terça-feira, 23 de junho de 2020

Impasse: Governo decide hoje sobre reabertura da economia no Rio Grande do Norte

IMPASSE
 Lojas em todos os centros comerciais do Rio Grande do Norte estão fechadas desde março e acumulam R$ 200 milhões em prejuízos
 Lojas em todos os centros comerciais do Rio Grande do Norte estão fechadas desde março e acumulam R$ 200 milhões em prejuízos

O Governo do Estado não se posicionou nesta segunda-feira (22) sobre a recomendação conjunta dos Ministérios Públicos (Estado, Federal e do Trabalho) contra a reabertura das atividades econômicas nesta quarta-feira (24). A recomendação foi recebida pelo governo estadual durante a manhã, e a governadora Fátima Bezerra se reuniu à noite com membros do secretariado para discutir estratégias jurídicas e sanitárias em torno do documento. A posição vai ser dada publicamente ao longo desta terça-feira (23). Antes disso, o governo tem reunião marcada com o setor produtivo, insatisfeito com a posição dos órgãos.

O secretário estadual de Tributação, Carlos Eduardo Xavier, afirmou à TRIBUNA DO NORTE na noite desta segunda-feira que a posição do Governo do RN vai ser “obrigatoriamente dada” nesta terça-feira porque é a data em que o atual decreto estadual se vence. “Precisamos publicar um decreto de toda forma, seja para iniciar a retomada econômica ou postergar as medidas atuais. Mas o Governo ainda não tem um posicionamento porque analisa a nota do ponto de vista jurídico e sanitário”, disse Xavier, um dos principais interlocutores do Estado com o setor produtivo.

A recomendação dos Ministérios Público Estadual Federal e do Trabalho pede para o Governo do Rio Grande do Norte e Prefeituras se abstenham de flexibilizar o isolamento social a partir desta quarta-feira, por causa das condições atuais de assistência hospitalar. 

Procuradores e promotores que assinaram a recomendação dizem que o contrário pode ser considerado crime. Até a noite desta segunda-feira, 90% dos leitos públicos intensivos (UTI) ou semi intensivos (com respirador) em funcionamento estavam ocupados. O Estado também possuía uma fila de espera por um leito de UTI com 87 pessoas até a noite desta segunda-feira. A reabertura foi condicionada pelo próprio Governo a uma ocupação de no máximo 70%.

Uma das principais preocupações da governadora Fátima Bezerra com a recomendação dos órgãos de controle é sobre o risco de ser acusada de crime. Segundo o secretário Carlos Eduardo Xavier, mesmo com uma ocupação acima do critério estabelecido pelo Estado, a intenção inicial, antes da recomendação dos órgãos ministeriais, era dar início ao protocolo de reabertura. “Nós temos a perspectiva de abrir 27 leitos de UTI na região metropolitana de Natal, que é a mais afetada pela pandemia, nesta semana. Então planejamos dar início à abertura gradual mesmo com uma ocupação em torno de 85% dos leitos. Mas agora é preciso muita cautela, está sendo analisado”, concluiu o secretário.

Nesta segunda-feira, Carlos Eduardo Xavier afirmou que a situação financeira do Estado é crítica do ponto de vista econômico por causa da queda de arrecadação e por causa da situação do setor econômico como um todo. Ele citou que mais de dez mil pessoas perderam o emprego no último mês de abril. "O momento é muito delicado e o Governo, com muita responsabilidade, vai tomar a medida mais cabível neste momento", afirmou.

Entidades empresariais
 
Do outro lado, as entidades empresariais e ligadas ao comércio pressionam a reabertura econômica mais intensamente desde o dia 17, data inicial proposta, mas adiada para esta quarta-feira, 24, devido ao alto número de internações. Uma reunião está marcada para esta terça-feira, 22, para discutir a recomendação. Segundo o vice-presidente da Associação de Empresários do Bairro do Alecrim (AEBA), Matheus Feitosa, a recomendação dos órgãos de fiscalização “foi um choque.” “Estávamos preparados para voltar na quarta, mas agora ficamos na incerteza de como o Governo vai se posicionar com relação a isso”, declarou.

Entretanto, as entidades  aguardam uma posição oficial do Estado acerca da recomendação. Feitosa afirmou que “a AEBA vai recomendar que todos sigam o decreto do Estado, seja ele qual for, mas não pode garantir que todos vão seguir.” O Alecrim é o principal centro comercial de rua de Natal e recebe uma atenção maior dos órgãos de fiscalização. Por essa razão, defendeu Feitosa, ir contrário ao decreto estadual pode gerar mais prejuízo econômico. “O comerciante pode se prejudicar ainda mais economicamente com as multas, por isso a recomendação da AEBA é que siga o decreto. Mas não dá mais para continuarmos fechados”, disse o empresário.

A  Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Rio Grande do Norte (Fecomércio), que também esteve com representante na coletiva desta segunda-feira, considerou lamentável a notícia da recomendação dos órgãos ministeriais e pediu “bom senso”  e “moderação” do Governo do RN. “Este posicionamento dos dignos representantes do Ministério Púbico causa-nos ainda mais estranheza pelo fato de que, no dia 28 de maio, os protocolos e ações transversais foram detalhados em uma reunião com os Poderes Públicos do Rio Grande do Norte, os citados ministérios e outros órgãos autônomos, não tendo sido registrada qualquer ressalva”, afirmou através de nota.

Recomendação é criticada
 
A recomendação dos Ministérios Públicos, contrária à reabertura do comércio do RN, foi motivada depois de discordâncias com o Governo. Os órgãos se reuniram com o Estado na sexta, 19, e argumentaram pelo cancelamento da reabertura nesta quarta, 24, diante dos números atuais da pandemia do novo coronavírus. Entretanto, com o posicionamento do Estado na direção da reabertura, os procuradores e promotores decidiram emitir a recomendação, que fala em possível criminalização caso não seja cumprida.

As discordâncias foram confirmadas pelo procurador-geral da Justiça do RN, Eudo Leite, e pelo secretário estadual de Tributação, Carlos Eduardo Xavier. 

Em coletiva de imprensa nesta segunda-feira, 22, Eudo Leite também disse que “o Ministério Público continua em busca do entendimento, mas se não for possível vamos em busca de outros caminhos. Ações judiciais podem ocorrer”, declarou. Para o procurador-geral, o momento atual da pandemia no RN não permite o retorno das atividades econômicas porque a ocupação dos leitos de UTI na rede pública de Saúde continua alta. 

“Nossas atuações são pensadas nas variantes da taxa de ocupação de leitos, taxa de transmissibilidade e na curva ascendente ou descendente de novos casos. Isso tem norteado as nossas discussões. Neste episódio da recomendação que estamos tratando hoje, não foi possível dessa vez chegar a um acordo com o governo estadual e com o setor produtivo", declarou Eudo Leite.

A recomendação acontece três dias depois do governo estadual ter definido seu protocolo de reabertura das atividades, previsto para ser iniciado na quarta-feira, 24. A reabertura foi dividida em fases, e, dentro das fases, a subdivisão por “frações". Na primeira fase, a primeira fração se iniciaria nesta quarta-feira; a segunda, cinco dias depois; e a terceira, 10 dias depois da primeira fase. A reabertura estava inicialmente marcada para o dia 17, mas foi adiada por uma semana porque a ocupação dos leitos públicos de UTI permaneceu acima dos 70%.

Dentre os argumentos apresentados pelos procuradores e promotores dos órgãos de controle, está o do colapso da rede de saúde, não considerado de forma oficial pela Sesap/RN. A promotora de Justiça de Defesa da Saúde, Iara Pinheiro, que atua na Promotoria de Saúde, considerou que o quadro atual da rede pública já se trata de um colapso por existir uma fila de espera de pacientes por um leito intensivo. “Estamos no platô (fase mais crítica) da pandemia, com uma carga muito alta e um colapso da rede de saúde. Não dá para reabrir neste momento. Perderíamos muitas vidas", declarou. A promotora afirmou que 200 pessoas com covid-19 morreram desde o início da pandemia no Rio Grande do Norte enquanto aguardavam um leito intensivo de UTI. 

Nota na íntegra:
 
Desde o registro do primeiro caso de Covid-19 no Rio Grande do Norte, em 12 de março de 2020, as entidades do setor produtivo têm sido atuantes, presentes e diligentes, empreendendo diversas ações de apoio à sociedade, as prefeituras e ao Governo Estadual.

É importante ressaltar o amplo diálogo mantido com os poderes públicos e nossa permanente preocupação com o panorama assistencial, em especial com a oferta de leitos críticos para tratamento dos pacientes com COVID-19. Neste sentido, foram entregues quase cem respiradores recuperados ao Governo que permitiu a abertura de 47% dos 214 leitos críticos disponibilizados até agora.

Entre os muitos frutos deste diálogo, foi elaborado e entregue, no dia 05 de maio, ao Governo do Estado um criterioso protocolo de normas e uma sugestão de cronograma, dentro do rigor necessário, para que a retomada gradual da atividade econômica fosse concretizada com responsabilidade, equilíbrio e a devida segurança para empreendedores, colaboradores, clientes e, por consequência, para toda a população. 

Vale ressaltar, inclusive, que o Plano apresentado pelo setor produtivo foi amplamente elogiado e aprovado pelo Comitê Científico, presidido pelo Secretário de Estado da Saúde. Além da existência deste Plano, registre-se o fato de que, desde o último Decreto Estadual (publicado em 15 de junho), vimos cair a taxa estadual de transmissibilidade da Covid-19 de 1,48 para 1,14, assim como, o Rio Grande do Norte tem o menor índice de infectados por cem mil habitantes (em torno de 460). 

Por tudo isso e pelas tratativas com o Governo do Estado, em resumo, contávamos que o processo gradual de reabertura começaria a partir do dia 24 de junho. Lamentavelmente, para surpresa nossa, recebemos, no final de semana passado, a notícia de que os órgãos ministeriais - Ministério Público Estadual, Ministério Público Federal e o Ministério Público do Trabalho - estão contrários ao início da retomada gradual prevista para 24 de junho.

Este posicionamento dos dignos representantes do Ministério Púbico causa-nos ainda mais estranheza pelo fato de que, no dia 28 de maio, os protocolos e ações transversais foram detalhados em uma reunião com os Poderes Públicos do Rio Grande do Norte, os citados ministérios e outros órgãos autônomos, não tendo sido registrada qualquer ressalva. 

Como não temos autoridade institucional para qualquer ação efetiva que determine a retomada, passaremos a esperar que o bom senso do MPE, do MPF, do MPT, prevaleça. Assim como, contamos, a exemplo dos meses anteriores, com a moderação do Governo do Estado para construirmos, juntos, uma solução de equilíbrio diante da pandemia (que é grave), mas, também, de números significantemente negativos: mais de dez mil empregos perdidos; queda de quase R$ 200 milhões em faturamento e expectativa de fechamento de cerca de 12 mil empresas do comércio no pós-pandemia com estimativa de 225 mil desempregados. 

Estamos todos tentando construir as melhores soluções. Buscamos o equilíbrio. Estamos abertos ao diálogo! Mas, não é indevido registrar que, com a morte das empresas, está sendo sepultado o vínculo de emprego de milhares de trabalhadores deste Estado e, consequentemente, a paz de inúmeras famílias potiguares. 

Natal (RN), 22 de junho de 2020.

Abav/RN; ABIH/RN; Abrasel/RN; AEBA; Associação Viva o Centro; Faern; Federação das Associações Comerciais/RN; FCDL/RN; Fiern; Fecomércio RN; Fetronor; Natal Convention & Visitors Bureau; Sebrae/RN; Sindetur/RN; Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares/RN.
 
 
(Por:Tribuna do Norte)

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