DELAÇÃO
O criminalista Adriano Bretas, de Curitiba, que já atuou em negociações de acordo de delação premiada de alvos da Operação Lava Jato, assumiu a defesa do ex-ministro Antonio Palocci. A mudança de advogado tem como objetivo negociar a colaboração do petista com investigadores.
Preso desde setembro de 2016 na Operação Omertà – desdobramento da Lava Jato
-, o ex-ministro vinha sendo defendido pelo criminalista José Roberto
Batochio, conhecido por sua posição contrária à delação premiada. Não há
delatores entre seus clientes, que incluem o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e o ex-ministro Guido Mantega.
Procurado nesta quarta-feira, o escritório de Batochio disse
que não havia sido consultado sobre a possibilidade de um acordo de
delação envolvendo Palocci. “Até o presente momento o advogado José
Roberto Batochio não foi comunicado de qualquer decisão do ex-ministro
Antonio Palocci no sentido de celebrar acordo de delação premiada e nem
da contratação de advogado para esse fim específico, uma vez que o
escritório que defende o ex-ministro não aceita causas com demissão
premiada”, afirma a nota. Já Bretas tem entre seus clientes o doleiro
Alberto Youssef, um dos primeiros delatores da operação.
Processo
Palocci é alvo de ação penal que tramita na 13ª Vara
Criminal Federal de Curitiba, do juiz Sérgio Moro. No processo, ele é
acusado de corrupção e lavagem de dinheiro.
Na semana passada, ao ser interrogado pelo juiz da Lava
Jato, Palocci apontou a possibilidade de colaborar com as investigações.
“Fico à sua disposição hoje e em outros momentos, porque todos os nomes
e situações que eu optei por não falar aqui, por sensibilidade da
informação, estão à sua disposição o dia que o senhor quiser”, afirmou o
ex-ministro a Moro na ocasião.
No depoimento, Palocci surpreendeu o magistrado ao elogiar o
que chamou de “maior operação contra a corrupção já desfechada no
país”, e que levou para a cadeia ele próprio e outros importantes nomes
do seu partido. O ex-ministro é o primeiro político da alta cúpula do PT
a acenar para a possibilidade de fazer delação premiada. Na semana
passada, a notícia sobre um eventual acordo de colaboração chegou a
preocupar o mercado financeiro pela possibilidade de que ele possa
envolver nomes ligados a instituições bancárias.
No processo em que é réu, Palocci é apontado como o codinome
‘Italiano’ que consta da planilha de propinas da empreiteira Odebrecht.
Os investigadores suspeitam que ele recebeu R$ 128 milhões da
construtora e repassou parte do dinheiro de propina ao PT.
Delação
Um dos casos em que o ex-ministro atuou, segundo delatores,
está relacionado a contratos de sondas de perfuração marítima, para
exploração das camadas do pré-sal, pela Petrobrás. Três delatores da
Odebrecht afirmaram aos procuradores da Lava Jato que o ex-ministro
cobrou 1% de propina pelos contratos de seis sondas.
Rogério Araújo, que era o contato da empresa no negócio,
disse ter ouvido de um ex-executivo da estatal que o “Sapo Barbudo”, que
seria uma referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, teria
dado instruções sobre o acerto ao PT.
A conversa teria ocorrido em 2012, logo depois da assinatura
do contrato com a Sete Brasil, empresa criada pela Petrobrás, em
parceria com bancos e recursos de três fundos de pensão. Ao todo, eram
21 sondas que a Sete Brasil forneceria para a Petrobrás. Marcio Faria,
que era o líder empresarial da área e superior a Araújo, confirmou que
ouviu o pedido.
Único alvo da empresa ainda preso na Operação Lava Jato,
Marcelo Odebrecht confirmou o pedido e disse que avisou Palocci que o
valor cobrado era indevido, pois esse tipo de acerto, segundo o
empresário, já estaria incluso na “conta corrente” que o grupo tinha
acordado com o PT. “Não tem nenhum cabimento, não teve nenhum
favorecimento, não tem porque ter isso. Eu tinha conta corrente
exatamente para impedir esse tipo de pedido caso a caso a fui falar com
Palocci”, afirmou Marcelo em depoimento da sua delação premiada.
As delações dos três nomes da Odebrecht resultaram em uma
petição do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que vai ser
encaminhada a Moro, em Curitiba. Os negócios de sondas da Sete Brasil já
são alvo de apurações da força-tarefa, no Paraná.
Procurada, a defesa de Lula negou o envolvimento do ex-presidente em esquemas de corrupção.
(com Estadão Conteúdo)
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