REUNIÃO MINISTERIAL
Presidente Jair Bolsonaro fala à imprensa no Palácio da Alvorada - Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Brasília - Imagens da reunião ministerial do dia 22 de abril de 2020
foram divulgadas na sexta, 22, pelo ministro Celso de Mello, e mostram
cobranças enfáticas do presidente da República em relação a seus
ministros. O vídeo é considerado peça chave do inquérito que investiga
se houve, como alega o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, tentativa do
presidente de interferir politicamente na Polícia Federal.
O
Estadão convidou juristas para analisarem o que Bolsonaro disse na
reunião. Entre ameaças, ofensas e palavrões, as imagens mostram o chefe
do Executivo cobrando mudanças no governo e fazendo pressão sobre Moro e
os demais auxiliares sob a alegação de que não vai esperar "foder a
minha família toda".
"Mas é a putaria o tempo todo pra me
atingir, mexendo com a minha família. Já tentei trocar gente da
segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso
acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou
amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da
linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar,
troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E
ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira", disse Bolsonaro.
Vera Chemim, advogada constitucionalista e mestre em direito público administrativo pela FGV
"A
gravação demanda uma investigação muito criteriosa para que se possa
afirmar com absoluta segurança sobre a questão sensível da suposta
'interferência política' do presidente nos diferentes órgãos do serviço
de informação e da Polícia Federal. Torna-se indispensável e
extremamente relevante do ponto de vista político-institucional (no caso
de comprovação de crime de responsabilidade) ou penal (na hipótese de
cometimento de infração penal comum) que se apurem todos os meios de
provas no sentido de se poder ratificar aquelas 'falas' do presidente.
Ao
fazer a leitura da reunião, surgiram 'dúvidas razoáveis' sobre o
verdadeiro direcionamento das expressões sobre a 'necessidade de obter
informações', como por exemplo, ao criticar o serviço de informações
porque não tinha o acesso suficiente para detectar pessoas de esquerda
que estariam ainda trabalhando nos diversos ministérios e que precisaria
saber acerca dessa questão.
Por outro lado, em outra fala, o
presidente faz alusões ao fato de que um irmão seu teria sido agredido e
nesse contexto ele acrescenta que trocaria todos os cargos necessários
para dar segurança à família e amigos que estariam sendo perseguidos.
Essa fala é a mais evidente e que realmente adquire maior potencial para
remeter às supostas interferências de natureza política, tanto nos
Ministérios, quanto nos órgãos do serviço de informação e nesse caso, na
própria Polícia Federal, o que caracterizaria 'desvio de finalidade' do
ponto de vista jurídico-administrativo, desembocando inevitavelmente
num crime de responsabilidade.
Contudo, seria de fundamental
importância que os diferentes contextos em que estão inseridas as suas
intervenções pudessem ser correta e seguramente interpretadas por
técnicos de órgãos especializados, como a própria Polícia Federal. Nessa
direção, o inquérito em andamento no STF terá que apurar os fatos e se
ancorar em outros instrumentos que possam comprovar de fato e de direito
o cometimento ao que tudo indica, de um crime de responsabilidade.
Dessa forma, a busca e apreensão do celular do Presidente amparada
constitucionalmente constituiria de fato, um meio de prova capital para
essa questão."
Conrado Gontijo, criminalista, doutor em direito penal e econômico pela USP
O
vídeo divulgado pelo Ministro Celso de Mello causa perplexidade, porque
demonstra que os ocupantes dos mais altos cargos do Poder Executivo da
União desconhecem valores básicos da democracia e se valem de linguajar
absolutamente chulo para se expressar sobre temas essenciais de
interesse da nação.
Ademais, há manifestações claras de
desconhecimento do real significado de democracia, inclusive, com
ataques inaceitáveis ao Supremo Tribunal Federal. Entretanto, tendo lido
o laudo com as transcrições das conversas, não identifiquei tão
claramente que o ex-Ministro Sérgio Moro tenha sido pressionado a
realizar a troca do comando da Polícia Federal, especificamente para
favorecer familiares de Bolsonaro em investigações em andamento
O
Presidente manifesta, sim, desejo de interferir no trabalho de diversos
órgãos e na obtenção de informações oriundas da Polícia Federal, mas
não é possível presumir que o tenha feito para prejudicar trabalhos de
investigação. A impressão que tenho é a de que a reunião, isoladamente,
não confirma as acusações de Sérgio Moro em face do Presidente."
(Por:Estadão Conteúdo)
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