LULA
Por Josias de Souza
Num desses surtos de loquacidade que costuma acometê-lo sempre que se
depara com um microfone e uma plateia, Lula criou na noite de
quarta-feira (24) uma espécie de assaltômetro. Por esse medidor
metafórico, a aversão aos assaltos diminui conforme o nível de riqueza
de suas vítimas. Se o assaltado for um banqueiro, aí mesmo é que a culpa
do assaltante deve ser atenuada.
Lula discursava em Santo André, no ABC paulista, num comício do seu
candidato ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha. A cena foi
transmitida pela internet. Em dado momento, a pretexto de criticar o
governador tucano Geraldo Alckmin, o orador falou sobre (in)segurança
pública. “Agora, a coisa tá tão grave que é pobre roubando pobre”, disse
o padrinho de Padilha.
“Eu, antigamente via: ‘bandido roubou um banco’. Eu ficava
preocupado, mas falava: pô, roubar um banqueiro… O banqueiro tem tanto,
que um pouquinho não faz falta. Afinal de contas, as pessoas falavam:
‘quem rouba mesmo é banqueiro, que ganha às custas do povo, com os
juros. Eu ficava preocupado. [...] Era chato, mas era… sabe, alguém
roubando rico.”
Quer dizer: na visão de Lula, o problema dos assaltos em São Paulo é
que a oferta é menor do que a procura —no sentido de que há mais
assaltantes procurando assaltáveis do que assaltáveis com dinheiro para
ser assaltado. O sábio do PT deu um exemplo dos efeitos da crise que se
abateu sobre o mercado dos assaltos.
“Essa semana, a Joana, que trabalha comigo, é irmã da Marisa
[Letícia, mulher de Lula], na frente do hospital perto de casa, [...]
oito horas da manhã, o cara encostou um negócio nas costas dela e falou:
‘É um assalto, eu tô armado. Continua andando normalmente, me dá o
celular e me dá o seu dinheiro. A coitada teve que dar sessenta reais
pro ladrão…”
A solução, disse Lula, é simples: “Se o Alckmin não tem competência
pra fazer as coisas que o governador tem que fazer, nós temos que dizer
pra ele: Alckmin, você já está há muito tempo aí. Saia. E deixa o jovem
Padilha governar esse Estado para as coisas começarem a melhorar.”
Enquanto o PT tenta combinar com os russos, resta constatar que há na
praça dois Lulas. Um financiou suas campanhas com doações milionárias
dos bancos. Eleito, propriciou à banca lucros nunca antes vistos na
história desse país. Outro desfruta da condição de ex-presidente voando
em jatinhos de empreiteiros e recebendo honorários de bancos por
palestras feitas à sombra. Sob holofotes, desanca nos palanques as
elites assaltáveis desse país.
O carregador de postes do PT ainda não se deu conta. Mas, pelos critérios do seuassaltômetro,
Lula é, hoje, um milionário perfeitamente assaltável. Tem tanto que, um
pouquinho que for suprimido decerto não lhe fará falta.
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