CASO TRIPLEX
O Instituto Lula publicou em seu site reproduções de documentos para
voltar a negar que o apartamento no condomínio Solaris, no Guarujá,
pertença a Luiz Inácio Lula da Silva e sua família. A entidade,
presidida por Paulo Okamotto, confirmou que o ex-presidente esteve na
unidade 164-A, um tríplex de 215 m2, em uma "única ocasião", em 2014,
acompanhado da mulher, Marisa Letícia, e de José Adelmário Pinheiro, o
Léo Pinheiro, sócio da OAS.
Lula e Marisa foram intimados na
semana passada a depor no próximo dia 17 como investigados em inquérito
do Ministério Público Estadual que apura oito empreendimentos da
Cooperativa Habitacional dos Bancários do Estado de São Paulo (Bancoop)
assumidos pela OAS, alvo da Lava Jato por formação de cartel na
Petrobrás entre 2004 e 2014. Um desses empreendimentos é o condomínio
Solaris - também alvo da Operação Triplo X, 22.ª fase da Lava Jato.
O
comunicado divulgado no sábado à noite pelo Instituto Lula faz um
histórico da negociação envolvendo o empreendimento e acusa a imprensa e
"agentes públicos partidarizados" de promover uma "farsa" para
incriminar o ex-presidente da República.
No Ministério Público
paulista, contudo, a avaliação inicial é de que as informações
corroboram os indícios de tentativa de ocultação de patrimônio. O
promotor Cássio Conserino afirmou que viu incoerência nas informações
apresentadas.
Desde que surgiram suspeitas na relação do tríplex
164-A com a família Lula, o instituto do ex-presidente vinha divulgando
notas afirmando que o petista e sua família nunca adquiriram o
apartamento em si, mas uma cota-parte da Bancoop para aquisição de um
imóvel no edifício, e que, posteriormente, desistiram da compra.
Na
nota de anteontem, o instituto afirma que a cota adquirida por Marisa
Letícia se referia à unidade 141 do edifício, de 82,5 m2. Em setembro de
2009, quando o empreendimento foi incorporado pela OAS, diz a nota que
Marisa interrompeu os pagamentos porque deixou de receber os boletos da
Bancoop e não aderiu ao contrato com a OAS. Até então, a família havia
pago R$ 179.650,80 (em valores de hoje, R$ 286 mil) pela cota da unidade
141. Parte da declaração de bens da campanha à reeleição de Lula em
2006, entregue ao Tribunal Superior Eleitoral, foi anexada à nota. Nela
consta o valor de R$ 47.695,38, como participação na Bancoop.
De
acordo com o comunicado, em 2014, quando o edifício estava concluído,
Lula e Marisa, acompanhados de Léo Pinheiro, visitaram o tríplex 164-A,
que estava à venda, mas não aprovaram o imóvel no estado em que estava.
Em novembro de 2015, Marisa teria, enfim, assinado o termo da Bancoop
requerendo sua "demissão" do empreendimento. Na data deste documento,
porém, consta o ano de 2009, de acordo com a nota do instituto.
Incoerente
"O
que eu posso falar é que é incoerente com as próprias notas do
instituto. Antes eles tinham uma cota e agora eles têm uma unidade
habitacional específica. Nem eles sabem o que eles têm", disse Conserino
ao jornal O Estado de S. Paulo. O promotor já afirmou que via indícios
para denunciar Lula por lavagem de dinheiro.
O inquérito do
MP-SP investiga a suspeita de que as operações envolvendo a Bancoop e a
OAS provocaram prejuízos de aproximadamente R$ 250 milhões aos
cooperados.
Anteontem, o Instituto Lula afirmou que o
ex-presidente e Marisa avaliaram que o tríplex no condomínio Solaris
"não se adequava às necessidades e características da família, nas
condições em que se encontrava".
O instituto afirma que a
ex-primeira-dama e Fábio Luís Lula da Silva voltaram ao apartamento
quando este estava em obras. O apartamento está em nome da OAS.
A
entidade voltou a criticar a decisão do promotor de intimar Lula e sua
mulher a depor como investigados. "Além de infundada, a acusação leviana
do promotor desrespeitou todos os procedimentos do Ministério Público,
pois Lula e Marisa sequer tinham sido ouvidos no processo."
A Polícia Federal incluiu o tríplex 164-A no rol de imóveis com "alto grau de suspeita quanto à sua real titularidade".
Boatos
Intitulado
"Os documentos do Guarujá: desmontando a farsa", o comunicado divulgado
pelo Instituto Lula afirma que a família do ex-presidente desistiu no
ano passado da opção de compra do tríplex 164-A no condomínio Solaris
"mesmo tendo sido realizadas reformas e modificações no imóvel (que
naturalmente seriam incorporadas ao valor final da compra)", por causa
de "notícias infundadas, boatos e ilações que romperam a privacidade
necessária ao uso familiar do apartamento". A reforma no imóvel de 215
m2, contratada pela empreiteira OAS, custou R$ 777 mil.
por:Eduardo Kattah e Letícia Sorg/Estadão Conteúdo
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