EUA
Qualquer coisa: Maxine Waters usa a tática de dizer tudo o que tem na cabeça (Mike Segar/Reuters)
Por que “os americanos” estão tão raivosos?
A economia está bombando,
resultando em 51% de aprovação a Donald Trump nessa área. Pela média das
pesquisas, 40,3% acham que o país está no rumo certo, um progresso
enorme em relação a 2014, quando este indicador afundava em 16%.
Nada espantosos 79% dos americanos
querem fronteiras seguras, ao contrário da política de portas abertas
pregada pela esquerda. Mas nada espantosos 56% não acham “correta” a
política de separar filhos de pais que são flagrados ao tentar entrar
clandestinamente no país e submetidos a processo legal.
A prática foi acelerada por Trump.
Diante da repercussão negativa, ele recuou e suspendeu a separação – que
vigorou durante os oito anos do governo Obama, sem grandes chiliques.
O dólar está forte (com consequências
negativas que passam por Brasil, Argentina, Irã e outras economia
frágeis). Corruptos condenados não estão sendo soltos pelas mais altas e
repulsivas instâncias jurídicas. A criminalidade continua a diminuir.
Nos estados onde vigora a pena de
morte, ela continua a ser aplicada, depois de todos os recursos. Um
desses é a Flórida, como devem saber muito bem todos os brasileiros lá
radicados.
Quem assina as execuções, depois de
anos e até décadas de recursos, é Pam Bondi, a procuradora-geral ou
secretária da Justiça, um cargo que nos Estados Unidos é eletivo.
Desde que assumiu o cargo, em 2011,
foram 26 execuções. Desses, 16 haviam assassinado mulheres. Os demais,
eram condenados por homicídio de policiais e funcionários do sistema
prisional e até serial killers, casos mais raros apesar do destaque.
Pam Bondi, portanto, não é de tremer.
Enfrentou com calma impressionante as agressões de um grupo que a cercou
quando ia ao cinema com o namorado. “Um chegou a cuspir no meu cabelo”,
contou.
Como sabia que o objetivo era provocar
uma reação agressiva, também conseguiu controlar o namorado, provocado
com desafios do tipo “Ei, olhos azuis, não vai fazer nada?”.
Também foi muito controlada a reação
da secretária de Imprensa de Trump, Sarah Huckabee Sanders quando a
sócia de um restaurante na cidade de Lexington, perto de Washington, a
chamou para uma conversa e disse que ela não seria servida.
A dona do Red Hen, Stephanie
Wilkinson, disse que foi chamada por um garçon, avisando sobre o grupo
de sete pessoas na mesa de Sarah na maioria parentes pelo lado do
marido.
Fez uma “votação” entre a equipe, que
tem “muitos gays”, e decidiu pela expulsão do grupo por causa da decisão
do governo Trump de não permitir transexuais nas Forças Armadas.
Sarah e família se retiraram. O pai
dela, Michael Huckabee, um conhecido pastor evangélico, disse que os
contra-parentes foram a um restaurante em frente, onde Stephanie os
seguiu, incitando outras pessoas a protestar e exigir que fossem embora.
Um membro da família do marido de
Sarah chegou a sair e dizer “Eu não gosto de Donald Trump; mas o que
vocês estão fazendo é contraproducente”.
Obviamente, não adiantou nada.
Stephanie Wilkinson virou celebridade entre “os americanos”, a ala,
democrata ou de outras filiações, mais à esquerda que entrou em surto
com o caso da separação de famílias e não pretende sair dele, mesmo
depois da suspensão da prática.
Outros membros do governo Trump
obrigados a deixar restaurantes, além de ter protestos em frente suas
casas, são Stephen Miller, assessor político e redator de discursos de
Trump, e Kirstjen Nielsen, secretária da Segurança Interior.
Ambos xingados de “ladrões de
criancinhas” e, claro, nazistas. Chamar qualquer pessoas que tenha
alguma relação com o governo Trump de fascista e nazista, inclusive
judeus, é praticamente obrigatório num mundo em que o uso absurdo dessas
palavras reproduz ao pé da letra a situação retratada por George Orwell
no ensaio “O que é o Fascismo” .
(Vale a pena ler Orwell, sempre.
Especialmente o ensaio escrito em 1944, quando o fascismo original
vigorava, mas também eram assim qualificadas as seguintes categorias
enumeradas pelo escritor: conservadores, socialistas, comunistas,
trotsquistas, católicos, militantes contra a guerra, militantes a favor
da guerra, nacionalistas.)
As manifestações de protesto contra
membros do governo Trump lembram as ocorridas no Brasil contra a casta
corrupta na aparência, mas não na essência.
Não existem ladrões do dinheiro público envolvidos, exceto, embora não tenha sido comprovado, no lado oposto.
A deputada democrata Maxine Waters,
que incitou esse tipo de protesto, foi exonerada de três acusações no
conselho de ética da Câmara por promover reuniões entre autoridades do
governo e um banco precisando de dinheiro, sem revelar que seu marido
era acionista do banco.
O pagamento de 710 mil dólares ao
longo de várias campanhas legislativas, para uma empresa de mailing da
filha dela, Karen Waters, foi comprovada, mas não configurou crime.
Maxine vive pedindo o impeachment de
Trump em termos que lembram os pronunciamentos da senadora petista
Fátima Bezerra. O estilo oratório é mais parecido com o da deputada
Jandira Feghali.
Depois dos episódios envolvendo Sarah
Sanders e Kirstjen Neilsen, Maxine Waters disse que qualquer pessoas que
visse alguma pessoa do governo Trump “num restaurante, numa loja de
departamentos, num posto de gasolina” deveria “convocar uma multidão” e
fazer com que não sejam recebidos “nunca mais, em nenhum lugar”.
Isso é incitação à violência ou exercício do sagrado direito à livre expressão?
Quem nunca sentiu vontade de vaiar um
canalha comprovado arrogantemente embarcado na primeira classe? Um
corrupto que quebra o país e vai a um restaurante de luxo?
Manifestações de repúdio, espontâneas
ou organizadas, são diferentes da incitação implícita nas palavras de
uma deputada, regida por um código de conduta pública.
Mais ainda diante de um trágico
precedente recente, escandalosamente “esquecido” pela imprensa
antitrumpista: o ataque a tiros contra um grupo de políticos
republicanos durante um treino de beisebol há apenas um ano.
“Deveríamos ter cuidado com o modo
como discutimos nossas diferenças. Ninguém deveria incitar atos de
violência ou assédio”, disse Steve Scalise, o deputado republicano que
só escapou da morte, com órgãos abdominais destroçados e ossos
estilhaçados por uma bala de fuzil, porque um colega presente foi médico
no Afeganistão.
Os antitrumpistas dizem que o próprio
presidente levou o debate político a níveis nunca vistos – embora as
respostas sejam infinitamente mais agressivas do que qualquer coisa que
Trump jamais tenha dito.
Sobre o caso de Sarah Sanders, ele
ainda fez comentários de quem é do ramo da hotelaria: o Red Hen está mal
cuidado e deveria pintar toldos, portas, janelas e paredes.
Ser trolado por Trump é um inferno.
Ainda mais quando ele tem razão: o restaurante de Stephanie Wilkinson
não lembra em nada um ambiente bem cuidado pela operosa galinha ruiva da
história infantil.
Muitos do campo simpático a ela
compararam o caso com o do dono de uma confeitaria que foi processado
por não fazer um bolo de casamento para um casal gay.
A história é a seguinte: o confeiteiro
ofereceu qualquer bolo de seu estabelecimento, mas não quis escrever a
frase pedida pelos clientes, alegando ser contra o casamento gay por
motivo religioso.
Disse que faria o mesmo em caso de um
bolo para o Halloween, uma festa de origem pagã, embora poucas crianças
loucas por um “treat or trick” levem em conta a tradição celta.
Foi arruinado, mas ganhou o processo na justiça.
O caso de Sarah Sanders tem um aspecto
diferente: ser chamado a se retirar de um lugar público implica numa
humilhação ostensiva.
Ainda lembra, ironicamente, os casos
de negros da região norte dos Estados Unidos que iam a estados do sul e
não podiam se hospedar em hotéis onde vigorava a discriminação racial,
mesmo depois do fim das chamadas “leis de Jim Crow” – referência a um
personagem fictício ofensivo aos negros.
Muitos gênios do jazz, que viviam na estrada dando shows, passaram por esta horrível humilhação.
O passado de escravidão e
discriminação, com tudo o que teve de hediondo, de alguma maneira
protege Maxine Waters de um escrutínio mais exigente e garante suas
manifestações, por mais absurdas que sejam.
É diferentes combater injustiças,
antigas ou atuais, com os métodos honrados de tantos líderes negros.
Quem parte do campo da superioridade moral já começa ganhando.
(Por
Vilma Gryzinski/Mundialista)
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