UM CIVIL NO PODER
O mineiro Tancredo Neves foi o primeiro
presidente civil eleito após a ditadura militar, que durou 21 anos no
país (1964-1985). Em 15 de janeiro de 1985, em eleição indireta no
Colégio Eleitoral, composto de senadores, deputados federais e
representantes das Assembleias Legislativas estaduais,Tancredo derrotou o
candidato apoiado pelos militares, Paulo Maluf
Em 14 de março, véspera da posse,
Tancredo teve fortes dores abdominais,foi internado às pressas e fez uma
operação de emergência. No dia seguinte, quem tomou posse em seu lugar
foi o vice, José Sarney, ex-presidente do PDS, partido que apoiava a
ditadura. Após uma agonia de 38 dias e sete cirurgias,Tancredo foi
declarado morto em 21 de abril
Uma das teorias sobre a morte dizia que
Tancredo havia sido assassinado por militares contrários à entrega do
poder. A tese ganhou força em 1996, quando o general Newton Cruz, em
entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, disse que
Paulo Maluf o procurou em outubro de 1984 (três meses antes da votação
no Colégio Eleitoral), propondo um golpe caso Tancredo fosse eleito.
Segundo Cruz, comandante militar do Planalto à época, Maluf disse a ele
que Tancredo estava muito doente e não teria como comandar o país
Outro rumor foi que a internação na
véspera da posse seria devido a um atentado sofrido por Tancredo quando
assistia à missa na Catedral de Brasília. Durante a celebração, faltou
luz e alguns presentes juram que ouviram um tiro.Tancredo teria sido
levado direto ao Hospital de Base de Brasília para uma operação de
emergência
A repórter da Rede Globo Glória Maria
teria presenciado o momento em que o presidente foi alvejado – e ainda
teria levado um tiro de raspão na perna. Para silenciá-la, a Globo,
histórica aliada do regime militar, destacou a jornalista para ser
correspondente no Marrocos – uma forma de mantê-la bem longe das
discussões sobre o caso.
Outra hipótese diz que Tancredo foi
envenenado. Isso porque João Rosa, mordomo do político, sofreu dores na
barriga similares, ficou 16 dias internado, passou por várias cirurgias e
enfim morreu – um dia depois do patrão. O envenenamento também foi
atribuído aos militares, mas dessa vez com o apoio da CIA, a agência de
inteligência dos EUA. O alvo seria Tancredo, claro, mas o desafortunado
mordomo estaria no lugar errado na hora errada.
O clima de desconfiança sobre a agonia
de Tancredo foi alimentado por mentiras e erros médicos. A explicação
oficial para a cirurgia na véspera da posse foi uma diverticulite
(inflação na parede do intestino), devidamente tratada com a
intervenção. Mas, depois da operação, o presidente só piorou e precisou
voltar ao centro cirúrgico seis vezes, acometido por sangramentos e
infecções.
A equipe de Tancredo divulgou, em 25 de
março, uma foto para provar que ele se recuperava bem. A imagem mostrava
o político ao lado dos médicos. Não convenceu. Segundo uma reportagem
da revista VEJA na época, ele tinha duas sondas injetadas no corpo e,
atrás do sofá, uma enfermeira segurava um frasco de soro. Com a notícia
da farsa, o tiro saiu pela culatra e logo se espalhou que Tancredo já
estava morto na foto
Pairam dúvidas até sobre a data da
morte. Um médico da equipe disse que o cérebro de Tancredo parou de
funcionar em 20 de abril. Mas sua morte foi decretada no dia seguinte. O
21 de abril teria sido escolhido para eternizar a ideia de que Tancredo
era um herói, assim como o homem homenageado no feriado desse dia,
Tiradentes
Complicações decorrentes da retirada de um tumor no intestino mataram Tancredo
– Tancredo já vinha sentindo dores abdominais desde junho de 1984 e as escondeu para não tumultuar a transição para a democracia
– O Hospital de Base de Brasília não
oferecia condições ideais para a cirurgia (a UTI estava em reforma), mas
os médicos preferiram mantê-lo lá
– Élcio Miziara, médico que fez a
biópsia da parte do intestino de Tancredo extraída na primeira cirurgia,
declarou que se tratava de um tumor benigno. A verdade foi camuflada
para não “gerar pânico no país”, segundo Miziara, que acabou processado
pelo Conselho Federal de Medicina
– No dia em que a foto de Tancredo foi
divulgada, ele teve uma piora súbita e foi transferido para São Paulo,
onde viria a morrer. Mas, na foto, ele estava vivo
– Glória Maria nega que
tenha sido testemunha de um suposto atentado contra Tancredo. A Globo
afirma que, apesar de Glória ter feito muitas reportagens no mundo todo,
ela jamais foi correspondente no exterior
– Embora fosse do partido pró-ditadura,
Sarney era considerado um traidor do regime militar. Tanto que João
Figueiredo, último presidente do período, que passaria a faixa a
Tancredo, negou-se a transmitir o cargo a Sarney
(Jornal do País)
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