PREVIDÊNCIA
Plenário do Senado Federal durante sessão deliberativa ordinária. Ordem do dia (Roque de Sá/Agência Senado)
Em meio às pressões de senadores contra o governo por mais recursos
aos Estados, o Senado impôs uma derrota à equipe econômica na madrugada
desta quarta-feira, 2, e retirou todas as mudanças que seriam feitas nas regras do abono salarial na reforma da Previdência. A alteração eliminou 76,4 bilhões de reais da economia esperada em dez anos pelo texto.
A votação em separado desse dispositivo foi solicitada pela bancada
do Cidadania. O governo precisava garantir 49 votos favoráveis ao
trecho, mas só teve 42 apoiadores – enquanto 30 parlamentares votaram
pela derrubada.
Treze senadores que haviam apoiado o texto-base da reforma traíram o
governo e ajudaram a derrubar a mudança no abono salarial. A lista de
infiéis inclui senadores que costumam votar alinhados ao governo, como
Dario Berger (MDB-SC) e Esperidião Amin (PP-SC). Líder da maior bancada
do Senado, Eduardo Braga (MDB-AM) foi outro que virou o voto para ajudar
a derrubar a mudança.
Também foram favoráveis à reforma, mas contrários à mudança no abono
salarial, os senadores Alessandro Vieira (CDD-SE), Alvaro Dias
(Podemos-PR), Eduardo Girão (Podemos-CE), Flávio Arns (Rede-PR), Jorge
Kajuru (CDD-GO), Katia Abreu (PDT-TO), Mara Gabrilli (PSDB-SP), Reguffe
(Podemos-DF), Rodrigo Cunha (PSDB-AL) e Styvenson Valentim (Podemos-RN).
Outros dois senadores que votaram favoráveis ao texto-base foram
embora antes da votação do destaque sobre o abono: Marcos Rogério
(DEM-RO) e Telmário Mota (PROS-RR). Já o líder do PSD no Senado, Otto
Alencar (BA), foi na direção contrária: votou contra a reforma, mas
apoiou a mudança no abono.
A proposta aprovada na Câmara dos Deputados restringia o pagamento do
benefício, no valor de um salário mínimo (998 reais), a quem recebe até
1.364,43 de reais por mês. Com a derrota no Senado, ficam valendo as
regras atuais, que garantem o repasse a quem ganha até dois salários
mínimos.
A mudança no abono era considerada essencial pela área econômica, não
apenas pelo impacto substancial, mas porque a política criada na década
de 1970 é considerada disfuncional e desfocalizada. O benefício é pago a
quem tem carteira assinada e recebe até dois salários mínimos,
independentemente da renda familiar, e não contempla trabalhadores
informais.
O secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da
Economia, Rogério Marinho, acompanhou toda a votação de dentro do
plenário e lamentou a derrota. Ele admitiu que o governo precisará se
reorganizar para as próximas batalhas no Congresso. “Na hora que você
tem uma derrota é evidente que alguma coisa não está certa. O governo
certamente terá o tempo necessário para se debruçar sobre o problema e
tentar corrigi-lo”, disse.
Próximas votações
O Senado ainda pode promover alterações no texto da reforma da
Previdência que drenariam mais de 200 bilhões de reais adicionais da
economia esperada com a proposta em uma década.
Com a derrota, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP),
encerrou a sessão e prometeu retomá-la nesta quarta, às 11h. Ainda
restam seis destaques em separado para serem apreciados.
O PT tenta retirar da reforma as mudanças nas regras para pensão por
morte, que passa a conceder 50% do salário de benefício mais dez pontos
porcentuais por dependente. As mudanças na regra da pensão devem ter
impacto próximo de R$ 100 bilhões em dez anos.
O Podemos propôs um destaque da reforma sobre as regras de transição e
o pagamento de pedágio para aposentadoria de quem já está no mercado de
trabalho. O impacto da mudança seria uma desidratação superior a 109
bilhões de reais.
Outras mudanças ainda podem ter impacto, como a proposta da Rede de
retirar a regra de cálculo proposta pelo governo, pelo qual o valor de
aposentadoria começa em 60% da média de salários de contribuição aos 15
anos de serviço, no caso de mulheres, e 20 anos, no caso de homens. O
acréscimo é de dois pontos porcentuais por ano adicional, até o limite
de 100%. A reforma mantém a garantia de pagamento de ao menos um salário
mínimo (hoje em 998 reais).
O PDT, por sua vez, quer que as mulheres que se aposentam por idade
(geralmente as de menor renda e que ficam menos tempo no mercado formal)
possam continuar pedindo o benefício aos 60 anos, como é hoje. A
proposta eleva gradualmente essa idade para 62 anos.
O plenário já retirou da proposta o item que daria autonomia a
Estados e municípios para criarem alíquotas extraordinárias na
contribuição de servidores públicos. A emenda havia sido incluída pelo
relator, Tasso Jereissati (PSDB-CE), mas enfrentou resistência do
próprio governo porque poderia ser considerada mudança de conteúdo,
levando o texto novamente à Câmara dos Deputados. Na dúvida, o líder do
MDB no Senado, Eduardo Braga (AM), apresentou o destaque que restituiu o
texto já aprovado pelos deputados.
O PT tentou manter as regras atuais para aposentadoria de
trabalhadores que atuam em atividades expostas a agentes nocivos
químicos, físicos e biológicos, como é o caso de mineradores. Mas o
texto do relator, que fixa idades mínimas para essas categorias, foi
mantido pelo Senado. Há outro destaque do PROS que pretende suprimir a
fixação de uma idade mínima para esses trabalhadores.
Já o MDB pretende reincluir a possibilidade de cobrar alíquota
previdenciária sobre os benefícios de anistiados políticos, item
aprovado na Câmara e retirado do texto pelo relator. A reinclusão
devolveria uma economia de R$ 1 bilhão à reforma.
O Podemos chegou a apresentar um destaque para reverter a proibição a
municípios para criar regimes próprios de Previdência, mas a proposta
acabou deflagrando uma polêmica no plenário e acabou sendo retirada. Os
prefeitos querem derrubar a proibição aprovada na Câmara e devem se
mobilizar por isso na tramitação da chamada PEC paralela da Previdência.
(Com Estadão Conteúdo)
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