BRASIL, POLÍTICA
(Ricardo Stuckert/Divulgação)
Em um território tanto brasileiro quanto uruguaio, o Parque Internacional, na divisa entre as cidades Santana do Livramento e Rivera, os ex-presidentes dos dois países, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Pepe Mujica,
sentaram-se lado a lado na tarde desta segunda-feira. Enquanto Lula
elogiou a trajetória de Mujica, o uruguaio aproveitou a ocasião para cobrar que a esquerda “cuide enormemente” da conduta de seus líderes, que devem adotar um estilo de vida do “povo” e não da “burguesia”, e criticou a centralização em uma figura única.
O encontro dos líderes é parte da agenda da caravana de Lula pelo Rio Grande do Sul. Diferentemente da caravana em Bagé, que foi recebida nesta manhã com protestos de ruralistas e empresários,
em Santana do Livramento Lula foi recebido efusivamente por seus
apoiadores. Rafael Côrrea, ex-presidente do Equador, também esteve
presente no ato.
“Nós, da esquerda, também cometemos erros. Também nos
equivocamos. Não queremos aprender que as derrotas da esquerda são
filhas de suas divisões. Desde a Revolução Francesa, da Espanha
franquista, da Alemanha nazista, isso foi possível porque a esquerda se
dedicou a lutar entre si, muito mais do que lutar com a direita. Temos
de aprender, em toda a América Latina, que, sem unidade, não há poder. E
que ninguém tem a verdade total. Nós que brigamos pela igualdade temos o
dever de viver como vive a maioria do nosso povo, e não como vive a
minoria privilegiada. Os partidos de esquerda têm de cuidar enormemente
da conduta e da vida da gente que os representa. Porque a grande
burguesia estende a mesa, nos convida e, por humanismo, temos de ir. Mas
a mesa é deles”, disse Mujica.
Atualmente senador, Mujica também criticou a centralização de lideranças em uma “figura única”. “As mudanças [sociais]
não podem se respaldar em uma figura única e o futuro não é uma figura
única. Há que se construir o partido”, disse o uruguaio. Ele também
afirmou que “as verdades são relativas” e que não se “deve dividir a
esquerda por qualquer coisa”.
Por sua vez, Lula mencionou a probabilidade de ser preso em decorrência da condenação em segunda instância pelo caso do tríplex do Guarujá. O ex-presidente brasileiro chegou a sugerir que poderia ter aproveitado a caravana para se exilar
no Uruguai ou no Paraguai, mas que quem vai sair do país são seus
opositores. “Estou sendo processado, você sabe, estou sendo ameaçado de
prisão, você sabe. Passei ali na fronteira, poderia ter dado um pulo
para o Paraguai, para o Uruguai, não dou. Sabe por quê? Porque mais dia
ou menos dia, quem vai sair do país são os meus acusadores de hoje. Eles
inventaram uma mentira a meu respeito”, disse Lula.
Lula também acusou os Estados Unidos de interferirem na
política brasileira. “Tem o dedo do governo americano em todo esse
processo mentiroso que está acontecendo no Brasil. O dedo da Secretaria
de Justiça dos Estados Unidos. Está ficando cada dia mais claro quem é
que está fazendo o que nesse país”, disse o petista.
“Eu aprendi a levantar a cabeça, não sou de baixar a cabeça,
Pepe. Quero que você saiba que nós vamos enfrentar, que vamos vencer.
E, se for possível e meu partido quiser, eu vou ser candidato a
presidente da República. Se for candidato, é muito provável que a gente
ganhe as eleições”, disse Lula.
A próxima parada da caravana “Lula pelo Brasil” será na
região central do estado, na cidade de Santa Maria, na terça-feira. Na
quarta, Lula passará por São Borja; na quinta ele estará em Palmeira das
Missões; e, na sexta, em Ronda Alta, Passo Fundo e São Leopoldo.
(Por
Paula Sperb/Veja.Abril.com.br)
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