ESTRATÉGIA
Líderes de partidos do Centrão
querem que a Câmara dos Deputados desmembre em pelo menos dois processos
a análise da nova denúncia contra o presidente Michel Temer e os
ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral
da Presidência) apresentada pela Procuradoria-Geral da República. Já
líderes governistas defendem que a análise seja feita de forma conjunta
na Casa para acelerar o trâmite e evitar que os ministros fiquem
vulneráveis em uma votação separada.
Ontem, a Secretaria-Geral da Mesa Diretora decidiu não fatiar a
denúncia, que será encaminhada à Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ). Caberá ao colegiado definir.
Parlamentares governistas
avaliam que o Centrão defende o julgamento separado para pressionar o
Planalto por mais cargos e liberação de emendas, em troca do voto para
barrar o prosseguimento da denúncia. "Não há razão para fatiamento do
parecer", defendeu o deputado Marcos Rogério (DEM-RO), um dos cotados
para relatar a segunda denúncia. Além do parlamentar de Rondônia, é
cotado para assumir a função o deputado Evandro Gussi (PV-SP).
A
nova acusação formal contra Temer chegou anteontem à Câmara, mas só será
encaminhada à comissão na segunda-feira, após ser lida no plenário e
Temer, notificado. Ontem pela manhã, houve uma tentativa de leitura, mas
a sessão não foi aberta por falta de quórum.
A decisão da Mesa
Diretora de recusar o desmembramento segue interpretação do Supremo
Tribunal Federal (STF) de 1990. A jurisprudência da Corte prevê que, se
os ministros são acusados da prática de crime conexo ao do presidente da
República no exercício do mandato, eles também precisariam de
autorização da Câmara para serem processados. Diferentemente da primeira
denúncia, que acusava apenas o presidente por crime de corrupção
passiva, o segundo pedido incluiu os dois principais auxiliares de Temer
no Palácio do Planalto na acusação de obstrução da Justiça e
organização criminosa.
Líderes do Centrão argumentam que a
denúncia contra o presidente deveria ser separada dos ministros porque a
eventual aceitação da acusação contra Temer neste momento teria um
impacto negativo na economia. Já contra os ministros, que são da área
política, não haveria esse tipo de consequência.
"Uma coisa é o
presidente da República, outra coisa são os ministros. A consistência do
impacto que a aceitação da denúncia pode causar, até do ponto de vista
econômico, é diferente", disse o líder do PSD na Câmara, deputado Marcos
Montes (MG), que comanda a quinta maior bancada da Casa, com 39
parlamentares.
Segundo Montes, na análise da primeira denúncia
contra Temer, o principal argumento usado pelos parlamentares da base
para barrar o prosseguimento da acusação era que um eventual afastamento
do presidente prejudicaria a economia.
"Será que os ministros também causam (impacto na economia)? Acho que não", disse. "Não estamos aqui para proteger ninguém."
Personagem
À
frente da sexta maior bancada da Câmara, com 38 deputados, o líder do
PR na Casa, José Rocha (BA), também defende que os ministros Padilha e
Moreira sejam julgados separadamente. "Cada personagem é um personagem
diferente. Tem que ver a participação de cada um na denúncia."
Também
integrantes do Centrão, PTB, Solidariedade e PSC seguem a mesma linha.
"Entendo que tem que ser separado. Não pode juntar o caso específico do
presidente, até porque os ministros não atrapalhariam economicamente o
País", disse o líder do Solidariedade, deputado Aureo (RJ).
Para o
líder do PTB, Jovair Arantes (GO), a CCJ deve elaborar três pareceres
diferentes: um para Temer e um para cada ministro. "Tem que separar, até
porque são CPFs diferentes", afirmou. "Não estou disposto a olhar lado
de ministro. Não é problema nosso. Temos que fazer dentro da
legalidade."
O líder do PSC, deputado Professor Victório Galli
(MT), defende dois relatores, um para Temer e outro para os dois
ministros. "A situação do presidente é de foro bem mais privilegiado."
"Não
tem cabimento julgar separado. Tem que ser junto. Se são acusados do
mesmo crime (organização criminosa), não há por que julgar separado",
reagiu o vice-líder do governo na Câmara e integrante da tropa de choque
de Temer, deputado Beto Mansur (PRB-SP). Ele admitiu que o julgamento
separado pode deixar os ministros mais vulneráveis.
Ao enviar a
denúncia à Câmara desta vez, o STF não estabeleceu de que forma deve ser
feita a análise dela em relação aos ministros. Técnicos parlamentares
passaram a manhã de ontem reunidos e decidiram não questionar
formalmente a Corte sobre como a Casa deve proceder em relação aos
ministros.
Em análise preliminar, o
presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), avalia que, se a PGR
enviou uma única peça, não há motivo para a Câmara desmembrá-la.
Técnicos da CCJ também vão estudar o tema, já que o novo pedido tem
aspectos diferentes.
(por Estadao Conteudo )
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