A celebração aos mortos, comemorada hoje no chamado Dia de
Finados, também é uma oportunidade para quem deseja aproveitar para
conseguir dinheiro extra logo no início do mês. Floristas, vendedores de
velas e limpadores de túmulos dividem espaço e competem pela clientela
que, desde ontem, chega com mais frequência aos cemitérios espalhados
pela capital.
Segundo a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur), que
administra os oito cemitérios públicos de Natal, neste ano foram
credenciados 150 vendedores informais para o comércio voltado para o
feriado, em toda a cidade.
Desde ontem pela manhã, ninguém que chegava à entrada principal do
Cemitério do Alecrim, na Zona Leste da cidade, escapava da pergunta:
“Vai uma vela aí?”, de um rapaz segurando algumas caixas do produto.
Também do lado de fora, uma fileira de mesas cobertas de buquês e coroas
de flores coloriam o lugar. Nas dependências do cemitério, a competição
era para quem conseguia mais sepulturas para limpar. Já na entrada
começava a garimpagem por visitantes que tivessem disponibilidade de
pagar pelo serviço de limpeza às vésperas do grande dia dedicado aos que
já se foram.
“Vai uma limpezinha aí?”, era a frase utilizada para abordar e
tentar conquistar o cliente. O trabalho de "zelador" é antigo e ganha
evidência nas proximidades do dia 2 de novembro. Aos 62 anos, a dona
Lourdes Nascimento trabalha com o serviço há 30 deles. Ao contrário da
maioria dos zeladores presentes ontem nos cemitérios, ela diz trabalhar o
ano inteiro cuidando de jazigos. Cerca de 20 estão sob sua tutela e
mensalmente, dependendo do tamanho e das solicitações do proprietário, é
cobrado de R$ 30 a R$ 50.
No caso de dona Lourdes, a profissão é de família. “Era meu pai,
minha mãe e agora eu quem faço o trabalho”, afirmou, enquanto limpava um
túmulo de mármore. Aliás, o Dia de Finados é especial para a senhora,
que diz sentir falta dos pais, enterrados no Cemitério de Nova
Descoberta: “Para mim esse dia é de muita saudade, porque não tenho meus
pais vivos. Minha mãe era tudo para mim”.
Já Felipe Alves, 16, e Anderson da Paz, 25, só atuam como zeladores
de túmulos nessa época. No restante do ano eles são feirantes,
serventes de pedreiro, pegam “qualquer bico que surgir”, diz o
adolescente. Ontem pela manhã, os dois trabalhavam juntos em um túmulo
que haviam acabado de conseguir. “A gente limpa, varre, faz tudo”,
afirma Anderson, dizendo que, nesse período de maior procura, os valores
cobrados chegam a R$ 100.
No Alecrim, a concorrência nesse segmento é grande. São entre 20 e
30 zeladores de túmulos no cemitério. Felipe Alves é direto: “Quem tiver
mais lábia leva”.
Segundo ele, não é incomum um “dedurar” o outro aos seguranças que
circulam pelo local para tentar diminuir a concorrência. Ontem, por
exemplo, já não podia mais pintar nenhum jazigo e quem fosse pego
poderia ser retirado do lugar.
No setor de flores, os comerciantes esperam tirar um bom dinheiro
com as vendas no feriado deste ano, mas nada comparado ao que já foi. O
comércio deverá cair em relação aos anos anteriores devido à diminuição
da presença de visitantes aos cemitérios da capital.
Canindé Gomes, 55, é florista desde os sete anos de idade. Ele diz
sentir os efeitos do desinteresse das pessoas no feriado e a crise
econômica atual, mas que apesar disso, espera uma boa venda.
“Digo que o comércio caiu uns 60%”, estimou. “Antes, quando era um
dia antes do feriado a gente já vendi bem, agora é só à noite e no
próprio feriado”, destacou.
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