto que os indicadores chegaram
a melhorar nos últimos meses.
Contudo, fatores como o tempo que o
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL leva para julgar autoridades com foro
privilegiado, como é o caso de Renan Calheiros, envolvido como acusado
em processos que já duram mais de 5 anos, e a luta de parlamentares por
corromper a proposta de iniciativa popular anti-corrupção, endossada por
mais de 2 milhões de brasileiros, fazem crescer os apelos para que os
militares tomem partido e realizem de alguma forma a moralização
necessária.
Além das centenas de grupos
intervencionistas nas redes sociais, alguns com mais de 200 mil
participantes que se comunicam diariamente, pudemos identificar duas
grandes rádios online 24 horas por dia divulgando debates, discursos e
conversas em apologia à intervenção militar. O movimento não para de
crescer e, embora seja um assunto tabu, é acompanhado de perto.
A ocupação realizada no Congresso por
militantes de direita acendeu uma luz vermelha. A imprensa e classe
política mais atenta percebeu que a sociedade aos poucos deixa de
vislumbrar possibilidades de se resolver “a coisa” de forma menos
impactante.
Cada vez maior número de pessoas têm se
desiludido com a velocidade do “saneamento político” e aumentam a
pressão para que as forças armadas assumam o controle e inclusive
enquadrem e julguem rapidamente todos os políticos envolvidos em
falcatruas por crimes contra a segurança nacional, realizando em seguida
eleições livres e sem a participação de qualquer político já condenado
por corrupção ou envolvimento em qualquer crime. Eles se autodenominam
intervencionistas e foi uma parte mais radical desse grupo acabou
ocupando o congresso nacional há cerca de uma semana.
Grande parte dos oficiais generais na
reserva declaram sem pudor que a ação militar não pode ser descartada
como uma das formas de resolver a crise de moralidade atualmente vivida.
Recentemente o deputado Jair Bolsonaro
declarou no plenário do Congresso Nacional que se na calada da noite o
congresso nacional corromper a proposta popular e implantar ali dentro
uma forma de anistiar parlamentares corruptos há possibilidade de o povo
ir para as ruas pedir o fechamento do parlamento.
O filósofo Olavo de Carvalho, que de sua
residência nos EUA orienta alguns personagens anti-esquerda, como
Lobão, e que no início do movimento anti-Dilma chegou a declarar que o
Impeachment não adiantaria muito para o país essa semana fez postagens
em redes sociais incentivando a sociedade para que ocupe de forma
DEFINITIVA o parlamento.
A verdade é que a corrupção no Brasil a
cada dia se mostra mais entranhada na política e já poucos de nós
acreditam que a médio prazo conseguiremos mudar isso. Com isso
entendemos que a instabilidade não é causada por um grupo de
intervencionistas que de forma precipitada – mas de boa vontade e com
propostas em sua esmagadora maioria, corretas – entrou no Congresso
Nacional; por um deputado que insinue a possibilidade de fechamento do
congresso ou por recados de um filósofo que reside nos EUA.
Esperamos e desejamos realmente que o judiciário brasileiro consiga vencer a oposição e terminar o que começou a fazer.
É evidente que os comandantes militares
não desejam assumir o controle do país. É obvio que se busca a todo
custo a “solução democrática”. Por isso a declaração padrão é “nossa sociedade não precisa ser tutelada“.
Quem em sã consciência desejaria suportar o peso de tomar o controle de
um país continental como o nosso, tendo que enfrentar não só as
centenas de grupelhos de esquerda que se levantariam em vários locais,
mas também a pressão da comunidade internacional em peso?
Muita coisa poderia acontecer, a
complexidade é enorme, nenhum ensaio, prospecção, pode prever tudo,
muita gente inocente pode sofrer, morrer.
Com toda certeza esse é o último recurso e deve sim ser protelado ao máximo.
Tomo a liberdade de terminar essa conversa citando excerto de ótimo texto de um conhecido oficial:
“Empregar
as FFAA enquanto estamos progredindo bem com outras peças de manobra é,
de fato, um grande equívoco, assim como também é por em dúvida o seu
comprometimento constitucional, a sua subordinação ao interesse da
Pátria e a sua competência para acompanhar e interpretar a conjuntura,
imaginando-as incapazes de, por si próprias, conhecer o momento oportuno
para agir e prevenir danos maiores à democracia … (General de Brigada Paulo Chagas)”
(JornaldoPaís)
VEJA VIDEO ABAIXO
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