Ricardo Teixeira teria desviado recursos da CBF - Divulgação
Espanha - Em um esquema que movimentou 26 milhões de euros e que envolveu até mesmo o ex-secretário-geral da Fifa, o francês Jérôme Valcke, Ricardo Teixeira desviou recursos da CBF. A acusação faz parte da decisão da Justiça da Espanha de processar o ex-presidente do Barcelona, Sandro Rosell, por ter organizado um "emaranhado" de contas e empresas de fachada para lavar o dinheiro.
Documentos do processo obtidos pelo jornal 'O Estado de
S.Paulo' apontam que uma organização criminosa "procedeu em ocultar as
quantidades ilicitamente desviadas por Ricardo Terra Teixeira". Ele
teria se utilizado de dois mecanismos para realizar a operação. O
primeiro se refere "à venda por parte de Teixeira, representando a CBF,
dos direitos da seleção de futebol de seu país, a uma empresa mercantil
árabe com sede nas Ilhas Caiman".
A operação contra Sandro Rosell eclodiu em maio de
2017, levando o catalão para a prisão por envolvimento no esquema
milionário com Ricardo Teixeira e até Jérôme Valcke. As investigações na
Espanha tiveram início depois que a reportagem revelou com
exclusividade como os cartolas tinham criado um sistema para desviar
recursos da seleção brasileira, por meio de uma série de empresas de
fachada.
De acordo com a Justiça espanhola, Ricardo Teixeira
teria desviado 8,5 milhões de euros, além de outros 6,5 milhões por
Sandro Rosell, "em prejuízo da CBF". "Para dar aparência de legalidade à
cobrança desse dinheiro, os investigados levaram a cabo uma série de
contratos de fachada", disse o documento.
Com um emaranhado de empresas, um mecanismo foi criado
para transferir "para as contas de Teixeira" ou de testas de ferro. O
documento aponta para uma série de transferências para contas
relacionadas com o brasileiro. Em uma delas, ele recebeu 1,1 milhão de
euros e, em outra, 460 mil euros.
A outra forma de desvio seria o "contrato de
patrocinado assinado pela CBF com a marca esportiva Nike, com
intervenção da sociedade de Rosell, denominada Alianto". De acordo com a
Justiça espanhola, a Ailanto se apresentou como "intermediária de
negociações entre a CBF e a Nike, em 2008".
Segundo as investigações, houve um encerramento do
contrato entre a Nike e a CBF em 2011. Nele, foi estabelecido um
pagamento de US$ 26 milhões. A suspeita, porém, se refere a um valor de
12 milhões de euros que foram destinados para Sandro Rosell, na condição
de intermediário. O catalão confirmou que recebeu o valor e que usou
parte dele para "devolver" um empréstimo que havia obtido com Ricardo
Teixeira, de 5 milhões de euros.
Mas a Justiça espanhola concluiu que a sua alegação
sobre o pagamento "não se ajusta à realidade", já que o dinheiro
acabaria em uma conta cujo beneficiário final "é o próprio Teixeira" ou
até mesmo Jérôme Valcke. O francês foi um dos principais aliados do
cartola brasileiro na Fifa e organizou, anos depois, a Copa do Mundo, em
2014.
"De todo isso se deduz que os cinco milhões que
aparentemente Teixeira emprestou para Rosell estava relacionado com os
supostos ingressos ilícitos obtidos por Teixeira e canalizados através
de Rosell e Pedro Ramos, a benefícios de todos eles, principalmente de
Teixeira e, neste caso também de Jérôme Valcke", apontou o documento.
A Justiça espanhola não dá detalhes dos valores
transferidos para Jérôme Valcke e nem para onde teria ido esse dinheiro.
Sandro Rosell continua preso na Espanha, enquanto que o francês está
sendo investigado na França e na Espanha. No Brasil, porém, o Ministério
Público Federal (MPF) ainda não agiu em relação a Ricardo Teixeira,
ainda que houvesse um pedido de captura internacional emitido em maio de
2017.
(por Estadão Conteúdo)
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