sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Extorsão: delegado chefe de quadrilha se entrega.Em depoimento, Rodrigo Santoro negou todas as acusações

RIO DE JANEIRO
 Delegado Rodrigo Santoro chega ao presídio de Benfica, na Zona Norte
 Delegado Rodrigo Santoro chega ao presídio de Benfica, na Zona Norte - Armando Paiva / Agência O Dia 

Rio - O delegado Rodrigo Santoro entregou-se à Corregedoria da Polícia Civil, por volta das 13h desta quinta-feira. Com nome de galã, ele é apontado como chefe de quadrilha que teria praticado extorsões contra pessoas acusadas de cometer atividades criminosas. Segundo o Ministério Público, o grupo comandado por Santoro é acusado de organização criminosa, corrupção passiva e ativa, além de concussão (crime praticado por funcionário público quando ele exige vantagem indevida para si ou para outro). Em depoimento, ele negou todas as acusações.

Rodrigo Santoro trabalha atualmente na Delegacia de Acervo Cartorário (Capital), mas já foi lotado na 34ª DP (Bangu), 35ª DP (Campo Grande), 36ª DP (Santa Cruz), Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Niterói e na Delegacia de Roubos e Furtos (DRF).

O delegado ostentava nas redes sociais. Em seu perfil no Facebook e de outras pessoas em comum, ele aparece em fotos em momentos de lazer com família e amigos em resort em Angra dos Reis e até em viagem internacional na neve. Com um salário líquido de quase R$ 17 mil, ainda assim Rodrigo Santoro fazia parte de um esquema para extorquir supostos criminosos.

 
 Delegado Rodrigo Santoro é um dos alvos da operação - Reprodução

"Sou intenso. Amo a vida, a família e os amigos. Busco incessantemente a felicidade", se descreve na rede social o Russo, como é chamado por alguns amigos. Sua última postagem pública foi anunciando seu "casamento", em 14 de fevereiro deste ano. "Como fomos morar juntos, decidimos mudar o status no Face, mais não houve cerimônia (sic)", disse Santoro.

A operação foi realizada pela Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança (Sinte), as corregedorias das polícias Civil e Militar e o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), ligado ao Ministério Público Estadual (MPRJ). Ao todo, o MPRJ denunciou 48 pessoas, sendo elas 24 policiais civis, seis policiais militares, dois bombeiros militares, um agente penitenciário e outras 15 que atuavam como informantes ou ajudantes dos policiais.

Como funcionava o esquema
Para o Ministério Público, o grupo estava reunido em torno de um objetivo comum: identificar pessoas que estivessem fora da lei, seu potencial econômico e fazer “operações” policiais contra elas, sempre com a intenção de pega-las em flagrante comentando algum tipo de crime. Após isso, eles exigiam uma quantia muito alta em dinheiro para que os suspeitos não fossem presos ou tivessem as mercadorias apreendidas.

A investigação identificou que qualquer pessoa que praticasse algo ilegal poderia ser vítima do bando. O MP identificou extorsão contra vendedores de mercadorias piratas, ambulantes, postos de gasolina, bingos, donos de veículos clonados e comerciantes em situação irregular.

Ainda de acordo com o MP, a quadrilha chegou a fazer ameaças e até agrediram fisicamente as vítimas. O bando também chegou a desviar os materiais apreendidos para serem revendidos. O esquema também tinha informantes, responsáveis por levar aos agentes denunciados dados sobre possíveis alvos envolvidos com ilícitos e que poderiam gerar propina.

Rodrigo Santoro e Delmo Fernandes eram do "alto escalão" e gerenciavam, fiscalizavam e recebiam os lucros obtidos pelo esquema criminoso. financeiros produzidos pelos demais membros da organização. Já a atuação do delegado Thiago Luis ocorria quando a negociação com os suspeitos pegos em atividade criminoso não era concluída no local da abordagem. Nesses casos, o alvo era levado para a delegacia, apresentado a Thiago Luis, que convencia o alvo de fazer o pagamento de propina, reforçando as ameaças feitas pelo grupo.

O esquema de arrecadação de vantagens ilícitas começou na 34ª DP, em Bangu, mas com as transferências dos policiais envolvidos, passou a ser praticado na 36ª DP (Santa Cruz) e, posteriormente, na Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente (DPCA) de Niterói.

A primeira fase da Operação Quarto Elemento foi realizada em setembro do ano passado para cumprir seis mandados de prisão, quatro deles contra policiais civis e outros dois contra suspeitos que atuavam como informantes dos agentes.

(Por Maria Inez Magalhães e Rafael Nascimento/O Dia) 

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