quinta-feira, 31 de março de 2016

Operação de Santana reforça suspeita de caixa 2 em reeleição de Dilma. PF vê indícios de que Mônica Moura, mulher e sócia do marqueteiro, fez esses pagamentos entre 2014 e 2015

LAVA JATO

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A empresa do marqueteiro João Santana recebeu recursos em dinheiro vivo, no caixa dois, da empreiteira Odebrecht e fez pagamentos, igualmente em espécie, a fornecedores da campanha da reeleição de Dilma Rousseff contratados por ela.

O roteiro identificado pela Folha sugere o caminho do dinheiro da construtora para prestadores de serviço do PT que trabalharam para a Pólis, empresa de Santana, mas isso ainda é objeto de investigações da Polícia Federal.

Segundo a reportagem apurou, a PF vê indícios de que Mônica Moura, mulher e sócia do marqueteiro, fez esses pagamentos entre 2014 e 2015 com recursos ilegais recebidos da Odebrecht.

Estas gastos seriam de deslocamentos das equipes de Santana, serviços de internet e produção de programas do PT com Dilma como estrela.

Até aqui, a construtora Andrade Gutierrez havia confirmado ter pago ilegalmente a fornecedores de Dilma, mas na campanha de 2010 —o que poderia ter efeitos para investigação criminal, mas dificilmente afetaria a situação eleitoral da petista.

Já as contas de 2014 são alvos de inquérito no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que podem resultar na cassação da chapa da reeleição, atingindo tanto Dilma como seu vice, Michel Temer (PMDB).

A Folha cruzou dados de planilhas apreendidas pela Polícia Federal com depoimentos sigilosos da secretária da Odebrecht Maria Lúcia Tavares, uma das principais colaboradoras da Lava Jato.

O resultado mostra que a construtora levantou dinheiro vivo com doleiros, em São Paulo e Salvador, para repassar à empresa Pólis, de Santana e Mônica. Ao todo, a operação identificou pagamentos nos sete meses seguintes ao segundo turno da eleição.

Sob a condição de não serem identificados, dois prestadores de serviços da campanha de 2014 disseram que a Pólis fazia pagamento de serviços da área de comunicação, como produtoras de vídeo, em dinheiro vivo.

Um deles contou à reportagem que este tipo de pagamento em “cash” era feito pela própria Mônica.

O casal está preso em Curitiba, e a empresária foi interpelada sobre os pagamentos em sua negociação preliminar para fazer uma eventual delação premiada com o Ministério Público Federal. Segundo relatos, ela falaria sobre os pagamentos no caixa dois em 2014.

Em depoimento à Polícia Federal no dia 2 de março, que está em segredo de Justiça, a secretária Maria Lúcia contou que cuidou dos repasses ao marqueteiro do PT por dois anos. Os contatos eram sempre feitos com Mônica.

Segundo ela, as entregas ocorriam, na maioria das vezes, em São Paulo, em endereços diferentes e com emissários diversos.

Uma planilha chamada “Paulistinha”, apreendida na casa da secretária, traz 41 pagamentos a “Feira” [codinome da equipe de Santana], num total de R$ 21,5 milhões.

A primeira entrega de R$ 500 mil ocorreu no dia 30 de outubro de 2014, apenas quatro dias depois do segundo turno. A última, também de R$ 500 mil, foi entregue em 22 de maio de 2015, no mês anterior à prisão de Marcelo Odebrecht e da cúpula do grupo.

A “Paulistinha”, explicou Maria Lúcia, referia-se a entregas de dinheiro vivo na cidade de São Paulo. O “cash” era levantado com Alberto Novis, da Hoya Corretora de Valores e Câmbio —alvo da fase Xepa da Operação Lava Jato, o desdobramento da Lava Jato baseado nos depoimentos da secretária.


Por: Folha de S.Paulo

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