O julgamento dos policiais militares
Adeildo Costa dos Santos, Reinaldo Correia de Lima Filho, Josemar
Faustino dos Santos e José Geraldo da Silva, que foram a júri popular
nesta semana acusados de homicídio qualificado por omissão nas mortes de
Paulo César Farias e Suzana Marcolino, recolocou sob os holofotes um
escândalo que mudou os rumos do País há mais de 20 anos. Em 1992, era
denunciado o esquema PC Farias, como ficou conhecido o caso de corrupção
que culminou no impeachment do então presidente da República, Fernando
Collor de Mello.
Paulo César Farias e Suzana
Marcolino foram assassinados na madrugada do dia 23 de junho de 1996,
em uma casa de praia em Guaxuma. À época, o empresário respondia a
vários processos e estava em liberdade condicional. Ele era acusado dos
crimes de sonegação de impostos, falsidade ideológica e enriquecimento
ilícito. A morte de PC Farias chegou a ser investigada como queima de
arquivo, já que a polícia suspeitou que o ex-tesoureiro da campanha de
Collor poderia revelar nomes de outras pessoas que teriam participação
nos mesmos crimes.
Entretanto, a primeira
versão do caso, que foi apresentada pelo delegado Cícero Torres e pelo
legista Badan Palhares, apontou para crime passional. Suzana teria
assassinado o namorado e, na sequência, tirado a própria vida. A versão
foi contestada pelo médico George Sanguinetti, que descartou tal
possibilidade e, mais tarde, novamente questionada por uma equipe de
peritos convocados para atuar no caso. Os profissionais forneceram à
polícia um contralaudo que comprovaria a impossibilidade, de acordo com a
posição dos projéteis, da tese de homicídio seguido de suicídio.
Relembre a seguir como estão os principais personagens do esquema montado por PC Farias:
PC Farias
Figura central do escândalo
de corrupção que derrubou Fernando Collor, o empresário Paulo César
Farias, mais conhecido como PC Farias, foi tesoureiro da campanha
presidencial e era a figura mais influente dentro do governo, com
trânsito em todos os ministérios e diversos setores da economia. As
primeiras denúncias contra ele surgiram em 1990, quando foi acusado de
ter pressionado a Petrobras para conceder um financiamento de US$ 40
milhões à companhia aérea Vasp.
Porém, a crise eclodiu de
fato em maio de 1992, após Pedro Collor afirmar à revista Veja que PC
Farias seria o “testa-de-ferro” do presidente em diversos
empreendimentos, incluindo o jornal Tribuna de Alagoas. Na mesma
entrevista, Pedro Collor acusou PC de influir diretamente nas decisões
do governo em benefício do esquema. Ao fim daquele ano, o relatório
final da CPI instaurada para apurar o escândalo apontava que PC teria
movimentado ao menos US$ 6,5 milhões para pagar gastos pessoais de
Collor durante o seu mandato, incluindo a reforma da Casa da Dinda, a
mansão do presidente em Brasília.
Em junho do ano seguinte,
após ter decretada a prisão preventiva por sonegação fiscal, PC Farias
fugiu do País, acompanhado de seu ex-sócio Jorge Bandeira. A fuga
começou no interior de Pernambuco, a bordo de um avião pilotado por
Bandeira, que fez escala no Paraguai até chegar a Buenos Aires, na
Argentina. De lá, PC seguiu para Londres, onde foi localizado pela
polícia inglesa em outubro. O empresário fugiu novamente, desta vez para
a Tailândia, onde finalmente foi capturado e deportado ao Brasil em
novembro.
Em dezembro de 1994, o
Supremo Tribunal Federal (STF) condena PC Farias a sete anos de prisão
por falsidade ideológica. Em junho de 1995, deixa a prisão para cumprir o
resto da pena em regime aberto e, em dezembro do mesmo ano, recebe a
liberdade provisória, enquanto respondia a processos por sonegação de
impostos, falsidade ideológica e enriquecimento ilícito. Menos de seis
meses depois, foi encontrado morto com um tiro na altura da axila
esquerda, acompanhado da namorada, Suzana Marcolino, em sua casa de
praia em Maceió (AL).
Fernando Collor de Mello
Primeiro presidente eleito
de forma direta após a ditadura militar, Fernando Collor de Mello já
vinha desgastado pelo mau desempenho da economia brasileira quando o
escândalo PC Farias eclodiu, em 1992. A situação foi agravada após seu
próprio irmão, Pedro Collor, fazer coro ás denúncias, afirmando que
cerca de US$ 100 milhões passaram pelas mãos de PC Farias durante a
campanha de Collor, dos quais o tesoureiro teria embolsado US$ 15
milhões. Em entrevista concedida na época, Pedro Collor chegou a dizer
que PC seria o “testa-de-ferro” de Collor, responsabilizando o
presidente pelas atividades ilícitas de seu ex-tesoureiro.
Contra Collor pesaram
denúncias de que diversas despesas pessoais suas, incluindo contas da
casa da família do presidente, eram pagas por funcionários de PC Farias.
Diante das suspeitas, foi instaurada uma Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) para investigar o esquema de corrupção, que culminou com
a abertura do processo de impeachment contra Collor, proposto pela
Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e pela Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB), e aprovado pela Câmara em 29 de setembro daquele ano.
Afastado do cargo, Collor
foi substituído interinamente pelo vice-presidente, Itamar Franco
(PMDB), enquanto a CPI concluía seus trabalhos. No dia 29 de dezembro,
Collor renunciou à Presidência da República, horas antes de ser
condenado pelo Senado por crime de responsabilidade, perdendo seus
direitos políticos por oito anos.
Após uma tentativa
frustrada de reaver os direitos políticos no Superior Tribunal de
Justiça (STJ), Collor viu o Supremo Tribunal Federal (STF) arquivar, em
1994, o processo em que era acusado de corrupção passiva. No ano
seguinte, se mudou para Miami, nos Estados Unidos, onde permaneceu até
1998. Em 2000, tentou concorrer à prefeitura de São Paulo, mas foi
impedido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Dois anos depois, já
com seus direitos políticos revalidados, disputou o governo de Alagoas,
sendo derrotado no segundo turno. Em 2006, Collor retornou à política
nacional ao ser eleito senador por Alagoas, agora filiado ao PTB,
fazendo parte da base aliada de seu antigo rival nas eleições
presidenciais, Luiz Inácio Lula da Silva.
Rosane Collor
Segunda mulher de Fernando Collor,
Rosane Brandão Malta – mais conhecida como Rosane Collor -, protagonizou
escândalos nos dois anos que passou como primeira-dama do Brasil. Em
1991, foi afastada da presidência da Legião Brasileira de Assistência
(LBA) após denúncias de desvios de dinheiro da entidade filantrópica em
benefício de familiares de Rosane. O irmão de Rosane, Pompílio, teria
recebido recursos da LBA para o fornecimento de água em carros-pipa no
combate à seca no município alagoano de Canapi – terra natal da família
-, mas os veículos nunca foram fornecidos.
Após o impeachment de
Collor, o casal se mudou para Miami, nos Estados Unidos, em 1995. Em
2005, Rosane se divorciou do ex-presidente. Convertida à igreja
evangélica, Rosane atualmente se dedica à escrita de um livro de
memórias, em colaboração com o jornalista Fábio Fabretti.
Pedro Collor
Pedro Collor de Mello
entrou em rota de colisão com o irmão, o presidente Fernando Collor,
após ser afastado da direção das organizações Arnon de Mello, que
controlava boa parte da imprensa alagoana. Por conta de suas constantes
críticas à gestão de Collor, Pedro chegou a ter a sanidade questionada
pela própria mãe, dona Leda, como forma de minimizar suas declarações.
Em maio de 1992, porém, apresentou à imprensa um laudo comprovando sua
integridade mental.
No mesmo mês, a revista Veja publicou
uma entrevista com Pedro Collor em que ele acusava PC Farias de ser o
“testa-de-ferro” do irmão em negócios operados pelo esquema de
corrupção. “Qual foi o principal mote da campanha do Fernando? Quem
roubava ia para a cadeia. Na prática, estou vendo uma coisa
completamente diferente. Ninguém pode enrolar todo mundo o tempo todo”,
afirmou à revista. “O Paulo César é a pessoa que faz os negócios de
comum acordo com o Fernando. Não sei exatamente a finalidade dos
negócios, mas deve ser para sustentar campanhas ou manter o status quo”,
disse. Além das denúncias, Pedro Collor ainda fez revelações sobre o
juventude do presidente e o seu envolvimento com drogas na década de
1960, quando eram usuários de cocaína. Pedro Collor morreu de câncer no
cérebro em 1994, deixando a esposa, Thereza Collor, e três filhos.
Thereza Collor
Filha do deputado João Lyra
(PSD-AL), Thereza Collor foi alçada à condição de musa do impeachment
em maio de 1992, quando acompanhou o marido e irmão do então presidente,
Pedro Collor, em uma entrevista coletiva em São Paulo. Vestindo um
tailleur xadrez que revelava suas pernas, Thereza chamou mais atenção
dos jornalistas do que o atestado de integridade mental apresentado por
Pedro, cuja sanidade havia sido questionada pela própria família após a
série de denúncias feitas contra Fernando Collor.
Após a morte do marido em
1994, foi secretária de Turismo de Alagoas entre 1995 e 1998, mas
decidiu afastar-se da política. Atualmente casada com o empresário
paulista Gustavo Halbreich, Thereza se dedica a trabalhos com alta
costura e joias.
Ibsen Pinheiro
Então presidente da Câmara,
o ex-deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) comandou a histórica sessão que
aprovou a abertura do processo de impeachment contra Collor. Em 1994,
teve seu mandato cassado por envolvimento com o escândalo dos anões do
Orçamento, ficando inelegível por oito anos.
Em 2000, porém, o STF
arquivou o processo contra Ibsen, que retornou à política em 2004, sendo
eleito vereador de Porto Alegre e, dois anos depois, retornando à
Câmara. Atualmente, é presidente do Conselho Deliberativo do
Internacional.
Jorge Bandeira
Ex-sócio de PC Farias,
Jorge Bandeira era o piloto do “Morcego Negro”, jatinho símbolo do
esquema de corrupção montado pelo ex-tesoureiro de Collor. Em 1993,
ajudou PC a fugir do Brasil. Passou dois anos em Buenos Aires, na
Argentina, onde estudou gastronomia até ser preso e deportado. Passou
nove meses na prisão, por sonegação fiscal. Atualmente, é proprietário e
chef do restaurante Le Corbu, em Maceió (AL). Entre os pratos servidos
está o “filé do presidente”, cuja receita seria de Fernando Collor,
frequentador assíduo e amigo pessoal de Bandeira.
Lindbergh Farias
Em 1992, Lindbergh Farias
era presidente da União Nacional dos Estudantes (Une) e se tornou uma
das principais lideranças do movimento dos “caras pintadas”, que tomaram
as ruas do Brasil em uma série de protestos pedindo o impeachment de
Collor. Em 1994, foi eleito deputado federal pelo PCdoB, migrando para o
PSTU três anos depois.
O baixo desempenho da
legenda, porém, impediu que fosse eleito em 1998 e 2000 a deputado
federal e vereador do Rio de Janeiro, respectivamente. Por esse motivo,
em 2001 filiou-se ao PT, partido pelo qual voltou à Câmara e foi
prefeito de Nova Iguaçu de 2005 a 2010, cargo que deixou para concorrer a
uma cadeira no Senado, onde está atualmente.
Eriberto França
Assessor de Ana Acioli,
secretária particular de Fernando Collor, Eriberto França ficou
conhecido como “o motorista que derrubou o presidente”. Em entrevista à
revista IstoÉ, forneceu provas concretas do envolvimento de Collor com o
esquema montado por PC Farias. Espécie de “faz-tudo” de Acioli,
Eriberto pagava as contas da Casa da Dinda, a mansão do presidente em
Brasília, com dinheiro de PC Farias.
Foi ele quem comprou, com
um cheque de PC, a famosa Fiat Elba usada por Rosane Collor, carro que
virou prova do esquema de corrupção no Planalto. Após o impeachment de
Collor, Eriberto trabalhou para a IstoÉ e, posteriormente, no Ministério
do Trabalho e na Empresa Brasileira de Comunicação (EBC). Depois de
passar mais de um ano desempregado, atualmente ganha a vida com bicos e
reclama da falta de reconhecimento dos políticos por seu papel no
impeachment.
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