TREPIDOVIA
Nem ciclovia, nem ciclofaixa. Para alguns ciclistas de Natal, o percurso que a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) está construindo dentro do Campus Central está mais para uma “trepidovia”, uma via em que as bicicletas e condutores trepidam enquanto pedalam. O termo surgiu depois da experiência de vários deles na ciclofaixa da Via Costeira.
Em reportagem publicada no sábado passado (27), O JORNAL DE HOJE mostrou que a trepidação das bicicletas gera até dor nas costas, mesmo quando não se anda sobre os buracos. Isso acontece porque o piso hidráulico possui pequenas aberturas para que a água da chuva seja absorvida pelo solo. Esse tipo de piso evita a impermeabilização do solo, causada quando a via é recoberta por asfalto ou concreto.
“Como não é um pavimento liso, causa essa trepidação. Como é feito sobre a areia, com o passar do tempo a tendência é que cedam alguns tijolos. Ou seja, o desnível vai aumentar e consequentemente a trepidação também”, disse Leonardo Sinedino, professor e integrante do grupo de ciclistas Bicicletada.
Segundo ele, só bicicletas do tipo Mountain Bike se adaptam bem a esse tipo de piso. Os efeitos são mais forte naquelas que não possuem amortecedor e com pneu muito fino. “Mas essa ciclovia é para todos, não é só para mountain bike”, enfatizou Sinedino.
Na opinião do ciclista, o piso ideal seria o concreto. Entretanto, ele reconhece que o investimento é alto e o asfalto seria a opção mais viável. “Esse tipo de pavimento [lajotas hidráulicas] é mais voltado para um trecho de baixa velocidade ou que requer mais atenção. Aqui, perto de uma parada de ônibus, se justificaria uma pequena parte desse pavimento, mas em todo resto deveria ser liso”, observou.
Para a construção desse modelo de ciclovia, a Associação de Ciclistas do Rio Grande do Norte (Acirn) foi consultada. Conforme o superintendente de Infraestrutura da UFRN, Gustavo Rosado Coelho, o próprio arquiteto responsável, Nilberto Gomes, fez o contato com a entidade. “Na consulta que ele fez, não houve objeções. E por termos esse material há muito tempo em outras áreas do campus, nos fez optamos por esse material”, disse.
O superintendente também falou que foram analisados o valor do material e o favorecimento da infiltração da água da chuva no solo. Além disso, Coelho informou que em alguns trechos haverá outro piso. “Internamente, nós optamos por concreto assim como no anel viário do campus, porque é uma área onde passam veículos e ônibus também”, disse. O superintendente também falou que deverá agendar uma reunião com o grupo que questiona o material.
O ciclista da Bicicletada se surpreendeu exatamente de ser uma obra dentro de uma instituição de ensino superior. “O que eu acho grotesco é que justamente na universidade. Eu pensei que seria uma coisa inovadora, mas estão fazendo o pior modelo de ciclovia”, acentuou.
Os percursos ainda estão numa fase inicial de construção. Caso seja concretizada da forma como está, Sinedino prevê que não haverá muito movimento. “Acredito que alguns não vão usar e vai reforçar o argumento de que não precisa ser feito porque as pessoas não usam. Mas as pessoas não usam porque não presta”, avaliou.
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