DENÚNCIA DO FANTÁSTICO
Nada demais. Nada de diferente do processo usado para aprovar matérias como o reajuste do Ministério Público do RN, a unificação dos fundos ou o empréstimo de R$ 850 milhões para o Governo do Estado, foi seguido para aprovar a Lei sobre a Inspeção Veicular, em 2010, na Assembleia Legislativa. Pelo menos, foi isso que garantiu o presidente da Casa, Ezequiel Ferreira, do PMDB, em pronunciamento feito na abertura da sessão plenária de hoje. Se dizendo um “injustiçado”, o peemedebista afirmou que jamais recebeu qualquer centavo para ajudar no processo, tampouco, fez qualquer coisa diferente do que se costuma fazer na Casa Legislativa com relação a rito processual.
“Só as mentes que creem no fantástico podem supor que, para isso, um deputado, só um entre 23, um deputado, para cumprir a rotina e o hábito da casa tivesse recebido R$ 300 mil. Para que? Só para cumprir a rotina que a Assembleia não costuma se afastar? É mesmo Fantástico”, afirmou Ezequiel Ferreira, num pronunciamento de pouco mais de 10 minutos e que teve declarações de apoio de todos os presentes, como Gustavo Carvalho (PROS), Ricardo Motta (PROS), Jacó Jácome (PMN), Kelps Lima (SDD), Getúlio Rêgo (DEM), Fernando Mineiro (PT) e José Adécio (DEM).
“A tentativa que vem sendo feita de transformar o fantástico em realidade chega ao mais absurdo. É visível, patente, escancaradamente ostensivo, que o ser fantástico paira sobre todos nos só para encobrir com uma cortina de fumaça as verdadeiras acusações que pesam contra o hoje delator, o mesmo que há dois anos, em declaração que fez em escritura publica em cartório, desmentiu o seu cúmplice e disse não haver envolvimento de dinheiro ou de propina na aprovação da Lei de Inspeção Veicular”, acrescentou Ezequiel, fazendo referência ao nome do programa onde a denúncia feita contra ele pelo procurador-geral de Justiça, Rinaldo Reis, ganhou repercussão nacional.
Denunciado penalmente na última sexta-feira, Ezequiel Ferreira é acusado de cobrar R$ 300 mil a George Olimpio, réu da Operação Sinal Fechado, para agilizar a aprovação da matéria que tornava obrigatória a inspeção veicular no Rio Grande do Norte. Sem passar por qualquer uma das comissões da Casa, a matéria foi levada a plenário e aprovada com o voto favorável dos 22 deputados presentes.
Dentre os 24 deputados, Ezequiel Ferreira disse que teria sido o “escolhido” por George Olimpio por ter tido contato com ele anteriormente. George era filiado ao PTB, partido presidido por Ezequiel Ferreira no passado, antes dele se transferir para o PMDB.
De qualquer forma, segundo Ezequiel Ferreira, essa “dúvida” lançada contra ele atinge toda a Assembleia Legislativa. “Por meio desse único deputado lançar sobre toda a Assembleia a nódoa infame da corrupção”, afirmou o deputado peemedebista, que é presidente da Casa há apenas duas semanas. “Hoje sou eu, amanha poderá ser outro inocente e injustiçado como eu. Eu quero justiça, que só se constrói com a verdade”, alerta.
Gravação mostra George Olimpio pedindo ajuda a Ezequiel para ‘travar’ o processo
A delação premiada assinada por outros réus da Operação Sinal Fechado era, justamente, o que George Olimpio queria evitar. Pelo menos, foi isso que ele revelou em conversa com o deputado estadual Ezequiel Ferreira, do PMDB, e que foi gravada pelo próprio George para agora ser entregue para o Ministério Público do RN.
Na conversa, inclusive, George Olimpio alerta Ezequiel Ferreira da investigação que foi instaurada contra o deputado e confirma tudo o que outro réu do processo, Alcides Barbosa, havia revelado em delação premiada. Na época, ainda sem assinar a delação, publicamente, George dizia justamente o contrário. Negava tudo o que Alcides apontava.
“Eu fui chamado por Carlos Augusto. Fui chamado antes da campanha. Ele e José Agripino. Aquilo tudinho que o menino disse é verdade. Ele não tem é prova. Mas tudo que ele disse na delação… Claro, nem tudo, mas esses fatos, é verdade. Eu fui no apartamento de José Agripino, eu estive com Carlos Augusto, eu dei R$ 1 milhão para a campanha de Rosalba. Agora, Carlos Augusto queria tirar José Agripino de dentro do Governo. F* com José Agripino”, afirma George Olimpio em conversa com Ezequiel Ferreira.
A parte que ele fala de Carlos Augusto Rosado, marido da ex-governadora Rosalba Ciarlini, é bem verdade, é novidade e não aparece nos trechos da delação premiada divulgados pelo MPRN. E, assim como disse ter sido chantageado por Agripino, George também se disse ter se sentido coagido pelo marido da ex-governadora. “Se eu não tivesse feito, ele ia dizer ‘não a gente parou a inspeção porque a gente pediu e ele não colaborou’. Então, tudo isso eu fiz”, acrescenta.
Além de confirmar o conteúdo da delação de Alcides Barbosa, George Olimpio revela ter receio de que, com essa atitude do ex-parceiro dele, outros apareçam com o mesmo interesse e ele acabe sendo responsabilizado sozinho – acabou que foi isso que aconteceu no ano passado, quando ele assinou a delação premiada.
“Eu tenho medo dessas pessoas. Tenho medo que com isso comece Gilmar a vim querer fazer delação, o pessoal lá do Sul, que arranjou dinheiro para a gente resolver as coisas… Então, eu tenho medo que aconteça exatamente o mesmo que aconteceu com Richardson, aconteça conosco, sendo que o da gente é infinitamente mais fácil de resolver”, afirma George Olimpio na conversa grava com Ezequiel Ferreira.
“O que eu não quero? Que chegue a esse ponto e eu fique no canto de parede com a cara mexendo depois de todas as coisas que eu falei. Porque eu sai de lá dizendo que não houve aquilo, dei entrevista, fiz nota para José Agripino”, acrescenta o réu, completando que “se eu tirar corrupção, porque o peculato eu sei que não existe, o resto… É negócio de formação de quadrilha, e isso aí vai prescrever”.
Essa nota reconhecida em cartório e negando a participação de José Agripino no esquema foi, exatamente, o que o senador apresentou ao Fantástico quando a reportagem foi exibida no último domingo. Na conversa com Ezequiel, George ressalta o poder do documento, que arquivou uma investigação aberta pela Procuradoria-Geral da República contra o senador no passado – reaberta ontem, pelo atual procurador, Rodrigo Janot. “Só foi arquivado por conta dessa minha declaração aqui”, ressalta George.
No áudio da conversa, disponibilizado pelo Ministério Público do RN, dá para ouvir pouco do que Ezequiel Ferreira fala. Só algumas “concordâncias” do parlamentar. Não é possível ouvir a reação dele, porém, quando George Olimpio ressalta que precisa da ajuda dele para travar o processo da Sinal Fechado. “Por você ser deputado, é mais uma força para ajudar o processo a travar, estancar”, afirma George, acresentando que o deputado precisa tomar cuidado, pois também está sendo investigado.
“Saiu uma portaria do MP pedindo a quebra do meu sigilo, do seu, telefonico e bancário, para ver se há cruzamento. Claro, a gente está tranquilo com relação a isso porque não existe coisa, mas digo isso para você ficar atento”, pediu George Olimpio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário