'PENDURICALHO'
O presidente Jair Bolsonaro - Reprodução de vídeo
Brasília - Com salários brutos que podem chegar aos R$ 50 mil, um grupo
de militares terá a partir do mês que vem um aumento de até R$ 1.600 nos
rendimentos. O reajuste ocorrerá em um dos penduricalhos que elevam o
soldo e beneficiará, principalmente, o oficialato das Forças Armadas,
destaca o Estadão.
A medida ocorre no momento em que a economia
sofre com o impacto do novo coronavírus. Milhões de trabalhadores da
iniciativa privada perdem empregos ou são atingidos por suspensão e
corte de salários e o governo enfrenta dificuldades para manter um
auxílio emergencial de R$ 600 aos informais. Ao mesmo tempo, o
presidente Jair Bolsonaro está envolto em crises e busca reforçar sua
base de apoio, composta por militares, policiais, evangélicos,
ruralistas e, agora, políticos do Centrão.
Chamada de "adicional
de habilitação", a benesse foi criada ainda na gestão de Fernando
Henrique Cardoso e é dada para quem fez cursos ao longo da carreira. O
valor era o mesmo desde 2001. No ano passado, Bolsonaro autorizou o
reajuste para até 73% sobre o soldo, em quatro etapas (mais informações
nesta página). Na primeira delas, o penduricalho para quem fez "curso de
altos estudos", por exemplo, subirá a partir de julho de 30% para até
42% sobre o valor do soldo. O aumento vale para militares da ativa e da
reserva.
Com isso, um general de quatro estrelas, topo
hierárquico das três Forças, passará a somar R$ 5.600 por mês ao soldo
de R$ 13 400. Até então, o adicional era de cerca de R$ 4.000 mensais.
Eles ainda acumulam outros adicionais que elevam o salário para, pelo
menos, R$ 29.700 - a remuneração pode subir, a depender da formação,
permanência em serviço, atividades e local de trabalho
Atualmente,
recebem o adicional basicamente oficiais e, no caso do Exército, alguns
praças. Militares de baixa patente da Aeronáutica e da Marinha também
pressionam para receber. Questionado pelo Estadão, o Ministério da
Defesa não informou quantos militares recebem o benefício e qual será o
impacto total na folha de pagamento da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica.
Os penduricalhos acabam camuflando reajustes
salariais, vetados pelo governo por causa da crise econômica. Desde que
assumiu, em janeiro de 2019, Bolsonaro já fez outros agrados aos
militares. Empregou 2.900 no seu governo e promoveu uma reforma da
Previdência mais amena.
'Ajuda de custo'
Com
a passagem para a reserva a partir de 2020, eles ainda fazem jus a
outro benefício ampliado na reforma, a chamada "ajuda de custo" na
passagem para a inatividade. O pagamento dobrou e passou a ser oito
vezes a remuneração - o almirante Bento Albuquerque, ministro de Minas e
Energia, por exemplo, teve direito a cerca de R$ 300 mil de uma só vez
em maio.
Hoje, os maiores salários brutos entre os 381 mil
militares em geral são do general Luiz Eduardo Ramos (ministro-chefe da
Secretaria de Governo) e de Bento Albuquerque. Em março, pagamento mais
recente publicado pelo governo, eles receberam, respectivamente, R$
51.026,06 e R$ 50.756,51, conforme o Portal da Transparência. Os
valores, contudo, caíram para R$ 24.861,18 e R$ 28.140,46, pela regra do
abate-teto. O redutor é aplicado porque servidores não podem acumular
vencimentos além de R$ 39,2 mil, valor do salário de um ministro do
Supremo Tribunal Federal (STF). O que pode mudar em breve também por uma
medida do governo Bolsonaro.
Em abril, a Advocacia-Geral da
União emitiu parecer no qual considera que, para os militares, a regra
do abate-teto incidirá sobre cada um dos vencimentos que acumulam e não
mais sobre o somatório deles. Ou seja, se um militar recebe R$ 20.000
das Forças e R$ 39.200 do Executivo, ele poderá embolsar R$ 59.200 por
mês, uma vez que cada uma das rendas não ultrapassa o teto. A manobra,
revelada pela revista Época, por enquanto, não é aplicada por causa da
pandemia.
O reajuste no penduricalho a partir de julho é o
primeiro de uma série de quatro que ocorrerão até 2023. Terá direito não
apenas quem fez o "curso de altos estudos". Também serão beneficiados,
em menor porcentual, os militares que fizeram cursos de formação,
especialização e aperfeiçoamento.
O aumento é aguardado nos
quartéis desde a aprovação da reforma da Previdência, em 2019. A lei
proposta pelo governo mudou o sistema de proteção social dos militares,
mas veio acompanhada de uma reestruturação das carreiras, com a criação
de adicionais e reajuste de alguns já existentes. Somente os militares
tiveram direito a aumentos durante as mudanças nas regras de
aposentadoria.
O Ministério da Defesa não respondeu qual será o
impacto do aumento do adicional na remuneração nem quantos militares da
ativa e da reserva terão direito a receber a mais. A pasta confirmou
apenas que o pagamento será feito a partir de julho. Em vez de chamar de
aumento, a Defesa dá ao reajuste o nome de "reescalonamento".
'Despesas autossustentáveis'
Segundo
a pasta, as despesas previstas com a reestruturação das carreiras
militares são "autossustentáveis". Isso porque foram feitas mudanças no
sistema de proteção social, com aumento da contribuição para custeio da
pensão militar e universalização da cobrança. A economia é de R$ 800
milhões aos cofres públicos, disse o ministério.
(Por:Estadão Conteúdo)
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