STF
© Reuters / Adriano Machado
A Primeira Turma do STF
(Supremo Tribunal Federal) prevê julgar nesta terça-feira (28) o
recebimento de uma denúncia contra o candidato a presidente Jair
Bolsonaro (PSL), acusado do crime de racismo em relação a quilombolas,
indígenas, refugiados, mulheres e LGBTs.
A turma, considerada linha-dura é formada pelos ministros Alexandre
de Moraes, Luiz Fux, Rosa Weber, Luís Roberto Barroso e Marco Aurélio,
relator do processo.
Se o colegiado entender que há elementos que
justifiquem a abertura de uma ação penal, Bolsonaro vai se tornar réu
sob acusação de racismo. O candidato já é réu em outras duas ações
penais no STF acusado de incitar o estupro, em um caso envolvendo a
deputada Maria do Rosário (PT-RS).
Naquele caso, Bolsonaro foi
denunciado após ter dito que não estupraria a colega porque ela "não
merecia". A denúncia foi recebida por 4 votos a 1. Somente Marco Aurélio
votou contra a abertura de ação penal.
Inicialmente, o julgamento do recebimento da denúncia de racismo
estava previsto para 4 de setembro, quando a campanha eleitoral já
estará a pleno vapor na TV. A defesa de Bolsonaro pediu a Marco Aurélio
para adiantar a análise para esta terça e o relator atendeu.
O
advogado do candidato afirmou ao STF que não estará disponível para
participar da sessão no dia 4, o que embasou o pedido de antecipação. Há
um temor do impacto do julgamento sobre a campanha.
Na semana
passada, ao falar com jornalistas, Marco Aurélio disse que é possível
que o Supremo tenha de decidir se réus em ações penais podem se
candidatar à Presidência da República e assumir o cargo.
Isso
porque, em 2016, o plenário da corte deliberou, ao interpretar a
Constituição, que réus que estejam na linha sucessória da Presidência
não podem assumir o Planalto. Na ocasião, discutiu-se o caso de Renan
Calheiros (MDB-AL), que era presidente do Senado.
Em resposta a
perguntas dos jornalistas, Marco Aurélio disse que essa discussão causa
insegurança jurídica para Bolsonaro. O ministro observou que o candidato
já é réu (no caso do estupro), independentemente do resultado do
julgamento sobre a denúncia de racismo. A discussão poderá ser levantada
na sessão da Primeira Turma pela defesa ou por algum ministro.
Bolsonaro
foi alvo da denúncia de racismo em abril. Segundo a procuradora-geral
da República, Raquel Dodge, ele "usou expressões de cunho
discriminatório, incitando o ódio e atingindo diretamente vários grupos
sociais", durante uma palestra no Clube Hebraica do Rio, em 2017.
Dodge
classificou a conduta de "ilícita, inaceitável e severamente
reprovável". Primeiro, de acordo com a denúncia, Bolsonaro destilou
preconceito contra as mulheres, ao dizer: "Eu tenho cinco filhos. Foram
quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher".
"Em
seguida, Bolsonaro apontou seu discurso de ódio para os índios,
impondo-lhes a culpa pela não construção de três hidrelétricas em
Roraima e criticando as demarcações de terras indígenas", ainda segundo a
Procuradoria-Geral da República.
Em seguida, o órgão afirmou que o
ataque continuou mirando os quilombolas, quando Bolsonaro disse: "Eu
fui em um quilombola em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais
leve lá pesava sete arrobas". O deputado também declarou que tais
comunidades "não fazem nada", "nem para procriador eles servem mais".
Para Dodge, Bolsonaro tratou "com total menoscabo os integrantes de
comunidades quilombolas. Referiu-se a eles como se fossem animais, ao
utilizar a palavra arroba".
A pena para o crime atribuído ao
candidato vai de 1 a 3 anos de reclusão. A PGR também pediu a condenação
a um pagamento mínimo de R$ 400 mil por danos morais coletivos.
Em
junho, o advogado de Bolsonaro, Antônio Sérgio Moraes Pitombo, afirmou
ao Supremo que a denúncia de Dodge não é clara sobre quais condutas
configurariam os supostos crimes, o que dificulta a ampla defesa.
Pitombo
pediu para o STF rejeitar a denúncia, em razão das acusações genéricas,
ou, caso não acolha esse pleito, que reconheça que os atos de Bolsonaro
estavam protegidos pela imunidade parlamentar, pois ele participou do
evento no Clube Hebraica na condição de deputado.
Ainda de acordo
com a defesa, a PGR tirou as frases de contexto. "O uso da unidade de
medida 'arroba' para se referir ao peso dos quilombolas, cumpre
esclarecer, não se deu para desumanizá-los ou equipará-los a animais
[...]. Trata-se, tão somente, de uma hipérbole, voltada a enfatizar o
discurso, e não a menosprezar ou discriminar", disse a defesa.
"Da análise contextualizada das falas, se percebe que as afirmações
destacadas pelo órgão acusador não constituíram discurso discriminatório
ou preconceituoso. Em sentido contrário, as exposições [de Bolsonaro]
são verdadeiras críticas às políticas públicas brasileiras, expostas na
denúncia totalmente fora de contexto", afirmou.
(Com informações da Folhapress)
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