BRASIL, POLITICA
Yeda Crusius, ex-ministra do Planejamento e ex-governadora do RS
A ex-governadora do Rio Grande do Sul Yeda Crusius (PSDB) afirma que o
presidente Jair Bolsonaro só tem risco de ser derrubado se deixar a
economia voltar à recessão. “Enquanto a economia andar para frente, não
perde o mandato. Dilma Rousseff caiu porque colocou a economia para
trás”, diz. Ela esteve em Natal para participar do encontro do PSDB
Mulher, que reuniu prefeitas, vices, presidentes de Câmaras, vereadoras e
pré-candidatas do partido. Yeda Crusius foi ministra do Planejamento no
Governo Itamar Franco.
Como vê a proposta de emenda constitucional, em estudo no Ministério da Economia, para facilitar corte de gasto com pessoal?
Passou
a reforma da Previdência, que é fundamental. Antes quiseram fazer e
ninguém conseguiu. Mas tiraram estados e municípios. Agora está na hora
de dizer como estados e municípios vão se levantar. A PEC paralela vai
colocar estados e municípios na conta da reforma da Previdência e isso
também precisa acontecer. No Rio Grande do Sul, já chegou no ponto
demográfico previsto, com mais pessoas a partir de 60 anos, do que com
menos de 24 anos. Esses jovens vão sustentar um número maior de pessoas
do que eles? Isso não é possível, não vai dar certo. Ou seja, a reforma
da Previdência passou, mas precisa chegar aos estados e municípios. Além
disso, a cada vez que se tenta fazer uma mudança importante – reformas
tributária, política, previdenciária - é esse tumulto, essa
instabilidade. Por isso, o ministro Paulo Guedes quer uma regra para
quando um estado não conseguir se sustentar, não precisar fazer uma
reforma votada. Mas, sim, ser capaz de reduzir as despesas.
Isso valeria a partir da aprovação desta PEC...
Sim,
para adiante. Os estados ficariam com essa possibilidade de reduzir as
despesas. Isso daria o direito de cada estado fazer o que deve ser
feito.
E com relação a esse aspecto do corte de gasto com pessoal?
É
uma necessidade. Mas vamos observar também outros pontos. Por que tem
que ser em pedaços? Você acha que os agentes de saúde ganham muito?
Não. Acha que os professores ganham muito? Não. Quem ganha muito? Quem
faz como um aspirador e tira a riqueza do país, como em casos de
salários do Judiciário? Há casos de contracheques que chegaram a R$ 500
mil em um mês. Então, enquanto não fizer uma reforma administrativa que
torne os servidores públicos iguais, não adianta fazer mágica, porque
toda vez que tira de quem ganha menos, vai para quem ganha mais e
aumenta a disparidade.
O PSDB se prepara para ser alternativa de poder?
Sim,
estamos nos preparando. Em dezembro, vamos votar no congresso
partidário um conjunto de prioridades e um novo programa. O atual
programa tem 31 anos. Está vivo. O lema era: “Longe das benesses
oficiais e perto do barulho das ruas”. Nunca houve tanto barulho nas
ruas como agora. Então, é preciso entender o que a população quer e ser
um partido capaz de conduzir e ser representante dessas necessidades e
demandas que as manifestações de rua estão dizendo há muito tempo.
O ex-presidente Fernando Henrique tem defendido que se faça uma aglutinação em torno de um novo centro político...
Politicamente,
sim. Tanta coisa errada foi acontecendo que tem esses extremos. A
Inglaterra está dividida em duas: Brexit e não Brexit. Na Alemanha, há o
movimento contra imigrantes. Nos também temos os extremos. Como partido
político, um PSL não existia, mas é uma nova direita. E o PT perdeu a
oportunidade de reduzir o fosso entre os que têm mais e os que têm
menos. Os extremos não resolveram as questões. O centro precisa
resolver, como Fernando Henrique se refere.
O presidente
atual não se elegeu com maioria no Congresso e para aprovar os projetos
precisa fazer alianças com alguns partidos de centro, muitas vezes
incluindo o PSDB. Isso pode prejudicar os tucanos para caminhar com um
candidato próprio a presidente?
O PSDB não está a reboque de
Bolsonaro. Mas o presidente está querendo coisas que o PSDB sempre disse
que são necessárias e muitas vezes até Bolsonaro, quando deputado,
votou contra. Mas agora vê que são necessárias. Não estamos dependentes
dele. Vamos votar, como sempre, no que consideramos correto. Enquanto
quem não conduzir não for de centro, será muito demorado e conflituoso.
Por isso queremos mostra que o centro é importante para conduzir o
país.
Há risco de Bolsonaro não terminar o mandato?
Só
cai quem deixa a economia andar para trás. Bolsonaro pode ter as
características que tiver, mas burro não é. Por isso, colocou Paulo
Guedes no Ministério para a economia andar para frente. Enquanto a
economia andar para frente, não tem risco de perder o mandato. Dilma
Rousseff caiu porque colocou a economia para trás.
Como vê o novo julgamento da prisão a partir da segunda instância no Supremo Tribunal Federal?
Disse
que estamos preparando um novo programa partidário. O PSDB Mulher mais
uma semana ou duas lança uma carta programática. E vamos defender uma
reforma constitucional. Isso está acontecendo do Supremo ter que
interpretar se algo é constitucional ou não... A constituição é de 88,
quando tinhamos hiperinflação, resultado do choque do petróleo, o mundo
não se entendia, os países quebravam... Então a Constituição é daquele
tempo. Mas não se pode ser uma reforma por mês, por semestre. Precisa de
uma reforma constitucional. Esse é um tema definido pelo PSDB Mulher.
E com relação à segunda instância...
Na
Constituição está escrito só depois da última instância. Isso é apenas
na Constituição brasileira. Nas outras, não tem isso. Observe os
programas e séries de televisão. Nos países mais maduros, na primeira
instância alguém foi condenado, sai algemado. Aqui, tem recurso, vai
para segunda instância; tem novo recurso, vai para os tribunais
superiores... O Supremo está abarrotado de processos e não consegue
fazer Justiça.
(Via:TN)
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