Atos de vandalismo cometidos próximos à casa do presidente Michel Temer, na região de Pinheiros em São Paulo, durante protesto contra as reformas da previdência e trabalhista - 28/04/2017 (Ricardo Matsukawa/VEJA.com)
O bairro Alto de Pinheiros, um dos mais ricos de São Paulo, se tornou uma praça de guerra na noite desta sexta-feira. Um restaurante, uma clínica de tratamento capilar, pelo menos três agências bancárias e diversos terminais de ônibus, lixeiras e placas de sinalização foram depredados por um grupo de mascarados que acompanhava o ato contra as reformas previdenciária e trabalhista na Zona Oeste da capital.
Os chamados black blocs, que caminhavam atrás da passeata, tomaram a dianteira nas proximidades da casa do presidente Michel Temer, o destino final do protesto. Enquanto a maior parte dos manifestantes ficou na Avenida Fonseca Rodrigues, onde políticos de esquerda discursavam em trios elétricos, os mascarados se dirigiram até o imóvel. Depararam-se no meio do caminho com grades de 1 metro e a Tropa de Choque da PM. Agentes do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência também reforçavam a segurança do local.
Com exceção dos manifestantes e policiais, as ruas repletas de casarões, onde reside boa parte da elite paulistana, estavam vazias. A única movimentação era dos convidados de um casamento que acontecia numa mansão bem perto dali.
Confronto
Com o grupo dividido, a liderança do movimento, formada por sindicalistas, senadores e deputados, perdeu o controle da multidão. A situação começou a ficar tensa quando black blocs tentaram acender com pedaços de árvores e folhas uma grande fogueira em frente à praça de Temer. O estouro se deu no momento em que um mascarado puxou o cassetete de um PM, que reagiu com golpes. Uma pequena turba, então, partiu para cima, tentou derrubar as grades e passou a arremessar pedras contra os oficiais. O cordão de policiais que estava na frente recuou, dando lugar à Tropa de Choque que, protegida por escudos, disparou dezenas de bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.
Num primeiro momento, a PM se concentrou em proteger a praça onde fica a propriedade do presidente. Isso deu tempo para que os mascarados se espalhassem pelas ruas de Alto de Pinheiros. Por onde passavam, ficava um rastro de destruição. Barricadas de fogo foram montadas com lixo jogado nas vias e alguns mais atrevidos pegaram paus e pedras para enfrentar a PM, que vinha no encalço deles jogando bombas a rodo e espirrando jatos de água.
Manifestantes que protestavam pacificamente acabaram sendo atingidos e se retiraram, queixando-se da truculência da polícia e da arruaça dos black blocs. Assustados com o confronto, convidados do casamento chegavam apressados em carros de luxo com os vidros fechados. No caminho, desviavam de estilhaços de vidro, placas derrubadas e montes de lixo em chamas. Um fotógrafo gritou que a noiva estava a bordo de um deles.
Vandalismo
Durante a dispersão, os mascarados, que costumam vandalizar bancos por serem “símbolos do capitalismo”, escolheram também como alvo estabelecimentos comerciais, como o restaurante Senzala e a clínica de tratamento capilar Murici.
O garçom Hercules Ferreira Gomes de Sá contou que o grupo começou a atirar pedras e cadeiras contra as vidraças com a clientela ainda nas mesas. Diante da ofensiva, as luzes foram apagadas e os clientes correram para se refugiar na cozinha e nos banheiros. “Não entendi porque eles fizeram isso. Deve ser pelo nome daqui – Senzala. Acham que é racista. Eram uns 30 garotos com o rosto coberto”, disse o garçom, ainda espantado com o que havia acontecido. Ele afirmou que, na hora, chegou a chamar a polícia, que estava posicionada na rua de trás, mas nada foi feito.
O restaurante foi citado recentemente pelo ex-deputado Eduardo Cunha, preso na Lava Jato. Segundo o peemedebista, o local foi palco de um almoço entre ele e Temer, que teria precedido um encontro em São Paulo com o ex-executivo da Odebrecht Márcio Faria da Silva.
Já o ataque à clínica começou aparentemente sem motivo. O local era guardado pelo segurança Daniel Moraes de Oliveira. “Eu estava aqui dentro quando vi a primeira pedra. Cheguei a pedir para eles pararem, joguei a lanterna no rosto deles. Mas não adiantou. Se eu fosse sozinho para cima, eles iam me espancar”, relatou o segurança. Na fase final de construção, a clínica estava cercada por entulho, tijolos e tábuas de madeira, que municiaram os black blocs na destruição da fachada do imóvel, agências bancárias e pontos de ônibus próximos dali.
Após o confronto, a Polícia Militar fez uma varredura na região com motocicletas, carros e os blindados do Choque. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, 21 foram presos por atos de vandalismo. O Corpo de Bombeiros também foi acionado para apagar os focos de incêndio e atender as pessoas que passaram mal por causa das bombas.
Temer não estava em casa, mas certamente seus vizinhos – banqueiros, empresários, políticos e celebridades – não ficaram felizes com as cenas de vandalismo protagonizadas por manifestantes violentos que foram até lá para protestar contra o seu governo. Xingamentos ao peemedebista e frases como “Morte ao Patrão” foram pichadas em diversos muros e portões de residências do bairro. De fato, foi um dia atípico para o Alto de Pinheiros.
( Eduardo Gonçalves/Veja.com.br)
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