HISTÓRIAS DA TRAGÉDIA
Eridio Dias havia escapado da tragédia em Mariana (Facebook/Reprodução)
Uma parada para o almoço salvou a vida do soldador Eridio Dias, de 32
anos, em 2015. Ele era um dos operários que trabalhavam para a Vale em
Mariana. Na época, Dias escapou da lama que desceu da barragem de Fundão
e saiu vivo da tragédia, que deixou 19 pessoas mortas. Três anos depois
a sorte não foi a mesma. Dias é uma das 226 pessoas desaparecidas na
tragédia em Brumadinho.
“Ele estava almoçando no refeitório quando veio aquele monte de lama e
levou todo mundo”, contou a tia de 49 anos, Luzia Aparecida Felipe.
O irmão do soldador, Laércio Dias, contou que constantemente ele
relatava, com muita emoção, como escapou ileso do rompimento em Mariana.
“Ele contava que saiu pra almoçar fora do local de serviço naquele dia
e, quando voltou, a lama tinha tomado conta da parte baixa da
mineradora, bem onde ele trabalhava”.
Muito abalada e sem sinais do sobrinho, dona Luzia diz que não há
muitas esperanças de encontrá-lo com vida. “Cheguei a pensar que estava
em um mato ou tivesse sido socorrido por alguém, que estivesse em alguma
casa da região. Mas a ficha vem caindo com o passar dos dias”, contou
emocionada.
“Naquela, ele se salvou, mas, nessa, a gente acha muito difícil. Só Deus
sabe”, disse o irmão que veio acompanhar os trabalhos de busca. Antes
de chegar a Brumadinho, ele passou pelo Instituto Médico Legal (IML) de
Belo Horizonte onde amostras de DNA foram colhidas. “É muita dor, um
sofrimento que não tem fim”, comentou Laércio.
Dias é funcionário de uma empresa terceirizada da Vale
e sempre viaja para outras áreas de mineração. Não tinha base fixa,
segundo a família. O rapaz tem uma filha de sete anos e estava há cerca
de seis meses prestando serviços em Brumadinho. “A menina pergunta todos
os dias pelo pai. Já não sabemos mais o que dizer”, comentou o irmão do
desaparecido.
Revoltada, a tia faz um apelo. “Tem que acabar com essas barragens.
Esta é a segunda vez que o meu sobrinho passa por isso. Segunda vez que
inocentes morrem por trabalharem em áreas onde não há condições e
nenhuma segurança.”
(Por
Estadão Conteúdo)
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