NORDESTE
O novo ministro levantou todos os pedidos de empréstimos na Caixa por
Estados, capitais e outras grandes cidades e condicionou a assinatura
dos contratos à entrega de votos pelos governadores e prefeitos que
exercem influência sobre os deputados (Adriano Machado)
Governadores do Nordeste enviaram nesta quarta-feira, 27, carta pública ao presidente Michel Temer protestando contra a declaração do ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Marun. O ministro admitiu na terça-feira que o governo pressiona gestores estaduais e municipais a trabalharem a favor da aprovação da reforma da Previdência em troca da liberação de recursos em financiamentos de bancos públicos, como a Caixa.
No documento, os governadores prometem acionar política e
judicialmente os agentes públicos envolvidos, caso a “ameaça” de Marun
se confirme.
“Os governadores do Nordeste vêm manifestar profunda
estranheza com declarações atribuídas ao Sr. Carlos Marun, ministro de
articulação política. Segundo ele, a prática de atos jurídicos por parte
da União seria condicionada a posições políticas dos governadores.
Protestamos publicamente contra essa declaração e contra essa
possibilidade e não hesitaremos em promover a responsabilidade política e
jurídica dos agentes públicos envolvidos, caso a ameaça se confirme”,
diz versão da carta a qual o Broadcast Político, serviço de notícias em
tempo real do Grupo Estado, teve acesso.
No documento, assinado pelos governadores dos nove
Estados do Nordeste, os gestores pedem que Temer “reoriente” seus
ministros para evitar práticas classificadas pelos signatários como
“criminosas”. “Vivemos em uma Federação, cláusula pétrea da
Constituição, não se admitindo atos arbitrários para extrair
alinhamentos políticos, algo possível somente na vigência de ditaduras
cruéis. Esperamos que o presidente Michel Temer reoriente os seus
auxiliares, a fim de coibir práticas inconstitucionais e criminosas”,
diz a carta.
Em entrevista coletiva, Marun admitiu na terça que o
Palácio do Planalto pressiona os governadores a trabalharem a favor da
aprovação da reforma da Previdência em troca
da liberação de recursos em financiamentos de bancos públicos, como a
Caixa. “Realmente o governo espera daqueles governadores que têm
recursos a serem liberados, financiamentos a serem liberados, como de
resto de todos os agentes públicos, reciprocidade no que tange à questão
da (reforma da) Previdência“,
disse o ministro.
Marun negou, contudo, que a negociação se configura
como “chantagem”. “Financiamentos da Caixa são ações de governo. Senão, o
governador poderia tomar esse financiamento no Bradesco não sei onde.
Obviamente, se são na Caixa Econômica, no Banco do Brasil, no BNDES, são
ações de governo, e nesse sentido entendemos que deve, sim, ser
discutida com esses governantes alguma reciprocidade no sentido de que
seja aprovada a reforma da Previdência, que é uma questão que entendemos hoje de vida ou morte para o Brasil”, justificou.
Como revelou a Coluna do Estadão na semana passada, o
novo ministro da articulação do governo Temer levantou todos os pedidos
de empréstimos na Caixa por Estados, capitais e outras grandes cidades e
condicionou a assinatura dos contratos à entrega de votos pelos
governadores e prefeitos que exercem influência sobre os deputados. O
primeiro a ser pressionado foi o governador de Sergipe, Jackson Barreto
(PMDB). Procurada, a Caixa não se manifestou sobre o assunto. (Colaborou
Daiene Cardoso)
Reunião
Temer está reunido nesta tarde de quarta-feira com seu auxiliar da articulação política e o relator da reforma da Previdência, deputado Arthur Maia (PPS-BA). Também é aguardado para a reunião o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
O objetivo da reunião é discutir as estratégias para
arregimentar, durante o recesso parlamentar, os 308 votos necessários
para aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC).
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