BRASIL, POLÍTICA
Os ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva (Nacho Doce/Reuters)
Em depoimento à Justiça Federal, a ex-presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quinta-feira que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
“jamais interferiu” no seu governo, nem mesmo em suas atribuições como
ministra-chefe da Casa Civil. Ela disse ainda que “não tem conhecimento”
de que Lula tenha solicitado vantagens indevidas. “Ele é absolutamente
respeitoso”, defendeu.
Por meio de videoconferência, Dilma foi ouvida como
testemunha de acusação na ação que investiga negociações irregulares que
levaram à compra de 36 caças suecos do modelo Gripen pelo governo brasileiro e à prorrogação de incentivos fiscais destinados a montadoras de veículos por meio da Medida Provisória 627.
Na audiência, a petista afirmou ainda que o processo de
transição com a gestão de Lula foi “extremamente respeitoso”. Sobre a
compra dos caças, o ex-presidente teria dito apenas que ele não
decidiria sobre a questão em seu governo e que isto ficaria para o
mandato dela, iniciado em 2011. Segundo Dilma Rousseff, a escolha pelos
caças suecos ocorreu principalmente pela possibilidade de o Brasil
participar do processo de desenvolvimento do projeto.
Questionada se Lula ou o Instituto Lula alguma vez
intermediaram algum encontro com o agora primeiro-ministro sueco Kjell
Stefan Löfven, Dilma respondeu que suas relações foram “poucas com o
instituto” e que o ex-presidente “jamais intermediou esse tipo de
relação”. “Ele jamais interferiu em encontros que diziam respeito à
minha área de atuação”, destacou.
Dilma lembrou que a Medida Provisória 627 marcou o seu
rompimento com a base aliada do governo petista, com as chamadas
“pautas-bomba”. Na época, ela vetou diversos “jabutis” (temas estranhos à
matéria) incluídos por parlamentares ao texto. A ex-presidente
justificou que não vetou o artigo que beneficiava o setor
automobilístico porque era o único ponto “neutro”, que não teria impacto
momentâneo na economia.
“Posso vetar várias, mas não posso vetar todas, poque seria
um desrespeito com o Legislativo”, disse. “Não se tratava de nenhuma
renúncia fiscal, e sim de prorrogar uma isenção que já vinha
anteriormente. Não havia arrecadação derivada dessa medida, tratava-se
de uma prorrogação. A parte mais grave da MP foram as novas medidas de
isenção que eles introduziram. A Fazenda era contra qualquer isenção
fiscal, agora, quando chega na hora de votar, lembre que meus vetos
passaram a ser submetidos à apreciação do Congresso”, disse.
Em dois momentos, Dilma fez questão de responder aos
questionamentos da Procuradoria da República, mesmo quando o juiz e
advogados de defesa interferiram para dizer que ela já tinha se
manifestado sobre a pergunta.
O caso é investigado no âmbito da Operação Zelotes, na qual
são réus Lula e seu filho, o empresário Luis Cláudio Lula da Silva.
Ambos foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) por
tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa em
dezembro de 2016.
Na denúncia, a Procuradoria da República afirma que o
ex-presidente, já depois de deixar o Palácio do Planalto, “integrou um
esquema que vendia a promessa de que ele poderia interferir junto ao
governo para beneficiar as empresas MMC, grupo Caoa e SAAB, clientes da
empresa Marcondes e Mautoni Empreendimentos e Diplomacia LTDA
(M&M)”.
Em troca, afirma o MPF, o casal de lobistas Mauro Marcondes e
Cristina Mautoni, donos da M&M e também réus, repassaram a Luis
Cláudio pouco mais de 2,5 milhões de reais.
Outras duas testemunhas do MPF foram ouvidas nesta
quinta-feira sobre o caso: Luiz Alberto dos Santos, consultor
legislativo que trabalhou na Casa Civil entre 2003 e 2014, e Bengt
Janér, representante da Saab no Brasil.
(com Estadão Conteúdo)
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