A ESPERA DE AUTORIZAÇÃO
Lula e o acupunturista chinês Gu Hangu - Reprodução
Na tarde de quinta-feira (23), Gilberto Carvalho, ex-ministro do
governo Dilma Rousseff e amigo do ex-presidente Lula, entrou no pequeno
consultório com inscrições em chinês, em Brasília, com uma sacola cheia
de ovos nas mãos. Entregou os produtos, todos cultivados na sua chácara
nos arredores da capital federal, para o dono do espaço, que agradeceu
com um acentuado sotaque chinês: “Esse é amigo!”.
“Ele é fiel”,
respondeu o ex-ministro, que logo se dirigiu para uma das duas salas do
espaço onde ficam as macas. Gilberto Carvalho é um dos poucos clientes
da antiga cúpula dos governos petistas de Lula e Dilma Rousseff que
ainda frequentam semanalmente o consultório do chinês Gu Hangu. Até
Dilma sofrer o impeachment, em 2016, era comum que ministros se
esbarrarem na sala de espera do acupunturista, principalmente em dias de
crise no governo. Os mais assíduos eram o ex-ministro da Fazenda Guido
Mantega, e o ex-ministro das Comunicações Paulo Bernardo, ambos
denunciados pela Justiça atualmente. A lista também incluía o então
presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, hoje preso para Lava
Jato em Curitiba, e os ex-presidente Lula, também detido em na capital
paranaense, além da própria Dilma.
Cliente fiel de Gu Hangu, a
ex-presidente tinha horário reservado todas as quartas-feiras de manhã,
quando ele ia até o Palácio do Alvorada, onde ela morava, ou ao Planalto
para atendê-la. A relação médico-paciente virou amizade e Dilma,
geralmente avessa a compromissos sociais, chegou até mesmo a ir à casa
de Gu Hangu na comemoração de seu aniversário em 2013. Com o
impeachment, o médico chinês praticamente perdeu a cliente, mas sempre
que está em Brasília Dilma convoca o acupunturista para atendê-la no
hotel.
A ex-presidente Dilma Rousseff também é cliente de Hangu - Divulgação
Já Lula levava o chinês para São Bernardo para atendê-lo desde que
deixou a Presidência, em 2010. O petista, que creditava a Gu Hangu a
cura de uma bursite no ombro direito recorreu às agulhas do chinês para
amenizar os efeitos da quimioterapia quando teve um câncer na laringe.
Hoje, o médico quer ir à sede da Polícia Federal em Curitiba, onde Lula
está preso. “Estamos esperando autorização para poder atender”, contou. A
defesa do ex-presidente, disse que até o momento não fez pedido à
justiça para
que o médico chinês visitasse Lula.
“Lula é meu
amigo. Quando presidente, meu amigo, agora preso, amigo também.
Permanente, pra vida toda”, disse Gu Hangu com seu português macarrônico
e batendo as mãos no peito. O médico faz questão de estampar a amizade
nas paredes do consultório, todas tomadas por fotos dele com o
ex-presidente. Em duas delas, os dois aparecem de sunga, nadando no mar
apoiados em boias. Abaixo o médico chinês escreveu: férias de 2015.
Com
a sala de espera vazia, bem diferente dos tempos em que os petistas
estavam no governo, Gu Hangu aguarda a autorização para viajar a
Curitiba em busca do cliente mais fiel e que lhe trouxe boa parte dos
pacientes que ainda frequentam sua pequena sala comercial, como mostrou o
ex-ministro Gilberto Carvalho ao movimentar a agenda do médico chinês
na tarde da última quarta-feira.
(BelaMegale/Época)
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