LAVA JATO
As planilhas apreendidas pela Operação Lava Jato na casa do presidente
de um dos braços da Odebrecht indicam que o grupo pode ter usado
distribuidoras de cerveja para mascarar doações eleitorais a políticos.
Essas contribuições podem ter superado a cifra de R$ 30 milhões.
Desde
que as planilhas foram reveladas, anteontem, políticos citados nas
listas de beneficiários de recursos vêm negando ter recebido recursos de
forma irregular. Ao justificar as doações da Odebrecht, alguns
apresentaram recibos de doações oficiais em nome das empresas Leyroz de
Caxias ou Praiamar. Agiram assim, por exemplo, o presidente nacional do
PSDB, senador Aécio Neves (MG), e o ministro da Educação, Aloizio
Mercadante (PT).
A Leyroz de Caxias e a Praiamar, porém, não são
ligadas à Odebrecht e, sim, ao grupo Petrópolis, que fabrica as cervejas
Itaipava e Cristal.
Nas planilhas da empreiteira, a palavra
"Itaipava" está anotada à mão ao lado de uma doação que indica um
repasse de R$ 500 mil para Luís Fernando Pezão (PMDB), atual governador
do Rio de Janeiro. Essa mesma doação para Pezão está relacionada, no
topo da coluna dos valores, a um certo "Parceito IT" (sic) - indício de
"parceria" entre a Odebrecht e a Itaipava no financiamento eleitoral.
Em
outros trechos das planilhas, há valores significativos associados ao
"parceiro IT". Em uma delas, que relaciona doações para a campanha
eleitoral de 2012, o total chega a R$ 5,8 milhões. Em outro quadro, sem
data definida, o "parceiro" aparece como responsável por doações de R$
30 milhões a 13 partidos, entre eles PT, PMDB e PSDB.
Apesar de
atuar em um setor cuja lucratividade não está associada a contratos com
governos ou regulamentações votadas pelo Congresso, as empresas ligadas à
cervejaria Itaipava apareceram entre as principais doadoras de
campanhas em 2010, 2012 e 2014.
Substitutas
Anteontem,
Aécio divulgou nota em que afirma que as doações citadas nas planilhas
da Odebrecht foram legais e realizadas pela Leyroz de Caxias. Foram dois
depósitos em 2010, que totalizaram quase R$ 1,1 milhão.
Outro
citado nas planilhas da empreiteira, o ex-senador Demóstenes Torres
também justificou supostas doações da Odebrecht com depósitos do "grupo
Petrópolis", no total de R$ 1,2 milhão.
Mercadante divulgou nota
relacionando diversas doações da Praiamar e da Leyroz de Caxias, no
total de R$ 700 mil, às doações que aparecem nas planilhas da Odebrecht.
O
deputado Roberto Freire (PPS-SP), cujo nome também está nos documentos
apreendidos pela Polícia Federal, informou que "o valor de R$ 500.000,00
foi doado ao PPS pela construtora Odebrecht em 31/8/2012 (...) e
devidamente declarado à Justiça Eleitoral". O comprovante anexado à nota
não mostra um depósito da Odebrecht, mas da Leyroz de Caxias.
Processo
Segundo
a Receita Federal, tanto a Praiamar quanto a Leyroz de Caxias são
controladas por Roberto Luís Ramos Fontes Lopes. Em 2013, Lopes foi
processado por fraude tributária. Um trecho do processo informa que o
Fisco de São Paulo suspeitava da ação de Fontes Lopes como "testa de
ferro" de Walter Faria, controlador do grupo Petrópolis.
O
Ministério Público Federal já encontrou elos entre Faria e os crimes
investigados pela Operação Lava Jato. Uma conta ligada ao empresário na
Suíça recebeu US$ 3 milhões do lobista Julio Camargo. A conta, segundo
reportagem publicada no ano passado pela Folha de S. Paulo, teria sido
indicada por Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB no esquema
de desvios de recursos da Petrobrás. Na época, todos negaram
irregularidades.
por: Estadão Conteúdo |Foto: Lula Marques/ Agência PT
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