Para Silvio Meira, professor do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco, é “inconcebível” que a líder de um dos maiores países do mundo “fale com um telefone que não sabe de quem é nem a quê esse aparelho está submetido”.
“A fragilidade é total. Você tem uma situação em que o presidente da República corre o risco de ser gravado por alguém vigiado pela Polícia Federal numa das maiores investigações criminais da história do Brasil e onde claramente existia um potencial gigantesco dessa conversa ser gravada”, disse Meira à BBC Brasil.
As conversas de Dilma captadas pela PF integram uma série de interceptações telefônicas de Lula, incluídas no inquérito da Operação Lava Jato.
A Justiça Federal do Paraná divulgou os áudios e as transcrições na semana passada. No diálogo mais polêmico, Dilma diz a Lula que enviará seu “termo de posse” como novo ministro da Casa Civil, para uso “em caso de necessidade”. Investigadores interpretaram o diálogo como tentativa da presidente de evitar eventual prisão do antecessor.
Para Meira, o Brasil deveria se espelhar nos EUA, onde todas as conversas de interesse do Estado mantidas pelo presidente são seguras (criptografadas). Os diálogos não são gravados, segundo o especialista, mas a Casa Branca produz transcrições informais.
“O presidente americano fala em comunicações seguras, como o primeiro-ministro da Inglaterra, França e Alemanha, mas não tem o direito de falar o que quiser sozinho. Ele não pode, por exemplo, ligar para outro e combinar um ataque nuclear, há todo um protocolo de comunicações de Estado, um grau de sofisticação alto”, afirma.
Sistemas de proteção
Criptografia é uma maneira de aprimorar a segurança de uma mensagem
ou arquivo. A tecnologia embaralha o conteúdo para que ele só possa ser
lido por quem tenha a chamada chave de criptografia, necessária para
desembaralhá-lo.A Abin (Agência Brasileira de Segurança) oferece uma série de equipamentos que podem garantir a segurança da comunicação da presidente e de funcionários de alto escalão. Há, por exemplo, telefone fixo e aplicativo para smartphones com criptografia de voz e dados, que empregam algoritmo matemático de propriedade e uso exclusivo do Estado brasileiro.
Questionada sobre os motivos pelos quais a presidente não usa a tecnologia oferecida pela Abin, como o telefone seguro, a Secretaria de Imprensa do Planalto informou apenas que “não comenta assuntos que possam interferir na privacidade ou na segurança da Presidência da República”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário