domingo, 27 de outubro de 2019

Yeda Crusius: 'Jair Bolsonaro só cai se a economia andar para trás'

BRASIL,  POLITICA
 Yeda Crusius, ex-ministra do Planejamento e ex-governadora do RS
 Yeda Crusius, ex-ministra do Planejamento e ex-governadora do RS

A ex-governadora do Rio Grande do Sul Yeda Crusius  (PSDB) afirma que o presidente Jair Bolsonaro só tem risco de ser derrubado se deixar a economia voltar à recessão. “Enquanto a economia andar para frente, não perde o mandato. Dilma Rousseff caiu porque colocou a economia para trás”, diz. Ela esteve em Natal para participar do encontro do PSDB Mulher, que reuniu prefeitas, vices, presidentes de Câmaras, vereadoras e pré-candidatas do partido. Yeda Crusius foi ministra do Planejamento no Governo Itamar Franco.

Como vê a proposta de emenda constitucional, em estudo no Ministério da Economia, para facilitar corte de gasto com pessoal?

Passou  a reforma da Previdência, que é fundamental. Antes quiseram fazer e ninguém conseguiu. Mas tiraram estados e municípios. Agora está na hora de dizer como estados e municípios vão se levantar. A PEC paralela vai colocar estados e municípios na conta da reforma da Previdência e isso também precisa acontecer. No Rio Grande do Sul, já chegou no ponto demográfico previsto, com mais pessoas a partir de 60 anos, do que com menos de 24 anos. Esses jovens vão sustentar um número maior de pessoas do que eles? Isso não é possível, não vai dar certo. Ou seja, a reforma da Previdência passou, mas precisa chegar aos estados e municípios. Além disso, a cada vez que se tenta fazer uma mudança importante – reformas tributária, política, previdenciária -  é esse tumulto, essa instabilidade.  Por isso, o ministro Paulo Guedes quer uma regra para quando um estado não conseguir se sustentar, não precisar fazer uma reforma votada. Mas, sim, ser capaz de reduzir as despesas.

Isso valeria a partir da aprovação desta PEC...


Sim, para adiante. Os estados ficariam com essa possibilidade de reduzir as despesas. Isso daria o direito de cada estado fazer o que deve ser feito.

E com relação a esse aspecto do corte de gasto com pessoal?


É uma necessidade. Mas vamos observar também outros pontos. Por que tem que ser em pedaços?  Você acha que os agentes de saúde ganham muito? Não. Acha que os professores ganham muito? Não. Quem ganha muito? Quem faz como um aspirador e tira a riqueza do país, como em casos de salários do Judiciário? Há casos de contracheques que chegaram a R$ 500 mil em um mês. Então, enquanto não fizer uma reforma administrativa que torne os servidores públicos iguais, não adianta fazer mágica, porque toda vez que tira de quem ganha menos, vai para quem ganha mais e aumenta a disparidade.

O PSDB se prepara para ser alternativa de poder?


Sim, estamos nos preparando. Em dezembro, vamos votar no congresso partidário um conjunto de prioridades e um novo programa. O atual programa tem 31 anos. Está vivo. O lema era: “Longe das benesses oficiais e perto do barulho das ruas”. Nunca houve tanto barulho nas ruas como agora. Então, é preciso entender o que a população quer e ser um partido capaz de conduzir e ser representante dessas necessidades e demandas que as manifestações de rua estão dizendo há muito tempo.

O ex-presidente Fernando Henrique tem defendido que se faça uma aglutinação em torno de um novo centro político...


Politicamente, sim. Tanta coisa errada foi acontecendo que tem esses extremos. A Inglaterra está dividida em duas: Brexit e não Brexit. Na Alemanha, há o movimento contra imigrantes. Nos também temos os extremos. Como partido político, um PSL não existia, mas é uma nova direita. E o PT perdeu a oportunidade de reduzir o fosso entre os que têm mais e os que têm menos. Os extremos não resolveram as questões. O centro precisa resolver, como Fernando Henrique se refere.

O presidente atual não se elegeu com maioria no Congresso e para aprovar os projetos precisa fazer alianças com alguns partidos de centro, muitas vezes incluindo o PSDB. Isso pode prejudicar os tucanos para caminhar com um candidato próprio a presidente?
O PSDB não está a reboque de Bolsonaro. Mas o presidente está querendo coisas que o PSDB sempre disse que são necessárias e muitas vezes até Bolsonaro, quando deputado, votou contra. Mas agora vê que são necessárias. Não estamos dependentes dele. Vamos votar, como sempre, no que consideramos correto. Enquanto quem não conduzir não for de centro, será muito demorado e conflituoso. Por isso queremos mostra que o centro é importante para conduzir o país. 

Há risco de Bolsonaro não terminar o mandato?


Só cai quem deixa a economia andar para trás. Bolsonaro pode ter as características que tiver, mas burro não é. Por isso, colocou Paulo Guedes no Ministério para a economia andar para frente. Enquanto a economia andar para frente, não tem risco de perder o mandato. Dilma Rousseff caiu porque colocou a economia para trás.

Como vê o novo julgamento da prisão a partir da segunda instância no Supremo Tribunal Federal?


Disse que estamos preparando um novo programa partidário. O PSDB Mulher mais uma semana ou duas lança uma carta programática. E vamos defender uma reforma constitucional. Isso está acontecendo do Supremo ter que interpretar se algo é constitucional ou não... A constituição é de 88, quando tinhamos hiperinflação, resultado do choque do petróleo, o mundo não se entendia, os países quebravam... Então a Constituição é daquele tempo. Mas não se pode ser uma reforma por mês, por semestre. Precisa de uma reforma constitucional. Esse é um tema definido pelo PSDB Mulher.

E com relação à segunda instância...


Na Constituição está escrito só depois da última instância. Isso é apenas na Constituição brasileira. Nas outras, não tem isso. Observe os programas e séries de televisão. Nos países mais maduros, na primeira instância alguém foi condenado, sai algemado. Aqui, tem recurso, vai para segunda instância; tem novo recurso, vai para os tribunais superiores... O Supremo está abarrotado de processos e não consegue fazer Justiça.



(Via:TN)

Nenhum comentário:

Postar um comentário