CONTAMINAÇÃO
Foto: José Aldenir
Marcelo Lima
marcelolimanatal@yahoo.com.br
Alguns hotéis da Via Costeira estão com nitrato acima dos níveis saudáveis estabelecidos pelo Ministério da Saúde. O normal é que em cada litro de água contenha, no máximo, a concentração de 10 miligramas de nitrato. Mas, alguns estabelecimentos apresentam um número quatro vezes maior do que o permitido.
O chefe do setor de Vigilância em Saúde Ambiental e do Trabalhador (Visamt), Marcílio Xavier, preferiu não revelar os nomes das empresas, mas informou os números que mais chamam atenção. Os estabelecimentos são abastecidos por poços. Um deles registrou 44 miligramas de nitrato por litro em um determinado meio de hospedagem. Em segundo lugar, um vizinho possui 17,2 miligramas de nitrato. O caso mais brando apresenta apenas 10,6 miligramas.
Os demais hotéis estão dentro da normalidade. Vale destacar que cada hotel possui mais de um poço. “Os hotéis da Via Costeira são abastecidos por poços, que já são antigos e estão rasos. Tem entre 40 a 50 metros de profundidade a maioria”, disse Marcílio Xavier, chefe do setor.
Segundo Xavier, a defesa dos responsáveis pelos estabelecimentos é que a água não é utilizada para fins menos nobre que o consumo humano. “Eles nos falam que a água é para lavar banheiro, é para piscina, mas, mesmo que não haja esse risco, temos que agir. Ela pode ser usada para fins menos nobres, mas se a legislação diz que não pode, não pode. A gente vai encontrar formas sanar esse problema em parceria”, afirmou o chefe do setor. “É claro que o turista toma água mineral, mas por precaução mesmo nós queremos eliminar qualquer possibilidade”, reforçou.
Ele também destacou que a maioria dos meios de hospedagem na região possui cloradores que eliminam os coliformes e micro-organismos presentes na água. No entanto, o cloro não acaba com o nitrato, já que é um elemento químico.
“A nossa sugestão é que persistindo essa incidência de nitrato tem que fechar o poço. Você pode perfurar outro com uma profundidade maior. Pela nossa experiência, com 100 ou 120 metros de profundidade dificilmente dá problema com nitrato. Nós estamos procurando soluções”, reforçou.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira do Rio Grande do Norte (ABIH/RN), Ruy Gaspar, falou por telefone (de Madri na Espanha) que ainda não teve acesso a essa informação. “Desconheço, mas vamos tomar todas as providências que forem para ser tomadas”, disse. Ele também não confirmou se os hotéis são abastecidos por poços ou por meio da rede da Caern.
Menos cloro, mais diarréia
Das 725 amostras de água retiradas de todas as regiões da cidade, 157 estão com níveis de cloro abaixo do recomendado pelo Ministério da Saúde. O órgão do governo Federal estabelece que em cada litro de água tenha entre 0,2 a 5 miligramas de cloro. Esse é elemento responsável por eliminar micro-organismos e os efeitos dos coliformes fecais na água. Segundo Marcílio Xavier, esse número tem aumentado a cada novo relatório feito pelo setor de Vigilância em Saúde Ambiental, o que ocorre a cada quatro meses.
O bairro com maior incidência é Lagoa Azul na zona Norte de Natal. Embora o setor não tenha compilado os dados em números absolutos, o bairro da zona mais populosa da cidade está enquadrado num grupo onde ficariam todos os bairros com mais de 46% das amostras com níveis de cloro fora do padrão.
Logo depois, os bairros de Ponta Negra, Planalto, Cidade da Esperança, Potengi e até Cidade Alta, Tirol e Petrópolis no grupo de bairros com até 45% das amostras de água fora do padrão no que diz respeito ao cloro. Curiosamente, um dos bairros com uma das maiories incidências de diarréia da cidade conseguiu diminuir os casos.
“Problemas na qualidade da água causam problemas gastrointestinais de maneira geral. Mas o que a gente tem de maior elevação são os casos de diarréia”, disse Aline Bezerra, chefe do setor de vigilância epidemiológica.
O pior é que as crianças ainda são as maiores vítimas. “A gente sabe ainda que a diarréia é uma das principais causas de mortalidade infantil, principalmente aqui no Rio Grande do Norte. É um número preocupante quando você olha a faixa etária. Em crianças de idade escolar ainda é muito grande o número e também de um a cinco anos,”, acrescentou.
Em 2013 foram 26 mil notificações de diarréia na capital potiguar. Em 2014 foram 25.800 mil casos. Para Bezerra, essa variação não tem muita relevância. “A gente nem considera para epidemiologia, porque dados epidemiológicos são sujeitos a alteração, porque alguma unidade básica pode não ter enviado ainda dados de dezembro”
Aline acredita que uma água melhor influencia diretamente no saúde gástrica e intestinal da população. “A água é a base de tudo, não só para o consumo humano, mas também para preparo de alimentos, para o banho para tudo. Eu acredito que se a gente tivesse uma melhora na qualidade dela a gente ia ver esses números diminuindo”, falou.
“No adulto, desidrata, causa desequilíbrio no corpo e gera outros problemas. A reincidência também é muito comum, um dos indícios que há o consumo constante de água ou algum alimento contaminado.
Na próxima quinta-feira, o relatório vai ser discutido entre os técnicos do setor da Vigilância em Saúde Ambiental e da Agência Reguladora de Saneamento Básico de Natal (Arsban). Segundo Xavier, posteriormente o Ministério Público também será convidado a participar de discussões sobre o relatório até para debater como cobrar da companhia concessionária do serviço de abastecimento de água em Natal medidas para mudar essa realidade.
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