DEVOÇÃO
A festa de padroeiro mais tradicional da cidade tenta atrair todos os
públicos com uma programação religiosa e ao mesmo tempo profana. No
palco onde o Missionário Cosme, ex-integrante do comando vermelho e
agora cantor religioso, é o mesmo onde a Banda Grafith se apresentou
neste domingo.
Os Reis Magos foram os primeiros padroeiros de Natal. Agora eles
dividem o posto com Nossa Senhora da Apresentação. Esse é o motivo do
feriado no dia seis de janeiro e a atração de fieis católicos de todas
as regiões da cidade e até de mais longe. “É a questão da fé do povo e a
devoção aos Santos Reis Magos. Vem pessoal de tudo que é canto do
Brasil”, disse Janielson Silva, um dos coordenadores da festa.
A programação religiosa começou ontem com carreata que saiu da
catedral até o santuário de Santos Reis. Hoje haverá a segunda novena às
19h. Logo depois, por volta das 20h30 Luiz Almir inicia seu repertório
romântico e em seguida a banda de pagode Preto no Branco. A amanhã, o
principal ponto da programação religiosa é a missa às 19 h, sucedida dos
shows das bandas Grafith e Eita Mamãe.
Na terça-feira, ponto alto da festa, a programação começa às 6h com
alvorada com a participação da banda marcial Leão de Judá. Durante o dia
inteiro haverá programação religiosa com encerramento às 18h com uma
missa. Além de shows e eventos religiosos, a festa conta com parque de
diversões e feira de artesanato.
Simbolismo
Em primeiro lugar, Baltazar, Belchior e Gaspar só ganharam a
titulação de Reis depois de terem visitado o menino Jesus. “Eles eram
magos, estudavam a questão dos astros, eram astrônomos e por isso
seguiram a estrela”, disse o pároco de Santos Reis. Ainda segundo o
sacerdote, eles chegaram a Belém vindos de terras distintas, o que
simboliza a universalidade da devoção ao filho de Deus.
“Eles foram visitar Jesus seguindo a estrela, apresentam suas
oferendas – ouro, incenso e mirra – e se baseando nisso nós somos
chamados a fazer nossa devoção também”, acrescentou. Cada oferenda tem
um significado segundo a interpretação da Igreja Católica. O ouro
simboliza a realeza do filho de Deus; o incenso, a divindade; e a mirra,
a imortalidade, visto que esse óleo era usado para preparar os mortos
naquela época.
Contradição
Questionado sobre se o repertório da Banda Grafith se coaduna com os
princípios preconizados pela Igreja Católica, o coordenador foi sincero.
“Existe contradição pelo fato de ser uma festa religiosa. Até mesmo
pelo bispo ter dito que não podia ter bandas com letras de duplo sentido
em festas de padroeiro. Inclusive em festas de outras cidades foram
retiradas bandas profanas. Quer fazer faça, mas não na frente da
igreja”, comentou.
Diante dessa afirmação, o coordenador também foi questionado porque a
organização da festa mantinha a programação mesmo em desacordo com seus
princípios. “Ano passado, Grafith não veio tocar. Esse padre foi
crucificado, ele andava pela rua com medo porque o povo ficou
revoltado”, contou. Este ano a banda Grafith vai se apresentar
gratuitamente.
Ainda segundo Janielson Silva, isso acontece porque durante muito
tempo a população confundiu a festa do bairro com a festa religiosa ao
longo do tempo. Por conta dessa resistência seria difícil de mudar a
programação de shows. “Há uns três anos a gente vem conseguindo colocar
bandas no palco principal. Isso foi uma luta tão grande que você não
sabe como. No ano que vem, a gente está pensando em trazer dois artistas
de nível nacional como missionário Cosme”, adiantou. Por enquanto, o
primeiro e o último dia estão exclusivamente reservados aos shows
católicos.
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