REUNIÃO
Audiência pública promovida pelo Ministério Público Federal (MPF)
A audiência pública promovida pelo Ministério Público Federal (MPF)
na terça-feira, 26, sobre a ocupação das praias de Tibau do Sul,
resultou na estipulação de prazos para que a prefeitura local tome as
medidas iniciais com vistas a regulamentar a ocupação de praias como
Pipa, Madeiro, do Amor, entre outras. Essas medidas incluem
cadastramento dos barraqueiros (em 30 dias), assinatura do termo de
adesão à gestão das praias e revitalização do comitê gestor da Orla,
dentro de 60 dias.
Mais de 150 pessoas lotaram plenário, galeria e
corredores da Câmara Municipal de Tibau do Sul e acompanharam os
debates presididos pela procuradora da República Clarisier Azevedo e que
contou com a participação de associações locais, além do promotor de
Justiça Sidharta John Batista; do prefeito Antônio Modesto; do diretor
geral do Instituto de Desenvolvimento e Meio Ambiente (Idema/RN),
Rondinelle Silva; da procuradora do Estado Marjorie Madruga; do
representante da Secretaria do Patrimônio da União (SPU), Neilor
Barbosa; e de vereadores.
A representante do MPF lembrou que a
praia é de uso de todos e não pode ser submetida a uma “privatização por
parte de alguns”. Ela esclareceu que o interesse já demonstrado pelo
Município de aderir ao termo de gestão das praias não isentará a
Prefeitura de respeitar todas as exigências legais, inclusive as que
preveem diversos estudos para o licenciamento de qualquer intervenção na
área.
Clarisier Azevedo acrescentou que as possíveis barracas a
serem previstas no futuro projeto de urbanização só poderão ser
concedidas através de licitação. “E se unir em associações é a melhor
forma de vocês, atuais barraqueiros, se tornarem mais competitivos nessa
futura licitação”, alertou.
Mudanças – Ana Marcelina Teixeira, do
Idema, apresentou imagens comprovando a ampliação do número de barracas
nas praias de Tibau do Sul nos últimos 20 anos. Já Francisco Igor
Aires, da SPU, mostrou os resultados da última fiscalização realizada na
área – consequência de uma recomendação do próprio MPF – e que resultou
na aplicação de R$ 236 mil em multas e em 53 autos de infração, além de
10 desocupações.
Jussara Mariano, do Grupo Salva Vidas, clamou
aos gestores por uma saída viável para o problema e pela participação da
sociedade civil na busca por soluções. “Se depender só da gestão
pública, não vai funcionar”, resumiu. Pedro Vicente Júnior, do
EducaPipa, também reforçou a importância da participação popular e
lamentou o enfraquecimento dos conselhos, como o do Projeto Orla,
cobrando que a presidência deles não fique atrelada aos mandatos dos
prefeitos, “se não a cada quatro anos muda a gestão e aí muda toda a
política e voltamos à estaca zero”.
Barraqueiros – Os donos e
empregados das barracas reconheceram a situação de ilegalidade em que
atuam e listaram os prejuízos de não contarem com qualquer segurança
jurídica. “A ilegalidade não é boa para ninguém. Você toda hora fica
olhando pra cima da falésia pra ver se vem alguém lhe tirar dali”,
enfatizou Cristiano Silvestre, da Praia do Amor.
Patrícia Severo,
da associação dos barraqueiros da mesma praia, lamentou o temor
constante que a categoria tem das fiscalizações e disse que todos
defendem a urbanização, mas questionou como será feita e lembrou que a
estrutura já é elogiada pelos turistas. Esse argumento foi reforçado por
Fabiani Miotti, da Praia do Madeiro, que destacou a geração de empregos
diretos e indiretos e detalhou medidas de proteção ambiental que já vêm
sendo tomadas.
Carine Medeiros, da Praia do Amor, lembrou da
necessidade de se garantir recursos e financiamentos para que os
barraqueiros possam investir nas melhorias que vierem a ser exigidas
pelo projeto de urbanização ou mesmo concorrer na licitação. O advogado
Andreo Macedo declarou que os donos de barracas estão dispostos a ceder
em muitos pontos, desde que tenham garantia de poder continuar ganhando o
sustento de suas famílias.
Posicionamentos – O diretor do Idema
defendeu a construção de uma solução conjunta para o problema e a
participação popular no modelo de gestão das praias, mas advertiu que
nenhuma saíra irá “agradar 100%”. A procuradora Marjorie Madruga
preveniu que o número e tamanho das barracas a serem admitidas em uma
futura urbanização terá de levar em conta a capacidade de suporte das
praias e todas variantes ambientais, como as falésias e a desova das
tartarugas marinhas.
O prefeito Antônio Modesto, por sua vez,
reafirmou o interesse de assinar o termo de gestão das praias e disse
que o projeto de urbanização ainda é “apenas uma ideia”. Ele defendeu o
interesse dos barraqueiros em buscar uma segurança jurídica e destacou
os benefícios que o ordenamento trará para o município. A presidente da
Câmara, Célia Carneiro, e os vereadores Antônio Henrique e Josué
“Mourinha” defenderam o direito de os barraqueiros trabalharem, mas
reconhecendo que a atividade precisa ser exercida de forma sustentável
para o turismo e para o meio ambiente.
O promotor Sidharta Batista
frisou que os problemas hoje existentes nasceram da omissão do poder
público, que não agiu preventivamente para ordenar a ocupação das
praias, e que a solução não pode se dar de forma politizada. “Pipa
cresceu torta por causa dos gestores, não podemos permitir que as praias
também cresçam tortas. Não é possível se pensar, em termos de meio
ambiente, que sempre cabe mais um”.
Para o MPF – diante do
cadastramento das atuais barracas – deve ser adotada a “tolerância zero”
com a instalação de novos empreendimentos. “Quem vier montar barraca
nas praias a partir de agora terá ajuizado contra si imediatamente ação
civil pública e ação criminal”, alertou a procuradora. Clarisier Azevedo
explicou ainda que somente após a assinatura do termo de gestão e da
revitalização do comitê gestor do Projeto Orla novos passos poderão ser
analisados.
(AgoraRN)
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