VIROU BIQUEIRA
Roberto Campello
Roberto_campello1@yahoo.com.br
Durante décadas, um prédio localizado na Avenida Deodoro da Fonseca, em Petrópolis, sediou o antigo e tradicional jornal Diário de Natal e a Rádio Poti. Hoje, o prédio está abandonado e servindo de abrigo para usuários de drogas, motel, “residência” para moradores de rua, criador de insetos e ninho de uma família de gaviões. O prédio está nessa situação desde 2010, quando o periódico mudou sua sede para o bairro de Igapó, na zona Norte de Natal. Em ruínas, deteriorado e tomado pelo mato e lixo, nem de longe o local lembra os tempos áureos do jornalismo potiguar. Toda essa situação tem causado medo e insegurança aos moradores que esperam, há anos, por uma solução do problema.
A Rua Valdemar Falcão, localizada entre a Avenida Deodoro da Fonseca e a Rua Floriano Peixoto, tem pouco mais de dez casas. A maioria habitada por mulheres e idosas. A rua fica localizada na lateral do antigo prédio do Diário de Natal e os moradores são obrigados a conviver diariamente com os transtornos causados pelo abandono do prédio. A igreja da Fraternidade Rosacruciana, que fica localizada na rua, já foi arrombada quatro vezes. Agora, eles reforçaram a segurança com cadeados e grades. É comum encontrar nas casas, câmeras de segurança e cerca elétrica como forma de se proteger.
A reportagem d’O Jornal de Hoje entrou no prédio. Onde ficava a antiga recepção, hoje é possível encontrar roupas sujas, garrafas de bebidas alcoólicas, restos de comida, preservativos usados, material para uso de drogas e muito lixo.
A aposentada Beilda Mota, de 58 anos, mora na residência há mais de 40 anos e conta que veio para Natal fugindo da insegurança de São Paulo e agora, segundo ela, se depara com uma situação três vezes pior. Ela conta que em função dos moradores de rua que “vivem” no prédio, fica impossibilitada de sentar na calçada – costume que era tradição entre os vizinhos. Para sair de casa, a situação é ainda mais delicada, pois, normalmente, é abordada pelos usuários de drogas.
Para piorar ainda mais a situação da dona de casa, toda vez que ela sai de casa é atacada pelo gavião, que construiu seu ninho no prédio antigo do Diário de Natal. “Já perdi as contas de quantas vezes fui atacada. Hoje, para sair de casa só se for de sombrinha ou de chapéu, pois a minha cabeça é alvo certo do gavião. Sou até motivo de chacota dos vizinhos, pois todo mundo me conhece como a ‘senhora do gavião'”, relata Beilda Mota. Ela conta que já procurou o IBAMA e o Corpo de Bombeiros para resolver o problema do gavião, mas foi informada que não poderiam fazer nada.
Ela também explica que, por iniciativa dos próprios moradores, já foi comprado cimento e tijolo, várias vezes, para fechar as entradas do prédio, e sempre os moradores de rua derrubam o muro. “Estamos vivendo em uma de tensão e desespero, porque não sabemos mais a quem recorrer. O medo já é uma constante em nosso cotidiano. Estamos vivendo presas em nossas próprias casas”, afirma.
Thais Mota é filha de Beilda e mora na mesma casa que a mãe a avó, de 78 anos, que tem Alzheimer. Ela relata que as portas e janelas foram reforçadas com grandes cadeados em função do risco de assalto e foram obrigadas a lajear as casas antigas com medo de os ladrões destelharem as casas. Segundo Thais, nos finais de semana a situação é ainda mais complicada, quando o fluxo de pessoas e carros pela região é bem menor.
“A situação chegou ao ponto de termos que realizar um rodízio entre os homens da família, de modo que todo final de semana alguém durma aqui como forma de intimidar, já que somos uma casa só de mulheres. À noite aqui a situação é tensa, pois só ouvimos os gritos de quem está lá dentro, desse elefante branco que está na nossa frente”, relata Thais Mota. Diante do medo, Thais chegou a plantar um pé de pião em frente a janela para observar, entre os galhos, o movimento de dentro do prédio.
INSETOS E ROEDORES
A dona de casa Jaira Amorim, de 57 anos, mora na rua desde pequena. Ela reclama, além da segurança, da proliferação de insetos, principalmente muriçocas. “Sou obrigada a fechar as portas e janelas da minha casa às cinco horas da tarde se eu quiser dormir à noite”, conta. Jaira se mostra preocupada também com as árvores que estão dentro do prédio, pois, segundo ela, estão cheia de cupins e podem cair a qualquer momento. Ela nunca foi atacada pelo gavião, mas já presenciou vários ataques.
“Além de todo transtorno em termos de segurança, temos riscos à nossa saúde. Lá tem todo tipo de insetos e roedores e é um potencial lugar para proliferação do mosquito transmissor da dengue”, afirma. Jaira Amorim conta que meses depois de o periódico deixar o prédio, os moradores fizeram um mutirão de limpeza e, com cinco agentes de endemias, e encontraram inúmeros focos do mosquito.
A dona de casa conta que a novidade é a presença de “filhinhos de papai” que estão frequentando o prédio abandonado no final da tarde. “Era comum vermos moradores de ruas passando lá dentro, mas agora vemos muitos filhinhos de papai, bem vestidos, arrumados, passeando lá dentro. Dá para perceber que eles vêm para fumar maconha e eles não têm medo dos moradores de rua. “Nesses dias aparece algum corpo aí e ninguém pode fazer nada, porque não somos doidos para entrar lá”.
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