quarta-feira, 2 de março de 2016

MP e TCE vão investigar cargos da Assembleia Legislativa

CARGOS NA ASSEMBLEIA
 
O excessivo número de cargos comissionados da Assembleia Legislativa será investigado pelo Ministério Público e Tribunal de Contas do Estado. O presidente da Assembleia, Ezequiel Ferreira de Souza (PMDB), anunciou ontem (1º) que vai cortar “quase” 700 cargos comissionados de um total de 2.592 mantidos pela casa legislativa. 
 
Ontem, enquanto o presidente da ALRN iniciava seu discurso, às 11h50, o Tribunal de Contas do Estado (TCE-RN)  aprovava, por volta das 10h, a realização de uma auditoria na Assembleia para apurar a legalidade dos atos de gestão relativos ao quadro funcional do órgão e as despesas de pessoal deles decorrentes. A auditoria deverá ser concluída no  prazo de 90 dias.
 
Com os 24 deputados presentes, em um discurso de cerca de 12 minutos, Ezequiel Ferreira fez seu primeiro pronunciamento oficial sobre as denúncias de que a Assembleia mantém em seus quadros servidores “fantasmas” e uma lista de apadrinhados políticos que recebem sem dar expediente na Casa.
 O Portal da Transparência da Assembleia começou a operar dia 1º de fevereiro e, em dois dias, atingiu 1.780 consultas. Também foi a partir daí que deu-se a descoberta do número excessivo de cargos comissionados. 
 
Numa comparação entre a ALRN e suas similares de Sergipe, Alagoas, Paraíba, Piauí e Pernambuco, a folha de pagamento mensal da casa legislativa potiguar é a segunda maior entre estas citadas. O valor é de R$ 232 milhões para um quadro de 3.181 funcionários, dos quais, 2.592 comissionados. 
 
A folha da Assembleia de Pernambuco é a mais alta entre as relacionadas acima, com custo de R$ 269 milhões, para um quadro de 1.904 funcionários (1.242 comissionados). No entanto, Pernambuco tem 49 deputados, mais que o dobro da ALRN (24). 
 
O presidente da Assembleia Legislativa anunciou que vai contratar a Fundação Getúlio Vargas  dentro da reforma administrativa que instituirá um planejamento para os cargos, setores e salários dos servidores diante da necessidade de redução de “milhões” no custeio da instituição, além de promover o corte dos “quase” 700 cargos comissionados. 
 
Não foi citado como será feito o corte nem os critérios a serem adotados. Além disso, Ezequiel Ferreira não adiantou qual será o volume de diminuição orçamentária do custeio. “Esta Casa tem sido colocada em xeque por parte da sociedade, que lhe exige respostas. E não vamos nos furtar”, discursou o presidente diante das cobranças feitas principalmente nas redes sociais para redução do quadro funcional contratado sem concurso público. 
 
Há exato um ano, em fevereiro de 2015, disse o presidente, foi adotado na Assembleia o Planejamento Estratégico para  gerir a organização da instituição, com etapas a serem cumpridas, mas que já garantiu a economia de R$ 15 milhões no custeio da Casa no ano passado. O Planejamento Estratégico prevê ainda 36 planos de ação, que também proporcionaram a redução de 20% das despesas com a manutenção e funcionamento da Assembleia.
 
Em relação à  modernização e à transparência, Ezequiel disse serem prioridades de sua gestão. E citou o novo Portal da Transparência, que contém ferramentas onde qualquer pessoa pode ver o quadro de receita e despesa, contratos e lista de servidores, inclusive com salários e a situação de contrato, que ontem pela manhã, por sinal, esteve fora do ar por algumas horas. 
 
A Lei Complementar 131, de 27 de maio de 2009, alterou a redação da Lei de Responsabilidade Fiscal sobre o item da transparência da gestão fiscal, disponibilizando, em tempo real, informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Ou seja, desde 2010  a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios com mais de 100.000 (cem mil) habitantes estão obrigados instalar seus portais da transparência. 
 
“Temos uma auditoria permanente na Folha de Pessoal, instalamos comissões de acúmulo de cargos que têm analisado criteriosamente a situação funcional dos servidores do Legislativo e tomará as medidas necessárias em caso de situação irregular constatada”, discursou o presidente do Poder Legislativo. 
O corte dos quase 700 cargos é proveniente do Censo Previdenciário em execução na Assembleia Legislativa. E os cortes, segundo o presidente da Casa, vão continuar: “Avançaremos e reduziremos ainda mais com a reforma administrativa, que vai buscar outras soluções de forma planejada e responsável”. 
 
No entanto, garantiu que até o fim do ano os demais aprovados do concurso serão chamados para assumir seus cargos. Disse ainda que será implantada a Ouvidoria Legislativa para acolher reclamações, denúncias e sugestões. “Assim teremos condições de receber as reclamações, apurar e devolver à sociedade o resultado do que foi reclamado”, justificou o deputado Ezequiel Ferreira.
 
TCE determina auditoria para apurar a situação
 
O Tribunal de Contas do Estado (TCE/RN) determinou ontem a realização de uma auditoria na Assembleia Legislativa do RN para apurar a legalidade dos atos de gestão relativos ao quadro funcional do órgão e as despesas de pessoal deles recorrentes. A auditoria deverá ser finalizada num prazo de 90 dias.
 
O relator do processo foi o conselheiro Gilberto Jales, cujo voto foi aprovado pelo Pleno da Corte de Contas, à exceção do conselheiro Renato Costa Dias, que alegou impedimento. No voto, o conselheiro acatou pedido do procurador-geral do Ministério Público de Contas em exercício, Thiago Guterres, que havia entrado na última quinta-feira (25) com uma representação requisitando a auditoria.
 
Segundo o voto, os indícios de comprometimento da boa gestão do erário são os seguintes: “desproporção dos cargos de provimento efetivo e os de livre nomeação e exoneração, que totalizam 379 e 2.592 servidores, respectivamente, o que significa que para cada cargo efetivo existem hoje 07 cargos em comissão”; e o “crescimento exponencial dos cargos comissionados entre 2011 e 2016, com a criação de novos 1.756 cargos, que implica em elevação em 86% do seu quantitativo global de funcionários ativos”.
 
O TCE, em levantamento anteriormente empreendido pela Diretoria de Despesa de Pessoal, identificou a “subsistência de 296 (duzentos e noventa e seis) casos potenciais de acumulação ilícita de cargos públicos” e “a existência de 08 (oito) servidores com idades acima do limite de 70 (setenta) anos de idade”. Esses dois pontos também serão levados em consideração na auditoria. 
 
Concursados querem ser chamados
 
Uma comissão de aprovados no concurso realizado em 2013 ficou insatisfeita com o discurso oficial. Dos 85 candidatos aprovados, 15 tomaram posse ano passado. Alguns dos que aguardam serem chamados disseram que não entendiam como a Assembleia mantém quase 2.600 cargos comissionados e não chama os que passaram na seleção há quase dois anos. 
 
Os concursados rejeitam o argumento de que ainda não foram chamados por causa da Lei de Responsabilidade Fiscal. “Isso não convence porque tem dinheiro para pagar salários altíssimos de cargos comissionados”, rebatem. 
 
OAB/RN vai acompanhar investigações 
 
O Conselho da OAB/RN se reuniu em sessão extraordinária na segunda-feira (29) para discutir o quadro funcional da Assembleia Legislativa do Estado e emitir Nota Oficial com o posicionamento da OAB/RN.
 
 Segundo o presidente da OAB, Paulo Coutinho, a Ordem vai acompanhar as investigações do TCE sobre o caso e exigir dados referentes às  denúncias com fundamento nas garantias asseguradas na Lei de Acesso à Informação. 
 
“É preciso que se reavalie a questão financeira da Assembleia. Já estamos colhendo informações e discutindo medidas efetivas como uma ação judicial para obrigar a contratação dos aprovados no último concurso público realizado pelo Poder Legislativo estadual”, declarou Coutinho.
 

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